Aquele em que Ted volta no tempo.

O ar se esvaiu dos pulmões de Imogen no mesmo instante em que uma corrente elétrica percorreu seu corpo. Ela decididamente não esperava que ele fosse fazer aquilo.

“Eu também posso entrar no seu jogo, Imogene.”

A voz rouca de Ted trouxe de volta nela o sorriso de canto de boca. Ele soava... sexy. Quem diria! Ele podia dizer que ele estava falando algo, pelo modo como os lábios dele se mexiam, mas ela não conseguia ouvir uma única palavra.

“...planos do Armstron—“

A mão, antes apoiada na nuca do rapaz, escorregara para o colarinho da sua camiseta, e, antes que Imogen pudesse medir as consequências do que fazia, puxou-o para mais perto, colando os lábios em um beijo intenso e cheio de vontade.

Mary já tinha perdido a sensibilidade na mão há muito tempo de tanto Regulus a apertar, porém ela não conseguiu se afastar dele nem por um um minuto uma vez que estava preocupada com o sono do rapaz – ele parecia estar tendo um pesadelo e estava tão inquieto que ela se perguntava se devia acordá-lo.

Quando Regulus gritou seu nome (era a primeira vez que ele a chamava de Mary) ela se aproximou da cama mais uma vez, ainda preocupada (e curiosa pra saber o conteúdo do sonho dele. Devia ser algo realmente assustador pelo modo como ele vinha se debatendo na cama e murmurando).

- Eu tô bem - a mão dela, no entanto... - E você?

Ele estava mais pálido que o normal e a respiração ainda estava ofegante:

- Pesadelo? Você quer que eu chame a Madame Pomfrey?

Ela se virou para se afastar da maca, mas sentiu um puxão no próprio robe.

Ted não hesitou em corresponder ao beijo – agora que ele e Imogen compartilhavam aquele momento tão íntimo ele finalmente caiu na real de que se sentia deveras atraído pela garota e bem...às favas, certo?
 
Os dois se beijaram fervorosamente por alguns segundos até que ele escutou vozes se aproximando do esconderijo improvisado deles.
 
Como se um balde de gelo tivesse sido jogado em cima deles, o rapaz quebrou o contato físico com Imogen e a segurou pelos ombros, os lábios inchados e cabelos de um tom vermelho vivo:
 
- Er... Acho que isso não estava na caixinha do Armstrong, eh? – ele sorriu de leve e colocou um livro nas mãos da garota no exato momento em que um grupo de primeiranistas entrava no corredor da biblioteca.
 

O tempo que os calouros ficaram por perto procurando os livros que precisavam foi o suficiente para Ted se acalmar (e os cabelos dele se tornarem a cor azul de sempre). Os pequeninos foram embora e Imogen continuou com o rosto escondido...ele sorriu e puxando o objeto das mãos dela a puxou para um novo beijo.

As sobrancelhas de Regulus se uniram em um pedido silencioso para que a garota não o deixasse sozinho. Parecia irracional, mas o sonho tinha sido tão vívido que ele temia que, assim que ela atravessasse as cortinas que separavam sua maca das restantes, aquelas criaturas começassem a persegui-la.

Mas aquilo era ridículo – ele não podia continuar implorando a McDonald para lhe fazer companhia. A garota já tinha sido bondosa demais ficando ali pelo tempo em que ele adormecera.

- Eu... Obrigado. Por ficar. – ele ensaiou um sorriso enquanto a fitava nos olhos verdes, mas logo soltou as vestes da menina.

Por Salazar, ele se sentia constrangido por ter acordado de um pesadelo como se fosse uma criancinha medrosa.

Movendo-se lentamente, ele se pôs de pé.

- É melhor eu ir embora. Eu já estou melhor – ele mentiu para si mesmo e, com um aceno de cabeça, começou a se afastar da menina.

Foi a vez de Mary segurar Regulus pela manga do robe:

- Acho melhor você ficar, Black! – ela ajeitou os óculos que escorregaram para a ponta de seu nariz com a mão livre. –Você ainda precisa descansar mais um pouco.
Ela o puxou de volta para a cama sem dificuldade e o fato de conseguir só confirmava o quão fraco ele ainda estava.


- Eu vou pegar o seu jantar! – ela correu até a área onde Madame Pomfrey deixava as comidas para os pacientes que precisavam passar alguns dias ali e pegou uma das bandejas. - Pronto...! - ela colocou a bandeja flutuando na frente dele e depois do garoto comer, a curiosidade dela falou mais alto - Com o que você tava sonhando?

Ela entregou um guardanapo a ele e respirou fundo antes de perguntar o que mais a intrigava naquilo tudo:

- Eu tava no sonho? - não havia um pingo sequer de malícia na voz dela, apenas mera curiosidade.

Imogen enfiou a cara no livro o mais rápido que pode. Suas bochechas queimavam e os lábios com certeza deviam estar mais vermelhos que o habitual. Isso e a respiração meio ofegante dela denunciaram que Ted e ela estavam aos beijos.

E Merlin, que beijo! Ela não podia imaginar que o lufano fosse tão bom naquilo!

E o segundo beijo... O segundo beijo foi ainda melhor.

O chiado característico de Madame Pince pedindo silêncio ali por perto fez com que eles se separassem pela segunda vez. Imogen olhou para a ponta do corredor, certificando-se de que ainda estavam sozinhos, antes de voltar-se novamente para Ted.

- Eu amo o perigo tanto qualquer um... – ela sorriu, desviando o olhar rapidamente (Merlin, suas bochechas deviam estar da cor dos seus cabelos!) – mas acho que é melhor a gente ir para algum lugar mais... tranquilo.

A garota mordeu o lábio inferior, verdadeiramente ansiosa, na infinidade de tempo que demorou para que Ted concordasse com ela.

Os dois mal podiam conter a animação enquanto voltavam para mesa para pegar suas coisas. Imogen tentava pensar em algum lugar onde não corresse o risco de ser pegar no flagra – e, por Salazar, por que era tão difícil não ficar com aquele sorriso insistente no rosto?

- Hey, cunhadinha! – A voz de Sirius a despertou de seus planos (Torre do relógio? A sala vazia no quarto andar?).

Imogen ergueu o olhar, o caderno que ela estava prestes a guardar suspenso no ar.

- Perdida pela biblioteca, huh? Achei que você odiasse qualquer coisa maior que uma revista de fofoca. O Reg te obrigou a vir?

O sorriso se desmanchou lentamente, dando lugar às feições vazias de sempre.

- Não enche, Sirius.

Pelo canto do olho, a garota tentou observar a reação de Ted às palavras do Black mais velho. Maldita hora em que topara ajudar Regulus com aquela mentira.

Depois de jantar em silêncio – o calorzinho da sopa de abóbora fazendo com que ele se sentisse um pouco mais confortável – Regulus precisou lidar com a curiosidade de McDonald. Ele cogitou a hipótese de mentir, mas qual era o sentido naquilo?

Com um suspiro, ele apenas concordou com a cabeça.

- Dementadores, eu acho. Não dava pra saber direito – ele deu de ombros, se sentindo meio envergonhado por compartilhar aquilo.

Depois de espirrar em um lenço de papel, ele continuou:

- E tinha... essa risada maquiavélica. Muito parecido com a da minha mãe, a propósito – ele ensaiou um sorriso, sem se dar conta de que a garota jamais pousara os olhos em Walburga antes, de modo que jamais saberia do que ele estava falando.

Depois de empurrar a bandeja para um canto, ela a fitou novamente.

- Não é nada demais. Acontece sempre que eu adoeço.

Foi como se o ânimo de Ted fosse um balão e o comentário de Sirius um alfinete: à menção do nome do irmão mais novo dele, toda a empolgação de Ted pareceu murchar quando ele se lembrou de que Imogen era uma garota comprometida.



Como ele podia ter se esquecido daquilo?

Sentando-se à mesa, o lufano puxou os pergaminhos outrora esquecidos para perto de si e resumiu sua redação. Nem quando Black se afastou com ares divertidos ele ergueu os olhos de tão envergonhado que estava com a própria atitude.

Depois de um silêncio meio prolongado, ele ergueu os olhos para a ruiva:

- Acho melhor continuarmos as nossas tarefas, hn?

A vontade de Ted era de sair correndo dali, mas ele ainda tinha 10h ao lado de Imogen. Que torturante.

Mary nunca avistara Walburga ao longo de todos aqueles anos, mas os comentários sarcásticos de Sirius (do tipo “conto verdades através do humor”) acerca da mui nobre e antiga casa dos Black a fizeram ter uma visão nada boa da matriarca daquela família e por isso ela acreditou no comentário de Regulus.
 

Ele a respondera, mas ela ainda queria saber onde ela entrava naquela história toda. Por que ele gritara seu nome?

- Entendi. Pareceu bem assustador. - mas era melhor não insistir, ela decidiu. Vai que ele falasse algo que ela não quisesse escutar? E vai que o sonho dele fosse algum tipo de premonição?

Ela pegou a bandeja de volta e começou a tagarelar (para evitar de perguntar dele mais detalhes sobre o pesadelo):

- Eu quase não lembro dos meus sonhos - ela encolheu os ombros - No último que consigo me recordar eu explodi um caldeirão na cara do Slughorn... - e aqui ela parou para refletir - Espera, acho que isso aconteceu de verdade...

Imogen, que encarara Ted o tempo inteiro enquanto o menino continuava a escrever sua redação, apenas suspirou com o comentário dele.

Mas que merda! Sirius tinha que aparecer logo agora?

Abrindo o caderno novamente, ela começou a reler o seu trabalho, apenas para chegar ao final e perceber que não apreendera nada do que estava escrito ali. Merlin.

Esticando o olhar novamente até o rapaz, ela o observou com um peso na consciência. Ted era transparente demais, e era bem óbvio que ele se sentia mal por ter beijado uma pessoa comprometida.

Por Salazar, ele era bonzinho demais.

Em mais um impulso, ela tocou o braço dele, acariciando-o com o dedão.

- Eu ainda acho que a gente devia sair daqui, Ted – a voz da garota saiu baixinha e meio estrangulada, um efeito da culpa e da ansiedade misturados.

A risada de Regulus, meio rouca, ecoou pelo quarto. Tanto o comentário quanto o jeito de falar de Mary eram tão espontâneos que eram simplesmente divertidos demais.

- Eu saberia se isso tivesse acontecido – ele piscou para ela e se remexeu na cama, sentando-se direito, as costas apoiadas na cabeceira.

- Eu te observei durante as aulas. Você não é tão ruim quanto pensa.

A menina desequilibrou a bandeja, fazendo com que o copo que ele usara escorregasse para o chão. Usando os reflexos rápidos de apanhador, ele esticou a mão, ágil o suficiente para alcançá-lo.

- Só um pouco desastrada – ele riu sob a respiração, e esticou o copo de volta para ela.

Ted se sobressaltou com o toque de Imogen e a olhou de canto de olho:
 

- Er... – ele coçou a nuca. Não tinha para onde ele fugir, não é? Com um suspiro, ele se virou de frente para a garota – Acho que podemos ir até a cozinha?  Já já vai ser a hora do almoço... - a ideia dele soou mais como uma pergunta.

Ele sabia que a garota não gostaria de retornar para o Salão Principal - aonde os dois se sentariam na hora do almoço? Ted, por mais que não se importasse com os rótulos das casas, tinha certeza que não seria bem vindo à mesa da Sonserina e Imogen nunca toparia se sentar à mesa da Lufa lufa, então a melhor opção era ir até a cozinha, onde eles poderiam se alimentar em paz.

Ainda meio desajeitados - era meio difícil sincronizar o passo com aquela corda amarrada - os dois se dirigiram até o quarto andar, onde a cozinha ficava. Ted fez cócegas na pêra e o retrato que dava passagem ao cômodo se abriu e assim que os dois puseram os pés lá dentro vários dos elfos domésticos se adiantaram até eles, prontos para servi-los.

Ted se abaixou e ficou na altura da criaturinha mais próxima dele:

- Olá! Vocês podem nos servir um pouco de almoço, por favor? - ele sorriu, educado. Na época dele os elfos continuavam servindo os bruxos (por livre e espontânea vontade, diga-se de passagem), mas depois da batalha de Hogwarts as pessoas davam mais valor a eles (tia Mione, é claro, conseguira instituir alguns direitos para eles).

O elfo baixinho - Twinky - arregalou os olhos:

- Claro, rapaz do cabelo azul! - e saiu correndo para preparar um prato para eles.

A cozinha jamais teria sido a primeira ideia de Imogen, mas ela topou mesmo assim: qualquer lugar seria menos abafado que a Biblioteca, ela podia apostar.

A garota encarava as panelas fumegantes e os diversos elfos que corriam de um lado para o outro descascando batatas e cortando cenouras com certa curiosidade – era a primeira vez que ela entrava ali – mas o que mais chamou sua atenção foi o modo simpático com Ted tratara o elfo doméstico.

- Por que você está sendo tão gentil com eles? – ela arregalou os olhos, enquanto ele se erguia novamente – São só elfos, Ted. Você não precisa pedir por favor se a função deles é te servir.

Mary pegou o copo:


- Obrigada – ela agradeceu, o rosto vermelho de vergonha – E eu não tenho culpa se você sempre flagra os meus desastres  – ela se referiu a todas as coisas desajeitadas que ele havia testemunhado ela fazendo até aquele dia (a maioria tinha sido por culpa dele, claro. Ele a deixava nervosa)

Ela franziu a testa e o encarou enquanto ele ria (às custas dela, mas...)

- Você fica melhor com um sorriso, Black.  - ela fez uma careta ao escutar a própria voz falando aquilo. Arg. Quando ela ia criar um filtro? - Quero dizer...com um sorriso sincero. Você sempre parece tenso demais... 

Ela fez a bandeja flutuar até a copa.

- Você ia ter muito mais fãs se sorrisse assim o tempo todo.

De novo: filtro?

Ted franziu a testa. O comentário de Imogen o fez se lembrar de que ele estava numa época diferente.

Céus...ele nunca ia se acostumar com aquele choque de realidade.

- Eles também são seres vivos, Imogen – ele encolheu os ombros– E, bom, você não deve tratar mal a pessoa ou criatura que serve a comida, eh?

Ele se aproximou do ouvido dela e cochichou, como se confiasse um segredo:


- Vai que eles cospem no prato ou algo do tipo?

Twinky se aproximou equilibrando dois pratos nas mãos e os colocou na frente deles depois deles se sentarem numa pequena mesa que havia ali.

O prato de Ted estava com a maior porção. Ele sorriu e piscou para Imogen:

- Viu?

O estranhamento ao ouvir o elogio fez com que o sorriso no rosto de Regulus esmorecesse um pouquinho, mas ele logo ergueu as sobrancelhas, divertindo-se com as caretas que Mary fazia ao falar.

Era realmente difícil arrancar risadas sinceras dele. Talvez fosse efeito do excesso de xarope?

Ele ponderou as falas de McDonald com uns acenos de cabeça, até dar de ombros.

- Taí. Eu gosto quando você fala o que pensa, Mary!

Ele se espreguiçou distraidamente antes de continuar falando.

- E de como você fica quando está brava, também. Tem essa... ruguinha que aparecesse na sua testa...

 “Eu gosto quando você fala o que pensa, Mary”?

Mary não sabia o que dizer. Como assim Regulus Black gostava de algo que ela fazia? O que estava acontecendo ali?

E ele estava mesmo chamando-a de Mary?

(ela não sabia o porquê, mas foi aquele detalhe que fez seu coração acelerar um pouquinho)


- Er...certo – ela abaixou os olhos para os próprios pés, meio sem graça com os comentários dele. Tinha sido tudo tão súbito que ela se perguntava se o garoto ainda estava sob efeito do xarope.

O que ela devia dizer de volta?

- Eu usei a câmera nova que você me deu de presente - ela falou a primeira coisa que veio a sua mente só para quebrar o gelo - Ela é muito boa...! Mal vejo a hora de mandar as fotos pra casa...o meu pai adora a Lula Gigante. - ela ergueu os olhos, já menos envergonhada - Ele também gosta da Casa dos Gritos. Você já entrou lá? Acha que é mesmo mal assombrada?

Mesmo ele não tendo dito nada demais, a proximidade com que Ted cochichara em seu ouvido fez com que um arrepio cortasse o corpo dela – e o coração pulasse uma batida.

Merlin...

Ela se deu por vencida quando os pratos foram postos à mesa e, dando de ombros, agradeceu ao pequeno elfo doméstico, dispensando um sorriso educado.

A comida, como sempre, estava maravilhosa, mas o silêncio ainda reinava entre eles – ao menos, até o momento em que ela levantou o olhar e viu que ele sugara o cantinho da boca com o molho da carne. Sob um risinho divertido, ela se inclinou sobre a mesa, esticando o próprio guardanapo para limpá-lo. Somente quando já tinha feito aquilo é que ela percebeu como o ato tinha sido invasivo.

- Er, desculpe.

O olhar da menina se voltou para o próprio prato, e ela espalhou a comida de um lado para outro. Ela definitivamente precisava ser menos impulsiva. Se não tivesse começado aquela brincadeira idiota, eles não teriam se beijado e...

A lembrança do beijo fez com que ela corasse um pouco, mas logo o desejo de repetir aquela carícia foi substituído por uma curiosidade:

- Você nunca terminou o último desafio... – ela pigarreou antes de continuar – o do defeito...

- Eu aposto que a casa dos gritos é só uma lenda idiota. – ele sacudiu a cabeça meio preguiçosamente.
Regulus se distraiu por um instante, notando como a luz amarelada que entrava pela janela fazia com que diversos tons de vermelho se refletissem no rosto dela.

- Sua máquina tá aí? Posso dar uma olhada nela?

Mary mexeu na bolsa e entregou o equipamento a ele.

- Como faz para usar?

Ted entregava o prato vazio à Twinky, pensando qual sobremesa deveria escolher quando Imogen citou o desafio. Ele tinha mesmo que..?

- Bom, por onde começo? – ele quis rir quando viu Imogen arregalar os olhos, mas conseguiu manter a pose pensativa – Bom...você liga muito pro que os outros pensam de você. - ele esticou o braço e a cutucou na testa. -  ele sabia que aquele 'defeito' em particular não era culpa dela e sim da maneira como ela havia sido criada. Se ela não agisse como os outros queriam provavelmente seria punida. 

- E então... - ele apontou pra caixinha - Próximo desafio?

Mary pegou a máquina das mãos de Regulus:

- Você foca com a lente aqui – ela explicou pacientemente – E depois olha aqui pra enquadrar o que você quer fotografar.

Ela posicionou a máquina e tirou uma foto dele:

- Pronto!

Com um sorriso, ela entregou a máquina de volta a ele:


- Quer tentar?

Com um aceno de cabeça, Regulus encaixou o olho no visor, tentando focalizar como Mary ensinara. A luz de fim de tarde incidia suavemente sobre ela, criando uma aura acobreada ao seu redor e, ao mesmo tempo, realçando cada uma das sardinhas que coloriam seu rosto. O sorriso nos lábios rosados era tão honesto e tão contagiante que ele se viu também sorrindo, enquanto girava o anel da lente para um lado e para o outro.

Deu um pouco de trabalho, e, no final das contas, ele acabaria produzindo uma imagem suavemente embaçada da jovem à sua frente, mas assim que apertou o botão e abaixou lentamente a máquina, Regulus estava orgulhoso de si. Era a primeira vez que ele clicava algo, e a autoestima elevada do rapazinho lhe assegurava de que tinha se saído bem.

As íris cinzentas se esticaram do equipamento em suas mãos aos olhos verdes à sua frente e, pela primeira vez na vida, o nó na garganta dos caçula do Black lhe dizia uma completa novidade.

“Você é muito bonita, McDonald”. Regulus mordeu a língua antes de deixar que aquelas palavras ganhassem força o suficiente para serem ditas em voz alta, e, com um sorriso meio sem graça, esticou a câmera fotográfica de volta a ela, desviando o olhar como se a menina fosse capaz de ler seus pensamentos.

- Parece um hobbie interessante.

Antes que Mary pudesse continuar falando sobre fotografia, Madame Pomfrey se aproximou de Regulus para checar como o rapaz estava e a menina ficou do lado da maca observando tudo atentamente (teve que desviar o olhar, no entanto, quando Pomfrey abriu a camiseta do pijama dele para aferir os sinais vitais)

Depois de checar a temperatura dele por último, Pomfrey encarou o rapaz com um sorriso satisfeito:

- Sem febre. - e lançando um olhar à Mary, ela sorriu de uma maneira que fez a jovem franzir a testa - Parece que a companhia da srta. McDonald lhe fez muito bem, Sr. Black!

Mary sentiu o rosto ficar vermelho com aquela insinuação. 

- Er...eu não fiz nada de mais - ela se prontificou a dizer num tom defensivo.

Imogen encarou a caixinha pousada no meio da mesa, as sobrancelhas unidas em um sinal claro de incômodo pelo que Ted acabara de dizer. Era meio perturbador que o rapaz conseguisse lê-la daquele jeito.

Imogen sempre tentara manter a imagem de uma pessoa fria e independente, mas a verdade é que ela sempre reproduziu todos os medos que os pais incutiram em sua cabeça. Ela sempre se sentia deslocada no papel de futura dama da sociedade bruxa – aquilo simplesmente parecia errado! -, e morria de medo que alguém percebesse aquela fraqueza. Ser minimamente diferente significava uma desonra ao nome da família, uma decepção aos pais e a ameaça de viver como uma pária (ela lembrava bem do que tinha acontecido à irmã da Narcisa).

Se Ted a conhecia há tão pouco tempo, e, mesmo assim, era capaz de perceber aquilo, Imogen não queria nem imaginar o trabalho porco que estava fazendo com as pessoas que realmente se importavam com aquilo.

- Próximo desafio – ela disse, depois de respirar fundo, e ensaiou um sorriso – É a sua vez de sortear algo, Theodore. Melhor que seja algo divertido – retomando o ânimo provocador de mais cedo, ela soltou uma piscadinha para ele.

Ted puxou um papelzinho da caixa. Será que agora finalmente sortearia algo mais simples? 

- Realize um desejo do seu parceiro. - ughhhh...mas que diabos?

Ele amassou o papelzinho e o guardou no bolso, distraidamente:

- O que o Armstrong quer ganhar com isso? - ele passou a mão pelo cabelo e encarou a garota - Faça as honras, Imogene.