Aquele em que Ted volta no tempo.

Ted se esforçara para não se atrasar aquela noite – primeiro porque Astronomia era sua matéria mais estimada e segundo porque ele não queria ficar desgastando sua desculpa de ser novato toda vez.

Quando notou a ausência de Greengrass ele logo se conformou que teria que fazer o trabalho daquela noite sozinho – não que a presença da Sonserina fosse fazer alguma diferença, uma vez que ele apostava que ela iria negar qualquer ajuda dele na tarefa.

Três minutos após o início da aula, Imogen entrou na sala e o professor Armstrong logo caiu em cima dela. Ted revirou os olhos quando viu o sorriso amarelo dela. Aquela garota ia meter os pés pelas mãos, ele podia apostar.


- Professor, me desculpe – ele se intrometeu – Eu esqueci de avisá-lo que a Srta. Greengrass precisou passar na Ala Hospitalar antes de vir pra cá. - ele pousou os olhos castanhos nela, implorando para que ela ficasse calada, só daquela vez. - Creio que esteja melhor das cólicas, Greengrass?

E então ele jogou as mãos para trás e cruzou os dedos, torcendo para a garota entrar na dele.

Regulus se levantou, um risinho seco ecoando por sob a respiração, e se aproximou alguns passos da menina. McDonald era praticamente transparente em suas emoções e ele sabia que ela havia se assustado com a frase dele.

Os olhos arregalados e a fala incerta só confirmavam a leitura do rapaz, e foi impossível conter o sorriso que curvava o canto dos lábios dele.

- Essa na verdade é uma ótima proposta, McDonald. Comece pelo trabalho de poções. Uma coruja entregará o restante no fim do dia.

Não que Regulus achasse que a grifinória fosse melhor que ele em algo, mas se pudesse evitar o trabalho... Por que não?

Mas, é claro, ele não podia confiar plenamente nas habilidades da menina. Em vez de levar as lições de casa que ele precisava completar, a coruja da noite seguinte levou um comando muito simples:


Não era do feitio de Regulus correr o risco de estragar sua boa reputação com o prof. Slughorn.

Eram 18:55 quando Mary terminou a redação sobre a poção do Morto-Vivo que fizera para Regulus Black – logo no primeiro parágrafo ela já se arrependia de ter se envolvido naquilo. Daria o maior trabalhão pra fazer as lições dele mais as dela... mas ela não podia voltar atrás, pelo menos não enquanto a mão dele estivesse machucada por causa dela.
 
Ela saiu correndo da biblioteca e alcançou a sala 40-b minutos depois ofegante e um pouco suada. Regulus já estava lá, sentado no encosto da janela.
 

Mary despejou todo o conteúdo de sua mochila em cima de uma das mesas e puxou um pergaminho, entregando-o a ele.

Enquanto o rapaz passava os olhos pela caligrafia desleixada dela, Mary começou a ficar nervosa com o silêncio que se instalara entre eles.

- Você vai precisar mudar a caligrafia...tem um feitiço pra isso, acho que a Lily - e aqui ela pigarreou - a Evans conhece qual é...eu nunca fui muito boa com esses feitiços mundanos.

Quando Ted começou a falar, Imogen arregalou os olhos. Merlin, se aquele pivete...

A expressão no rosto do prof. Armstrong imediatamente se suavizou, e ele encarou a menina (decerto sem imaginar que o novato teria motivos para mentir) com curiosidade:

- você está melhor?

Imogen precisou se esforçar para não sorrir demais, e bateu os cílios de um modo que ela sabia ser infalivelmente adorável .

- Bem melhor, professor. Obrigada - encolhendo os ombros e franzindo o nariz, ela continuou - desculpe pelo atraso. Foi inevitável...

De todos os alunos que Dave Armstrong tinha, Imogen Greengrass era a mais ardilosa. A garota utilizava de todos os seus artifícios para parecer educada e bondosa, mas mentia como ninguém. Depois de pegá-la no flagra algumas vezes, o professor de Astronomia aprendera a desconfiar de tudo o que ela dizia. Mas havia sido um outro aluno a corroborar a história dela, então ele não podia imaginar que não havia verdade nas palavras deles. Além disso, Smith parecia um bom aluno.

- Ok. Você pode assistir a aula. Mas, mais um desses e você servirá detenção, sim?

A menina acedeu e se dirigiu ao seu lugar, ao lado do telescópio que dividiria com Ted.

- Obrigada por me dar cobertura - ela sussurrou, quando a voz do professor voltou a encher a torre de astronomia, e, enquanto prendia os longos cachos ruivos em um rabo de cavalo, sorriu para o garoto de cabelos azuis, o primeiro sorriso verdadeiro que ela dispensava em dias.

Regulus levantou o olhar do pergaminho - surpreendentemente, estava tudo correto - e encarou a menina ruiva à sua frente. Mais uma vez, ela parecia nevorsa: era quase como se estivesse se segurando para não começar a tagarelar ininterruptamente.


- você se surpreenderia como esse feitiços... Mundanos, como você diz, são exrtremamente úteis.

Caminhando até uma mesa próxima, ele pouso o pergaminho que ela lhe entregava, e tirou um papelete com palavras aleatórias do próprio bolso.

- observe como se faz, sim?

Tocando no pergaminho com a caligrafia dele e, depois, no pergaminho dela, ele falou o feitiço correto. As letras no trabalho de poções se embaralharam por alguns segundos, antes de se reorganizarem na caligrafia pequena e precisa de Regulus.


- como os trouxas fariam isso? - ele se viu perguntando, antes mesmo de se dar conta das palavras que diziam.

Sua mãe talvez estivesse certa quando afirmasse que o maior defeito de Regulus era a curiosidade.

Antes que Ted pudesse abrir a boca para dizer à Imogen que ela lhe devia uma, a garota o agradeceu e ele sentiu a voz ficar presa na garganta com o sorriso que ela dirigiu a ele.


Pela primeira vez desde que chegara ali ele se dava conta do quão bonita ela era e aquela pequena epifania fez suas orelhas esquentarem.

- De nada - ele se limitou a dizer, tentando soar o mais casual possível.

Os dois começaram a trabalhar em silêncio e Ted aproveitou que ela tinha se apossado do telescópio para espiá-la melhor. Os longos cabelos dela estavam presos, deixando o pescoço branco - e aparentemente macio- dela à mostra. Os lábios dela, naturalmente rosados e cheios, formavam um biquinho enquanto a garota se esforçava para se concentrar e Ted finalmente entendeu o que o Tio Ron quis dizer com a frase "as garotas tem um feitiço próprio, Ted". À época ele não tinha dado a mínima para aquele conselho, mas agora...

Os lábios de Imogen se moveram formando uma frase e Ted demorou pra se tocar que ela estava falando com ele:

- Ahn...o que você falou? - o tom de voz dele era apologético.

- Nós provavelmente tiraríamos uma fotocópia – Mary se pegou respondendo à pergunta de Black, achando graça na curiosidade dele. – É como tirar uma foto, mas só que do papel. – ela explicou, gesticulando com as mãos.

Ela olhou para o pergaminho nas mãos dele – agora com a letra caprichada do rapaz  - e pigarreou.


- Bom...então agora que tá tudo certo... – ela começou a juntar as coisas que havia espalhado na mesa e as jogou de volta na mochila. Seu estômago estava praticamente se colando de tanta fome e ela só queria correr para o Salão Principal para jantar.

Jogando a alça da mochila por sob um dos ombros, ela acenou com a cabeça para o rapaz e girou nos calcanhares, mas antes que pudesse se afastar, sentiu um puxão na mochila.

Olhou para Regulus, confusa. O que mais ele poderia querer?

Regulus tirou o lenço de linho do bolso com movimentos lentos, enquanto observava McDonald juntar seus pertences. Por Salazar, a menina definitivamente era uma bagunça.

Ele esperou para ver se ela percebia por conta própria, mas como a menina já ia saindo, ele a puxou pela alça da mochila.

Mais uma vez, os olhos verdes espantados o encararam de volta, e ele reprimiu um risinho. Começava a achar aquela reação uma característica interessante da grifinória.

Erguendo as mãos agilmente, ele esfregou o ponto da bochecha dela em que uma gota de tinta tentava se misturar às sardas rosadas, enquanto a segurava pelo queixo.

O padrão das manchinas se repetia em tons de verde nas íris de McDonald, e, por uma fração de segundo, Regulus se distraiu.

Pigarreando e dando um passo para trás, ele tirou do bolso a lista de exercícios daquele dia, e esticou para ela.

- Não se esqueça do nosso acordo, McDonald. E da próxima vez, tome mais cuidado para não se sujar com o tinteiro. Você fica parecendo uma criança que invadiu o escritório do pai.

Enfiando as mãos nos bolsos, Regulus desviou dela e partiu em direção ao salão comunal da sonserina, uma ruguinha em sua testa enquanto a pergunta "por que eu fiz aquilo" ecoava em sua mente.

Regulus tirou o lenço de linho do bolso com movimentos lentos, enquanto observava McDonald juntar seus pertences. Por Salazar, a menina definitivamente era uma bagunça.

Ele esperou para ver se ela percebia por conta própria, mas como a menina já ia saindo, ele a puxou pela alça da mochila.

Mais uma vez, os olhos verdes espantados o encararam de volta, e ele reprimiu um risinho. Começava a achar aquela reação uma característica interessante da grifinória.

Erguendo as mãos agilmente, ele esfregou o ponto da bochecha dela em que uma gota de tinta tentava se misturar às sardas rosadas, enquanto a segurava pelo queixo.

O padrão das manchinas se repetia em tons de verde nas íris de McDonald, e, por uma fração de segundo, Regulus se distraiu.

Pigarreando e dando um passo para trás, ele tirou do bolso a lista de exercícios daquele dia, e esticou para ela.

- Não se esqueça do nosso acordo, McDonald. E da próxima vez, tome mais cuidado para não se sujar com o tinteiro. Você fica parecendo uma criança que invadiu o escritório do pai.

Enfiando as mãos nos bolsos, Regulus desviou dela e partiu em direção ao salão comunal da sonserina, uma ruguinha em sua testa enquanto a pergunta "por que eu fiz aquilo" ecoava em sua mente.

Mary sentiu o rosto arder quando Regulus segurou o queixo dela para limpar a sua bochecha e ficou tão estupefata com aquele gesto que não conseguiu ter reação alguma além de encará-lo, os olhos arregalados.

Ela pegou a lista de exercícios ainda em choque e nem ligou pra provocação dele. De quem ele achava que era a culpa por ela estar naquele estado? (Bem, tinha sido tudo culpa dela, mas...)

Ela foi para o Salão Principal e ao sentar-se à mesa, as amigas logo notaram que havia algo errado.
 
- Você está bem, McD? - Lily perguntou ao notar que o rosto dela estava vermelho.

- Tô. Só...vim correndo pra cá. - ela se abanou e evitando olhar para a mesa em frente á da Grifinória, se serviu de suco.

___

Era sexta-feira à noite e Mary, para sua total infelicidade, estava enfiada na biblioteca fazendo a lição de Feitiços de Regulus Black. Ela parou de escrever - por Morgana, ela odiava escrever com penas... - e escorregou na cadeira. Estava tão cansada...tinha passado a semana dormindo tarde fazendo os próprios trabalhos e como os professores não estavam aliviando nem pro pessoal do 6o ano ela não tinha como tirar seus cochilos diurnos...

A ruiva sabia que se não chegasse para Black e lhe dissesse "já chega" o rapaz jamais pararia de importuná-la. Ele parecia se divertir com toda aquela situação e ela só queria que aquilo tudo chegasse ao fim pra poder seguir sua vida.

Mas o negócio é que ela tinha medo de enfrentá-lo, afinal ele era muito mais jeitoso com feitiços do que ela e além do mais, o peso na sua consciência não permitiria que ela fizesse aquilo.

Suspirando, ela inclinou o corpo para frente e encostou a cabeça no pergaminho, fechando os olhos em seguida.

Queria descansar só um pouquinho...

- Você sabe diferenciar Marte de Vênus? Eu não sei qual dos dois estou vendo... - Imogen fez uma caretinha meio sem jeito.

Todos aqueles anos fugindo das aulas de astronomia podiam até terem sido divertidos, mas tinham sido muito pouco úteis para momentos como aquele.

Ted se mostrou um ótimo parceiro de trabalho, por incrível que parecesse, e Merlin, aquele garoto realmente entendia dos astros.

Como estava agradecida pelo ato dele, ela se absteve dos comentários ferinos, e tentou tratá-lo tão bem quanto poderia tratar um lufano.

A aula transcorreu tranquilamente. O único problema foi quando os alunos deixavam a torre de Astronomia.

Ao se aproximar das "amigas", Imogen foi bombardeada com uma pergunta que, de tão mal intencionada, equivaleu a um verdadeiro interrogatório:

- por que o lufano sabia da sua cólica?

Imogen encarou Narcisa Black em silêncio por um instante. Apesar de aparentemente inocente, Greengrass conseguia enxergar todas as nuances que Black tentava esconder.


- eu não estou menstruada, Cissy. Se eu não compartilho esse tipo de intimidade com você, imagina com um garoto novato.

A loira mexeu nos cabelos e deu de ombros, fingindo-se de interessada.

- é só que vocês pareciam se dar bem durante a aula, talvez tivessem ficado amigos... A gente sabe como você preferr ser amiga dos meninos.

Imogen sorriu mecanimente, controlando-se para não mandar Narcisa pastar.

- Não precisa se preocupar com a minha reputação, Cissy. O Lucius já te pediu em noivado, eu não sou mais uma ameaça...

Antes que Black pudesse respondê-la, uma das outras meninas se fez ouvir:

- ah, mas até que o novato é bonitinho, Im...

Narcisa e Imogen viraram-se ao mesmo tempo para encarar Ella Bulstrode, uma sonserina que não tinha a menor noção de nada na vida.

- claro, Ella... - Imogen revirou os olhos, e se virou novamente para Narcisa - mande lembranças ao Lucius, sim, Cissy?

Apressando o passo, ela saiu na frente das "amigas".




***


Ella Bulstrode parecia não ser a única a achar Ted Smith bonitinho. Por toda a semana, quando seus caminhos cruzavam com o dele, era comum ouvir menininhas cochichando e dando risinhos na direção dele. Por Salazar, o que ela tinha feito para merecer presenciar aquele tipo de castigo?


E por que diabos ele estava vindo em sua direção?

Ted, é claro, não estava alheio às olhadas que as meninas lhe davam, mas ele atribuía os cutucões e risadinhas à sua aparência excêntrica. 

Mas ele já estava acostumado com aquele tipo de coisa - seu cabelo azul-turquesa chamava atenção mesmo em 2014 (bem menos que em 1976, é claro,mas ainda assim...). Na verdade, o fato dele ser metamorfomago era o que surpreendia a todos, mas ele estava se cuidando para não trocar a cor dos cabelos ou o formato do nariz ali no passado. Ele já era considerado esquisitão demais...

Ele andava pelo corredor de Hogwarts naquela manhã ignorando as olhadelas e quando Imogen Greengrass adentrou seu campo de visão ele se lembrou que precisava falar com ela sobre o trabalho de Astronomia que precisavam fazer.

Caminhou até a garota e cumprimentou a amiga dela com um aceno de cabeça:

- Greengrass. Você fez sua parte no trabalho de Astronomia? - eles tinham combinado de dividir as tarefas, mas pelo pouco que testemunhara na aula, Imogen precisaria de um empurrãozinho. Ela odiava Astronomia.

Ter McDonald como sua ghostwriter tinha seus benefícios: Regulus passara a última semana inteira sem precisar se preocupar com prazos ou com assuntos maçantes. Em compensação, como estava impedido de voar e com Imogen e os demais ocupados com as próprias tarefas, ele se viu diante de um sentimento já ha muito conhecido: O Tédio.



Não havia nada que ele pudesse fazer nesse sentido: tentara jogar snaps explosivins, tentara reler o profeta diário do dia, tentara até mesmo um daqueles livros idiotas que as meninas largavam pelo Salão Comunal, mas NADA parecia surtir efeito.



Foi com aquele sentimento de que não tinha mais nada para fazer que Regulus marchou até a biblioteca, disposto a procurar algum livro sobre feitiços que lhe desse algo para fazer no tempo livre.



Como sempre acontecia às sextas à noite, a biblioteca de Hogwarts estava quase vazia. O lugar era povoado apenas pela bibliotecária e por um punhado de alunos - tão poucos que seria possível contá-los em apenas uma mão.



Em uma mesa do canto, escondida por diversas prateleiras, uma profusão de cabelos vermelhos sobre a mesa chamou a atenção dele. Embora ele pudesse pensar em Imogen (em um mau dia, a amiga provavelmente poderia ser descoberta tirando cochilos inapropriados) aquela cena era errada em tantos níveis que ele teve certeza de que se tratava de uma ruiva específica.



Tendo a confirmação ao se aproximar, ele alcançou a pena, largada ao lado da mão da menina, e a usou para fazer cócegas no nariz de McDonald.

- Theodore.



Imogen retribuiu o aceno, sem se importar em ser simpática com o rapaz. Já bastavam os rumores iniciados por Narcisa, ela não precisava que mais ninguém pensasse que ela estava confraternizando com aquele garoto esquisito.



- Astronomia. - Ela repetiu a disciplina que ele mencionara e franziu os cenhos, fingindo que pensava no assunto - Astronomia... não, acho que não.



A garota estava acostumada a ter tudo do jeito que sempre quis, e não era agora que mudaria o seu comportamento.



- é, não vai acontecer de eu perder meu tempo fazendo um trabalho para o insuportável do Armstrong, sabe como é, Theodore. - ela forjou um dar de ombros meio simpático - mas eu te vejo na aula de amanhã?

Mary sentiu algo roçar em seu nariz, mas só depois de alguns segundos de volta à consciência é que ela abriu os olhos.  A primeira coisa que viu foi a pena que usara sendo esfregada em seu rosto. 


Ela ergueu a cabeça, se desvencilhando daquele ataque de cócegas e encarou a pessoa ao seu lado, tentando reconhecer quem era. Estava sem óculos e tudo o que via era um borrão preto e alto (o fato de a biblioteca estar pouco iluminada também não a ajudava em nada)

Ela tateou a mesa a procura dos óculos, mas não os encontrou.

Tateou os cabelos, e nada. (às vezes ela tinha a mania de colocá-los ali).

Só quando ela escutou a risada grave é que juntou os pontos de quem era.

- Black.

Ted segurou Imogen pela alça da mochila, impedindo que a ruiva se afastasse dele. Há! Ele não iria permitir que ela saísse daquilo ilesa...se eles tinham feito uma promessa, ela iria cumpri-la. Ele se recusava a fazer a parte dela daquele trabalho, pois além dos deveres (que eram muitos) ele também tinha que estudar sobre viagem no tempo para poder consertar a meleca que havia feito.

- É Ted. – ele explicou sob o olhar ultrajado dela – E nós combinamos de dividir o trabalho, Greengrass.

Antes que ela pudesse protestar, ele aproximou o rosto do dela e falou baixinho:


- Você me deve uma, Sra. da cólica.

Ele a encarou com firmeza, tentando não se distrair com o cheiro do shampoo dela.

Regulus até tentou controlar a risada, mas não conseguiu. Assim que viu McDonald tateando a mesa desesperadamente, o impulso o venceu e ele se pegou rindo tanto que sacudia os ombros.



- Só falta acertar qual Black, McD- ele usou o apelido que os amigos usavam com ela de forma proposital, e voltou a rir - Você não enxerga um palmo sem esses óculos, sim?



Abrindo a mão boa, ele acenou a apenas alguns centímetros do rosto dela.



- O que acontece se você nunca mais encontrar os óculos?

Imogen estava prestes a usar uma de suas piadinhas sarcásticas, mas a proximidade de Ted a deixou desconcertada. Nenhum garoto havia ficado tão perto dela, e havia um tom autoritário na voz dele que definitivamente a deixou sem palavras.



Ela sentiu as orelhas queimarem de vergonha e piscou algumas vezes, antes de conseguir respondê-lo.



- okay... - a voz dela saiu bem mais baixa que o habitual e, com um movimento do ombro, ela se livrou das mãos dele.



Os olhos verdes vagaram rapidamente pelos colegas que passavam - alguns analisavam a cena - e Imogen se sentiu corar, pela primeira vez realmente envergonhada por algo que tivesse feito no castelo.



- Eu preciso de ajuda - a voz da menina era tão baixa que ele mal podia ouvi-la - eu não sei fazer a minha parte.



Imogen encarava o chão à sua frente. Merlin, o que havia de errado com ela?

- Black, me devolve os óculos – ela disse, afastando a mão dele da frente de seu rosto e tentando ignorar o tom de zombaria na voz dele. Ela não era tão cega assim...ainda conseguia enxergar as formas aqui e ali, obrigada. E qual era a graça naquilo, afinal?

Ela respirou fundo e olhou para ele.


- Se eu nunca mais encontrá-los não vou poder fazer os seus deveres. – será que com aquela desculpa ele a deixaria em paz.

O vulto de Black pareceu mexer em algo no bolso e minutos depois o rapaz estendia o objeto que ela tanto queria em sua direção. Antes que ela pudesse alcançar os óculos, no entanto, ele os tirou de seu caminho.

Mary quis bater o pé no chão de frustração.

Ted ficou surpreso com a reação de Imogen – era impressão dele ou ela estava envergonhada? Ela era tão impetuosa que ele não acreditava que ela fosse capaz de sentir algo tão mundano como vergonha.
 
Mas pelo modo como o rosto dela havia ficado vermelho ela era tão normal quanto ele, reles mortal.
 
Ele quase não conseguiu escutar o pedido de ajuda dela, de tão baixinho que ela falara, mas abriu um sorriso quando entendeu o que ela quis dizer:
 

- Eu posso ajudar. Vou terminar minha parte hoje na biblioteca. Nós podemos fazer antes de ir pra aula...acho que dá tempo.

Ele passou a mão pelo cabelo e deu de ombros:

- Se você não se atrasar, claro.

- Você precisa aprender a se comportar como uma mocinha, McDonald. Eu quero um por favor, e, logo depois, um obrigada.

O sorriso no rosto de Regulus era proporcional ao biquinho de frustração dela, e cada ruguinha na testa da menina denotavam o seu esforço em enxergar algo.

Por um instante, o pensamento de que ela não ficava tão esquisita assim cruzou a sua mente, mas ele o rebateu com mais uma dose do seu cinismo.

- Mocinhas também não dormem em qualquer lugar em que encostam, McDonald. Você já devia saber disso a uma altura dessas.

Mais uma vez, ele esticou os óculos para ela, desta vez com a intenção real de devolvê-los.

- Da próxima vez, não derrube todo o tinteiro nos seus trabalhos, sim? - ele apontou para um ponto da mesa, onde o tinteiro havia virado e manchado a maior parte dos pergaminhos em que Mary trabalhara naquela noite.

- Talvez seja melhor você descansar direito à noite, McD - e, com uma piscadela, ele a deixou sozinha novamente.



Não estava com o livro de feitiços, mas, ao menos, tinha investido bem o seu tempo.





O primeiro jogo da temporada de quadribol era naquele sábado e, mesmo sendo apenas um jogo amistoso para aquecer as equipes, Regulus estava imensamente chateado de não poder jogar. Embora já não tivesse mais nenhuma marca que indicasse o corte em sua mão, ainda precisava de umas boas doses de poção cicatrizante para que tivesse pleno domínio da mão machucada.E aquilo significada nada de vôos até segunda ordem.

Aproveitando o dia tranquilo, ele se deitou em um dos bancos do jardim, a cabeça apoiada nos braços, e a mente divagando enquanto ele sentia o calorzinho gostoso do sol da manhã.

Imogen apenas confirmou com a cabeça antes de se afastar de Ted, demorando ainda alguns passos para retomar a postura altiva e o nariz empinando de sempre.

(Por Salazar, ter que pedir ajuda a um lufano... que situação embaraçosa).





Quando Ted chegou à biblioteca, Imogen já estava sentada ali há algum tempo. Os cabelos, molhados, apenas começavam a secar (ela teria usado um feitiço, mas gostava mais de como eles secavam naturalmente), e ela lia um livro de história da magia, os lábios unidos em um biquinho pelo esforço para se concentrar.

Antes mesmo que o rapaz pudesse encostar a própria mochila no tampo da mesa, ela se pôs de pé, a alça da bolsa devisamente encaixada em seu ombro.

- Vamos? - ela perguntou e, sob o olhar de dúvida dele, apenas revirou os olhos.

Será que tinha que explicar tudo para ele? Os olhos verdes correram ao redor, encontrando algumas gravatas verde e prata por ali, bem como reconhecendo algumas cabeças fofoqueiras. Se alguém soubesse que ela estava sendo ajudada por um lufano, ela estava morta

- Eu não vou fazer isso aqui. Tem lugares muito mais tranquilos que a gente pode usar.

Mary saiu para os jardins depois de ser dispensada pelas amigas - as traíras queriam assistir ao jogo amistoso de Quadribol e como não era um jogo para valer ela decidiu ficar para trás e fazer as lições que ainda estavam pendentes.

O dia estava tão bonito que ela decidiu trocar a biblioteca empoeirada pelos jardins. Sentou-se embaixo de uma árvore e puxou um bolo de pergaminhos da mochila. Antes que ela pudesse se organizar, no entanto, uma brisa passou pelo jardim e os pápeis voaram de sua mão.


Soltando um palavrão, a jovem se levantou num pulo e correu atrás da sua redação sobre a poção Veritaserum. Demorou alguns segundos para juntar toda a sua bagunça e antes de se virar para voltar para debaixo da árvore em que estivera antes ela notou uma figura deitada em um dos vários bancos espalhados pelo gramado.

Regulus Black parecia cochilar e Mary sorriu para si mesma.

Era chegada a hora da vingança.

Puxando a pena que prendera nos cabelos, ela se aproximou do jeito mais silencioso que pôde do rapaz e se preparou para fazer cócegas no nariz dele - como ele havia feito com ela noites atrás.

Claro que Black era menos dorminhoco que ela e segundos depois dela ter iniciado a brincadeira, uma das mãos pálidas dele se fechou sob o pulso dela.

Ah, meleca de Trasgo!

Ted seguiu o olhar de Imogen pela biblioteca e as várias pessoas vestindo gravatas verde-e-prata ali perto o fizeram entender o recado: Greengrass não queria ser vista com ele, o esquisitão novato.


Soltando um suspiro – Merlin, às vezes era difícil para ele se lembrar como as coisas em 1976 eram diferentes. Um exemplo disso era que naquele tempo, as rixas entre as Casas de Hogwarts eram coisa séria (só naqueles 30 dias que ele estivera ali ele testemunhara vários alunos de casas diferentes brigando e se provocando, a maioria Grifinória-Sonserina). No pós-guerra a rivalidade entre as casas se limitava apenas ao campo acadêmico e ao Quadribol e todos eram livres para andarem com quem bem queriam.

- Fique à vontade, princesa - ele fez uma reverência exagerada e deixou a garota ir na frente, andando alguns passos atrás dela só para despistar os possíveis fofoqueiros de plantão.

Os dois foram parar numa sala de aula vazia e sentaram-se à mesa do professor, que era bem mais espaçosa.

- Tá frio e escuro aqui... - Ted resmungou e com um aceno de sua varinha, acenou algumas tochas e a lareira. - Bem melhor.

Ele olhou para a garota ao seu lado:

- Então...mãos à obra, Greengrass? Qual é a sua dificuldade?

Regulus abriu os olhos no mesmo instante em que sua mão se fechou sob os pulsos finos de Mary e, com um sorriso provocador, ele deu um puxão no braço da menina, fazendo com que ela ficasse a apenas alguns centímetros de distância dele.

- Draco Dormiens Nunquan Titillandus, McDonald. Você já deveria saber disso...