- Eu consegui um trabalho! – ela sorria alegre enquanto ocupava o seu lugar à mesa do café da manhã – e parece que é uma campanha grande!
- Que bom, Lis! – Remus pousou sua xícara de café sobre o pires e a observou se servir apenas de chá e de uma fatia de fruta.
- Eu já estava ficando preocupada que esse tempo todo afastada de Londres fosse me atrapalhar, mas o Dex disse que eles amaram meu portfólio e... – ela hesitou um pouco ao notar que uma sobrancelha do namorado se erguera – você não se importa que eu vá, se importa?
(Por Deus, ela se empolgara tanto com a ideia de sair daquela cidadezinha infernal que sequer considerara o que aquilo significaria para seu plano de reatar de uma vez por todas com Remus.)
- Claro que não, Lis... É só que... É estranho ver você falando do Dexter assim. Não o vejo desde o acidente – ele deu de ombros – Mas, então, a campanha é grande, uh?
Por mais que ele quisesse se interessar pelas informações sobre a grande marca de roupas que queria contratá-la, Remus se perdeu mais uma vez nos próprios pensamentos – como era tão comum ultimamente.
Dexter Greenfield tinha sido um grande amigo – irmão da primeira namorada que Remus teve na faculdade, a amizade entre eles durou mesmo após o término e mesmo com as gritantes diferenças entre os dois. Dexter adorava uma boa festa e não era de se prender a uma única mulher, razões pelas quais ninguém estranhou quando ele enveredou pelo negócio de agenciar modelos. Durante os anos que antecederam ao acidente, Remus realmente achou que poderia confiar sua vida a Dexter – mas, então, ele estava preso a uma cadeira de rodas e, assim como vários outros “amigos”, Greenfield desaparecera.
- ...você pode me levar à rodoviária hoje à tarde? – a voz de Elisa cortou seus pensamentos e Remus assentiu com um sorriso forçado.
- Claro!
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- Tem certeza de que você não pode ir comigo? – Elisa perguntou, pela terceira vez, enquanto Remus a levava até a rodoviária.
- Tenho, Lis – Remus acabara de estacionar o carro, e a encarava, sério, uma das mãos sobre o volante e a outra descansando em cima da marcha – eu preciso resolver o problema do pub, ou a gente vai ficar fechado por mais tempo que o necessário.
Elisa suspirou e pousou a mão sobre a dele.
- E se você fosse de vez?
Ele franziu o cenho e piscou algumas vezes, em dúvida.
- Rem, você é talentoso demais para se esconder em Godric’s Hollow. Você podia estar trabalhando nos melhores restaurantes em Londres. Você podia ter o seu próprio restaurante! As pessoas saberiam quem você é apenas pelo seu nome, Rem.
- Eu tenho um restaurante, Lis – Remus respondeu, ligeiramente ofendido.
- Você tem uma cozinha – ela corrigiu – em um pub de quinta categoria numa cidadezinha no meio do nada.
Remus puxou ar para respondê-la, mas o choque com a forma como Elisa pensava sobre o Irish o calou.
- Além disso – ela continuou, sem se importar com a expressão dele – seria muito mais fácil se morássemos em Londres. Eu não sei até quando esse esquema de ir e vir vai funcionar para a minha carreira, Rem...
- Uhumn – ele fez um barulho de compreensão e fitou o vazio à sua frente, incapaz de encará-la.
- Meu ônibus tá quase saindo, mas... promete que vai pensar nisso? Por mim? – Elisa pediu dengosamente e Remus, mais uma vez, apenas acenou com a cabeça – Obrigada, Rem.
Com um beijinho na bochecha dele, ela saiu do carro arrastando sua mala de rodinhas, sem se importar de olhar para trás.
Remus a observou desaparecer por entre os demais passageiros e suspirou antes de bater a chave na ignição.
Voltar para Londres não era uma possibilidade.
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- Sr. Lupin – a fisioterapeuta dele lhe chamou, mais tarde naquele mesmo dia – o senhor tem progredido muito no seu tratamento! Mais rapidamente que qualquer outro paciente de que eu já tive notícias.
Remus sorriu, ansioso, e mais uma vez mexeu os dedos dos pés.
- Talvez o senhor devesse marcar outra revisão em Londres. Acredito que ainda há chances de melhora.
Remus saiu da clínica de fisioterapia exultante. Se pudesse pular de alegria, com certeza o teria feito. Estava funcionando! Finalmente, depois de todo aquele tempo, o prognóstico favorável dos médicos estava se cumprindo – e antes das metas estabelecidas!
Assim que se viu sozinho, ele puxou o celular do bolso, e os dedos agilmente procuraram por um contato específico em sua agenda. Ele precisava dar aquela notícia a ela.
***
Na praia, Tin e Wren tentavam emplacar a partida de frescobol mais desengonçada de toda a história, enquanto Sirius e Lexie conversavam sentados na areia. Distraídos, nenhum dos dois percebeu que o celular de Tin – largado na canga ao lado de Lexie – tocava.