Aquele em que Ted volta no tempo.

Regulus sentiu o coração acelerar com o comentário da enfermeira, mas não se deu ao trabalho de falar nada – apenas a encarou com os olhos arregalados. Sua vontade era inquirir o que ela queria dizer com aquilo, questionar o verdadeiro teor da insinuação e indagar o que exatamente ela achava que McDonald e ele estavam fazendo ali, mas, em vez disso, ele apenas perguntou se estava dispensado.

- Claro, claro, querido! Mas volte assim que sentir alguma coisa, ok? – Sorrindo satisfeita, Madame Pomfrey se afastou para cuidar de um outro paciente.

Regulus se pôs de pé imediatamente.

- É melhor eu... – ele começou a falar em um fiapo de voz, mas parou e pigarreou antes de continuar – Eu preciso ir. Obrigado, McDonald. Eu... te vejo por aí.

Com um rápido aceno de cabeça, o rapaz saiu da enfermaria com seus passos rápidos.

Porque diabos ele estava tão nervoso na presença da menina?

***

Quando Black e McDonald se encontraram de novo, alguns dias depois na aula de poções, Regulus estava estranhamente disperso. Cortar um ingrediente errado até era ok, mas cortar um ingrediente errado (do modo errado), confundir tônico com Acônito e derrubar a colher de mexer o caldeirão não era nada habitual para o favorito de Horace Slughorn.

- Merda... – Regulus xingou sob a respiração, quando abaixava para pegar a faquinha que acabara de voar da da sua mão.

Mary se abaixou para pegar o objeto ao mesmo tempo que Regulus e uma vez com a cabeça embaixo da mesa (ou seja, longe dos olhares curiosos) ela decidiu perguntar:


- Cê tá bem? – tinha reparado no modo como ele estava agindo e bem...o rapaz parecia disperso. Não era do feitio dele ser tão desastrado daquele jeito em Poções (aquele era o papel dela, afinal). Será que estava doente de novo? - Você precisa ir pra enfermaria de novo?

Ela esticou a mão livre para checar a temperatura dele, mas o rapaz se desvencilhou do contato.

- Erm... - ela gaguejou e apenas o encarou esperando por uma resposta.

A careta de Ted despertou uma risada sonora em Imogen.

- Ora, Theodore – ela provocou, enquanto amarrava os cabelos em um nó no topo da cabeça – A maior parte dos garotos ficaria muito feliz se eu tivesse que realizar qualquer desejo deles, sabia? – um sorrisinho maldoso preencheu os lábios da menina logo antes de ela morder o lábio inferior e encará-lo.

- Eu ainda não sei o que eu quero de você. Que tal se a gente guardar essa tarefa para mais tarde? - ela posou a mão sobre a dele e, em tom de piada, recomeçou:

- Assim você pode pensar com toooda a calma do mundo o que quer que faça, ok?

- Eu tô ótimo! – Regulus respondeu, logo se levantando de vez e começando a polvilhar o pó de chifre de dragão em sua poção, compenetrado.

Merlin, por que ele estava tão nervoso?

Provavelmente, falta de sono. Ele vinha tendo os mesmos pesadelos do dia da enfermaria, e sempre acordava várias vezes por noite. Ele achou que confirmar com os próprios olhos que McDonald estava bem fosse ser o suficiente para espantar aquelas ideias, mas todos os dias ele a via sorrindo com as amigas no Salão Principal e, à noite, os sonhos se repetiam.

Mesmo a aula de poções – que ele acreditou que sanaria todo e qualquer “problema” relativo à garota – estava se tornando um desastre. Por alguma razão, ele estava se sentindo super ciente de si mesmo, e ainda mais ciente da presença de McDonald. O cheiro, os gestos, o cantarolar enquanto ela mexia a poção...

Por Salazar, suas mãos estavam suando!

- Eu comprei uma máquina – ele comentou casualmente, um pouquinho depois, enquanto mexia o líquido esverdeado em seu caldeirão.

Até mesmo Regulus estava ficando desconfortável com o silêncio entre eles dois.

- Mas tem alguma coisa errada com ela. As fotos sempre saem umas porcarias – dando de ombros, ele começou a envasar a poção para ser avaliado pelo professor – será que você pode dar uma olhada?

Depois do almoço, Ted e Imogen retornaram à biblioteca - um dos poucos lugares neutros do castelo - para retomarem os estudos, porém o lufano já estava sem motivação. O dia estava bonito demais para eles ficarem enfurnados ali, mas ele sabia que Imogen não toparia uma voltinha pelos jardins. Ele se contentou em deitar a cabeça em um pesado livro e se preparou para tirar um cochilo.


Merlin, ele só queria que aquele castigo acabasse.


(Na verdade ele queria voltar para casa. Estava com saudade da avó, dos amigos, de escutar música...)


As pálpebras dele foram ficando mais e mais pesadas....

-

Era o final da tarde e Ted estava agora parado do lado de fora do banheiro feminino esperando por Imogen (eles tinham feito um feitiço para que a corrente que os unia se esticasse assim eles não precisariam entrar no banheiro juntos)

Ted estava extremamente entediado, as horas pareciam não passar e ele só queria que aquilo terminasse para que ele pudesse seguir com sua vida.

O lufano se espreguiçou e para sua total alegria, Imogen saiu pela porta do banheiro. A ruiva fez uma careta quando uma aluna mais nova os encarou curiosa e o rapaz teve uma ideia.

- Hey, Imogene. Eu decidi o que quero que você faça. - ele sorriu já imaginando qual seria a reação dela quando ele contasse.

Um resmungo sonolento chamou a atenção de Imogen e, quando ela deu por si, estava observando Ted cochilar sobre os livros e papéis espalhados pelo lado dele da mesa. Os lábios finos que se curvavam em um biquinho volta e meia soltavam um muxoxo, e ela podia apostar que ele estava sonhando com algo.

Sem o risco de ser encarada de volta, ela deixou que seu olhar se prendesse nele por alguns minutos. As pintinhas em sua bochecha se uniam em uma constelação, os cílios longos roçavam a pele branca e os fios turquesa se espetavam para todos os lados. Um sorriso curvou os lábios bem pintados de Imogen. Só mesmo Ted seria capaz de pegar no sono tão facilmente.

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O pior daquele desafio não era perder o dia. É claro que ela preferia fazer qualquer outra coisa a ficar enfurnada na biblioteca, mas aquilo estava até sendo divertido – pelo menos até Sirius aparecer e matar o clima.

(Toda vez que pensava sobre os beijos que trocara com Ted, sentia as bochechas queimarem um pouquinho. Merlin, ela nunca ficara assim antes – mas também, nunca antes beijara ninguém às escondidas na biblioteca)

O pior daquele desafio eram as piadinhas e os olhares esquisitos a todo momento. Ela já estava começando a se sentir como uma criatura mágica exposta em uma exibição – e foi esse o motivo da careta que fez para a lufana baixinha que os encarou com curiosidade.

“Eu decidi o que quero que você faça.”

O ar divertido dele fez com que Imogen se animasse – já era hora de um pouco de animação. Com uma sobrancelha erguida, ela o fitou com expectativa.

- E então?

(Uma pequena parte dela torcia para que Ted agisse como um garoto qualquer na hora de escolher aquele desejo)

O ponteiro no relógio de ouro marcava trinta minutos para as cinco quando Regulus se levantou de sua poltrona no salão comunal da Sonserina, os dedos firmemente envoltos na mochila que escondia a sua máquina.

- Reg! - A voz estridente se fez ouvir e ele girou nos calcanhares, impacientemente fitando a prima. - Onde você pensa que vai?

Bellatrix Black afastou os cabelos do rosto com um movimento da cabeça, ao mesmo tempo em que empinava o seu queixo. Mesmo sentada, a morena exalava um ar de superioridade.

- Não sabia que eu lhe devia explicações, Bella.

Não costumava ser costume entre os Blacks adolescentes cuidar dos assuntos dos primos ou irmãos. Em uma espécie de pacto mudo, cada um dos herdeiros dedicava-se apenas aos próprios afazeres, de modo que jamais serviam de instrumento aos severos castigos de seus pais.

À exceção de Bellatrix.

Se, inconscientemente, Regulus já se sentia meio nervoso com o encontro marcado para aquele fim de tarde, a intromissão de sua prima foi apenas mais um motivo para que o garoto se sobressaltasse.

- Não deve, priminho – depois de colocar sua rainha em posição de cheque, ela se aproximou dele, encarando-o – mas nós temos um compromisso em apenas alguns minutos, não acredito que você vá querer se atrasar.

Demorou alguns minutos até que Regulus se lembrasse do compromisso que Bellatrix mencionava. Walburga lhe escrevera há algumas semanas, informando-lhe que sua presença havia sido previamente confirmada.

- Claro – ele respondeu, por fim, reprimindo um suspiro.

McDonald teria de ficar para depois.

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O grupo – cerca de dez alunos sonserinos, todos de famílias proeminentes e em sua grande maioria homens – se esgueirou até uma sala vazia nas masmorras, onde um dos setimanistas conduziu o encontro.

A cada palavra que o feio rapazote lia, um mal-estar se apoderava de forma crescente em Regulus. O pergaminho nas mãos calosas era um manifesto dos valores que a alta sociedade bruxa pregava – a supremacia dos nascidos bruxos, o perigo da diluição do sangue bruxo, a derrocada de toda sorte de poder por conta da miscigenação.

Aquelas eram palavras conhecidas – nada que Orion e Walburga jamais tivessem falado em casa -, mas havia um quê de raivoso nelas, um algo que Regulus só foi entender plenamente nas palavras finais, enquanto fiapos intangíveis saídos de uma varinha dançavam no meio da sala, conjurando imagens de perseguição e torturas.

- Precisamos acabar com esta vergonha. Precisamos livrar a sociedade bruxa desses sangues-ruins, um a um.

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Enquanto todos os colegas se dirigiam ao Salão Principal para o jantar, Regulus segurou o passo, ficando intencionalmente para trás. Havia uma certa pressão sobre seus ombros e um peso no ar que não o inspiravam nem um pouco a se rodear de colegas barulhentos e comilões. Antes que desse por si, seus pés o levaram até a beira do lago.

Ted segurou Imogen pelos ombros:

- Eu quero que você - e ele se demorou um pouco, só pra dar um ar de mistério à coisa toda - elogie um aluno aleatório da Lufa-lufa.

E ele soltou uma risada com a reação dela. Bingo!

Ele já tinha reparado que ali naquele tempo os lufanos eram....excluídos. E os alunos - principalmente os Sonserinos - adoravam fazer chacota da casa dos texugos. E Ted, como o bom lufano que era queria fazer justiça.

E é óbvio que aquilo serviria pra dar uma lição em Imogen, então ele apenas estaria unindo o útil ao agradável.

- Vamos lá?

Ele sabia que ela daria um jeito de se vingar, mas....valia o risco. Certo?

Mary franziu a testa ao receber como resposta o silêncio de Regulus e só então reparou nos ombros curvados do rapaz e em como o ar ao redor dele parecia pesado, como se alguma coisa tivesse acontecido.

- Você está bem? - ela perguntou, preocupada, obtendo apenas mais silêncio.

Ela se aproximou dele e encostou a mão na do rapaz, para chamar a atenção dele. 

- Black... - Merlin, a mão dele estava tão gelada! - Regulus. O que foi?

As íris verdes escanearam a contragosto o corredor em que estavam, e logo encontraram uma duplinha de lufanas caminhando em direção a eles. Revirando os olhos e bufando, ela murmurou um ameaçador “você me paga, Theodore” antes de afastar os cabelos do rosto com um movimento de cabeça, se empertigar toda e caminhar até as garotinhas portando o seu melhor sorriso falso.

- Olá, vocês... – Imogen cruzou os braços e encarou as duas meninas à sua frente.

Enquanto os risinhos abafados de Ted eram solenemente ignorados, um clima de estranhamento se instaurou: as lufanas assustadas com a proximidade de uma sonserina e Im completamente perdida em seu desafio.

- O-o-oi – uma das garotinhas gaguejou, fazendo com que Imogen respirasse fundo antes de continuar.

- Eu só queria dizer que eu gostei do seu... – os olhos verdes percorreram a menininha à procura de algo que pudesse ser elogiado, mas nada que a garota vestia a apetecia (o que não era de se surpreender, por Morgana, ela era uma lufana!) – sapatos. – ela disse, por fim – Eu só queria dizer que gostei dos seus sapatos.

Antes de esperar uma resposta, ela se virou para Ted.

- Satisfeito?

(Ao mesmo tempo, a garota que não foi elogiada sussurrou para a outra: “Não foi ela que quase jogou suco em você?)

Regulus foi arrancado dos próprios pensamentos, e precisou piscar algumas vezes até que a imagem preocupada de Mary McDonald se focasse.

“Regulus. O que foi?”

Franzindo a sobrancelha, ele sacudiu a cabeça como quem diz que não há nada. Ele não podia contar o teor daquela reunião para McDonald. Primeiro que aquela reunião havia sido feita sob juramento de segredo, segundo porque ele simplesmente não podia. Se algo daquilo fosse dito em voz alta, se tornaria ainda mais real do que realmente era, e esta era uma perspectiva sufocante, se não assustadora.

Como ela insistira, ele reafirmou verbalmente que “Não é nada, Mary”. Sua mão, no entanto, envolvera a dela em um aperto forte, tão intenso quanto o olhar que traía as suas próprias palavras.