Maraudering Years

Se Maeve pudesse resumir suas férias em uma palavra, a que ela escolheria seria “TÉDIO”. Desde que o verão começara, ela passava o tempo ou em casa ou no Beco Diagonal – e na maior parte das vezes, sua única companhia era a de Yaya, a elfa doméstica da família uma vez que as amigas –  Black e Greengrass  - estavam viajando (não que elas fossem passar algum tempo além de uma refeição juntas, mas...)
 
Naquele dia, no entanto, Regulus Black e ela combinaram de se encontrar no vilarejo do Beco Diagonal e ela, depois de colocar vestes mais apropriadas para o clima, usou o pó de flu para chegar até o local combinado pelos dois – a Florean Fortescue.
 
Regulus já estava esperando por ela em uma das mesinhas do local. A loira sorriu ao vê-lo, ao longe,  e depois de limpar a poeira das vestes, caminhou até o rapaz.
 
- Estou com calor só de olhar pra você – ela disse, ao se aproximar dele. Regulus ergueu os olhos do menu da sorveteria e lhe sorriu de volta.
 
Os dois serviram seus sorvetes e foram caminhar, aproveitando que o Sol não estava tão forte assim.
 
- O seu aniversário está chegando, hn, Mav? – Regulus comentou, casualmente – O que vai querer ganhar de presente?
 
Maeve ergueu os olhos, tentando pensar em algo que gostaria de ganhar. Naquele momento, a Floreios & Borrões entrou em seu campo de visão e ela se lembrou de um livro que gostaria adquirir
 
- Já sei! – ela exclamou  e ignorando o sorvete, começou a falar – Tem um livro...a autora é um pouco desconhecida, mas... - ela olhou para os lados antes de se aproximar dele e falar, baixinho, em tom de segredo – Na verdade, é uma autora trouxa.

Regulus torceu o nariz, mas ela continuou a argumentar.
 
- Mas é uma autora muito boa, mesmo sendo trouxa. – e então ela o encarou nos olhos –Seria um bom presente.
 
- Não sei, Mav...se seus pais descobrirem...  – o rapaz hesitou.
 
- Eles não precisam saber, oras! – ela deu de ombros.
 
Regulus hesitou por mais alguns minutos antes de suspirar, concordando. Maeve sorriu e depositou um beijo rápido no rosto dele.
 
- Você é o melhor, Reg!
 

E ela voltou sua atenção ao sorvete em sua mão, sem notar que o rosto do amigo estava atipicamente corado.


____


- Uma festa? - Maeve perguntou, curiosa, abaixando a xícara de chá em suas mãos - ela e Reg decidiram tomar um chá antes de irem para a casa. Ou era essa a ideia até Regulus lhe explicar sobre uma festa na casa de Acantha Price. 

- O Sirius vai - o rapazinho passou a mão pelos cabelos que, ao contrário dos do irmão, eram bem mais curtos. - Disse que vai ser divertido.

Maeve sentiu o coração acelerar à menção do nome do noivo. Ela não o via desde o término do ano letivo e no fundo ainda estava magoada pelo bolo que havia levado no dia dos namorados - mas como ela podia guardar rancor, se ele havia perdido o tio? Se as coisas estavam ruim em casa?

- O que direi aos meus pais? - Maeve mordeu os lábios.

- Não vamos demorar. O que acha? - Regulus a encarava com olhinhos suplicantes.

- Bem, se não formos demorar mesmo... - Maeve mordeu os lábios e Regulus deu um sorriso tão contagiante que a garçonete do estabelecimento corou enquanto retirava a mesa ao lado da deles.

Os dois deixaram o pequeno restaurante e foram se encontrar no local que Sirius combinara - perto da saída do Beco Diagonal. O Black mais velho não tardou a chegar - vestindo uma jaqueta de couro preta (como ele conseguia, naquele calor, Maeve não podia entender) e uma calça azul toda rasgada (a Sonserina teve que se segurar para não soltar um muxoxo de desaprovação com aquele visual).

- E então...como vamos à festa? - Regulus perguntou, curioso. - Vamos usar a lareira do Caldeirão Furado?

Sirius soltou uma risada, jogando a cabeça para trás:

- Não, maninho - e aqui ele bagunçou os cabelos bem penteados de Reg com uma das mãos - Vamos á moda trouxa: de trem.

Maeve e Regulus se encararam, amedrontados

As luzes acesas, o som alto e o movimento de ao menos meia centena de adolescentes indicavam que havia uma festa na grande no número 3 da Church Row. Durante a última hora, um certo ônibus roxo de dois andares tinha sido visto algumas vezes pela vizinhança, e a lareira de um pequeno pub (o único local bruxo em todo o bairro) tinha recebido um número anormalmente alto de visitantes.


- Ainda não acredito que você convidou o Black. – Rebecca resmungou sob a música alta, no instante em que Sirius, o irmão e a noiva entraram pela porta aberta da casa dos Price.

Acantha estreitou os olhos para a amiga, colocando as mãos na cintura.

- Eu chamei, e é melhor você tratá-lo bem, Becky! – um sorriso brincalhão cresceu nos lábios da loira – Daqui a pouco o Jake chega, e você não vai nem lembrar que o Sirius está aqui – passando os braços pelos ombros da morena, ela começou a conduzi-la em direção aos recém chegados.

Rebecca revirou os olhos – desde que conhecera o vizinho de Acantha, no começo da semana, a amiga vinha fazendo insinuações infundadas sobre os dois. Claro, Jake era uma companhia divertida, estava sempre disponível para acompanhar as meninas em suas aventuras pela cidade (“Eu posso levá-las”, ele disse da primeira vez, “acabei de ganhar o carro dos meus pais, preciso tirá-lo da garagem de vez em quando”), e parecia se deleitar toda vez que Becca fazia algum comentário meio sem sentido sobre costumes e aparatos trouxas; mas isso não queria dizer que ele estivesse interessado nela.

Comparando-se às outras meninas de sua idade, Rebecca sentia-se um patinho feio, uma prima desengonçada destinada a virar uma bruxa velha, cheia de verrugas e solteirona (como nos livros infantis que ela vira no quarto de Canny). O único garoto que demonstrara algum interesse nela tinha sido Sirius, e ela sabia que não era bem assim – No fim das contas, ela apenas estava no lugar errado e na hora errada. Então, não, não era possível que Jake estivesse interessado por ela – e mesmo que estivesse, ela jamais perceberia.

- E eu aposto que ele vai adorar ver suas pernas nesse vestido! – Acantha sussurrou no ouvido da amiga, logo antes de soltá-la e envolver Sirius em um abraço apertado – Eu já estava achando que você não vinha!

Becca arregalou os olhos e sentiu o rosto queimar instantaneamente, subitamente se sentindo autoconsciente demais sobre o vestido que usava, muitos centímetros mais curto que suas vestes habituais. Após um momento de desconserto, se apressou a cumprimentar Regulus e Mackenzie, tentando disfarçar sua falta de jeito.
A morena se distraiu, antes mesmo de Sirius e Acantha desfazerem o abraço, com os convidados que chegavam logo atrás daquele grupo inusitado (O que Mackenzie estava fazendo ali, afinal de contas?).

- Remus! – O rosto da menina se iluminou ao ver o amigo. Desde o-que-quer-que-tenha-acontecido entre os outros marotos e Sirius, Lupin vinha evitando-a, e nem mesmo a coruja que ela enviara no início da semana havia sido respondida.

Ignorando as convenções, ela se adiantou para abraçar o amigo.

- Eu achei que você não viesse – ela disse assim que se afastou dele, e cumprimentou rapidamente a James e a Peter.

Sirius passou a viagem de metro toda se segurando para não soltar uma risada - as expressões assustadas nos rostos de Regulus e Mackenzie ao pegar carona no transporte público trouxa eram impagáveis – os dois pareciam deveras deslocados com suas vestes engomadas (e tropeçaram duas vezes por conta do sacolejo do trem) e ele daria tudo para ter uma câmera para registrar aquele momento.
                                                                                                

Na verdade, ele queria poder contar aquilo a James... 

...ao se lembrar do ex-melhor amigo, no entanto, o riso morreu em sua garganta e ele se contentou em colocar as mãos nos bolsos da calça e aproveitar os últimos minutos de viagem.

- É aqui que descemos - ele disse, ao olhar para o mapa das linhas que havia no vagão. Os três jovens foram um pouco empurrados pelo fluxo de pessoas que entrava, mas conseguiram sair ilesos (mesmo que um pouco traumatizados pela experiência toda, como era o caso de Reg e Maeve).

Sirius fez um sinal para eles com a mão e os três seguiram andando pela rua e não demoraram a encontrar a casa de Price.

- Relaxem, okay? - ele piscou o olho para os acompanhantes e entrou na casa, os olhos cinzentos esquadrinhando o local à procura de Acantha.

Ele não precisou se esforçar muito, uma vez que a loira se aproximou dele abraçada à Rebecca Montgomery:

-.... eu já estava achando que você não vinha! - Canny o envolveu num abraço.

- Não perderia essa festa por nada. - ele respondeu e gelou ao ouvir o nome deixado pelos lábios de Montgomery ("Remus!") - Um pequeno aviso teria sido bom, hn, Canny?  - ele sussurrou, no ouvido da ex-namorada.

- Bom, você trouxe Regulus e Mackenzie...estamos quites? - ele girou os olhos com a resposta dela e pediu licença. Precisava de um drink. 

Dispensando Regulus e Maeve com um "divirtam-se!", ele foi para a cozinha procurar pela bebida mais forte da casa.

A casa da Price ficava em uma vizinhança quase que completamente trouxa, e demandava algum esforço de Remus e de Peter manter James na calçada – com uma frequência absurdamente alta, o capitão da Grifinória se distraía comentando seus planos para a noite caso Evans estivesse na festa, e, por duas vezes, quase foi atropelado.

O vento fresco na noite quente, a lerdeza de James, a preocupação excessiva de Peter e as ideias dos dois do que seria uma ótima festa foram melhorando o ânimo de Remus aos pouquinhos, de forma que, quando finalmente chegaram à porta de Acantha, o mais certinho dos marotos estava convencido de que poderia relaxar e se divertir por pelo menos uma noite.

Por algumas horinhas, ele poderia rir, conversar e pensar em qualquer coisa que não fosse sua licantropia. Quem sabe ele talvez até dançasse. Aquela seria uma boa noite.

À parte da música, que dava para ouvir do lado de fora, a primeira coisa que ele percebeu da festa foi Rebecca, que praticamente o emboscara em um abraço (que ele respondeu de bom grado, na verdade. Sentia-se culpado por evitá-la nos últimos dias de aulas, mas, depois de sua transformação, depois de Snape, depois de Sirius... Ela ainda resolvera questioná-lo sobre abuso doméstico – a garota alegara que toda vez que ele “ia visitar a mãe”, voltava machucado e com novas cicatrizes – e ele apenas não tinha forças de mentir para mais ninguém. Além disso, ela provavelmente saberia da licantropia em breve, e era melhor que ele se acostumasse logo com a ausência de qualquer amigo que não fosse James ou Peter.)

- Eu nunca deixaria o Remus perder uma festa da Price, Monty! – Peter respondeu à menina de forma convencida, jogando o braço pelos ombros do amigo.

Remus deu de ombros, rindo.

- O James me contou que as festas da Acantha costumam ser quase tão boas quanto as nossas. Não tive muita escolha, certo, Prongs?

Os olhos cor de âmbar se desviaram para o amigo, ao seu lado, e assim que a imagem do maroto se focou, uma ruga de dúvida marcou a testa de Remus.

Potter olhava fixamente para um ponto atrás de Rebecca, o maxilar duro e os olhos apertados, um tom arroxeado subindo pelo pescoço e rosto.

- O que ele tá fazendo aqui?
Remus seguiu o olhar de James, e sentiu o próprio maxilar travar ao ver Sirius sumindo por entre os outros convidados.

- Nós devíamos ir embora – ele falou para James, mas Pettigrew e Montgomery que o responderam, em uníssono:

- Não!!

- Qual é, Moony, a gente veio de longe... – Peter gemeu, enfiando as mãos nos bolsos – É a primeira vez que eu posso sair para uma festa que não seja dos marotos durante as férias...

- Fica, Remus... você não pode deixar de se divertir só porque o Black está em algum lugar. Por favor, vai, eu preciso de companhia...

Remus suspirou e enfiou as mãos nos bolsos. Todo o seu ânimo de festa tinha morrido, agora que um lembrete ambulante de todos os seus problemas tinha desfilado à sua frente. Ele trocou um olhar significativo com James – sabia que o amigo estava tão puto da vida com toda aquela história quanto ele (ao que ele era extremamente grato), mas sabia que havia perdido a chance de ir embora quando Dorcas e Lily apareceram em sua visão periférica, cruzando o jardim de entrada da casa dos Price.

- Talvez a gente possa ficar só um pouquinho? – James pediu em um tom quase de súplica, ao que Remus acedeu.

Não mataria passar uma hora sob o mesmo teto que Black, certo? Eles precisariam dividir o mesmo dormitório em alguns meses, era melhor que Remus começasse a se acostumar.

Além disso, James realmente ficaria para baixo se desperdiçasse uma chance de passar tempo com Lily.

A viagem de trem (por Merlin, se seus pais descobrissem...) não tinha sido NADA comparada aquela festa: Maeve estava se sentindo um grindylow fora d’água ali – e não porque o local estava apinhado de trouxas e sim porque ela não conhecia ninguém ali além de Reg, Sirius e o resto do pessoal da Grifinória (e estes últimos não eram seus amigos, apenas conhecidos).

Ela ficou olhando para Lupin para ver se ele a reconhecia, mas ele e Potter e Pettigrew estavam ocupados demais fuzilando as costas de Sirius com os olhos (e falando nisso: o que estava acontecendo entre eles, afinal?). Maeve se contentou, então, a sair de fininho dali com Regulus. 

- O que devemos fazer nessas festas? - Maeve perguntou, a voz um pouco alta por conta da música que tocava ao fundo.

- Não sei. - os olhos cinzentos de Reg pousaram num grupo de garotas dançando a um canto - uma delas o encarou de volta e o rapazinho se limitou a corar. Maeve girou os olhos. Garotos.- Acho que vou pegar uma bebida. Aceita?

- Por favor. Eu vou lá para fora - Maeve apontou para a porta de vidro que ligava a casa ao jardim.  Os dois combinaram um ponto de encontro e cada um seguiu seu rumo.

Uma vez no jardim, os olhos azuis da Sonserina se arregalaram ao se deparar com o pequeno lago que havia ali. Uau! Ela se aproximou de fininho e tirou os sapatos, para molhar os pés na água (Morgana, estava muito quente, mesmo para o horário..).

Quando sentiu a temperatura da água, ela soltou um suspiro de satisfação e começou a cantarolar. Ergueu os braços e começou a fazer uma trança nos cabelos (para ver se ajudava a diminuir mais ainda o calor).

- Eu não posso acreditar que a Price tem um lago em casa - ela falou baixinho, para si mesma, enquanto tentava se focar na tarefa.

- É uma piscina – Remus respondeu ao comentário de Maeve, a voz soando mais rouca que o habitual.

Ele tentara interagir com os amigos por algum tempo, mas o peso dos próprios pensamentos parecia sufocá-lo. Sem dificuldades, arranjou uma desculpa qualquer e, mãos enfiadas nos bolsos e cabeça baixa, começou a vagar pelo jardim dos fundos da casa de Price. A brisa suave da noite não era o suficiente para aplacar o calor, e apenas a visão da piscina já lhe pareceu refrescante.

Parcialmente escondida pelas sombras do jardim, a figura de Price denunciava que ele não tinha sido a única pessoa a ter aquela ideia. Ele não a reconhecera de pronto, mas o vestido turquesa – o mesmo que ela usava naquela tarde – entregou sua identidade.

- É como um lago artificial, mas ideia é usar para lazer ou esporte, apenas. Você não vai encontrar nenhum peixe ou sereiano aí – a explicação saiu de forma verborrágica, e, ao notar aquilo, ele apenas suspirou, frustrado consigo mesmo.

Ele desviou o olhar para as pequenas ondas provocadas pela perna de Mackenzie, e as íris castanhas deslizaram até encontrar os olhos da garota, tão azuis quanto a água à sua frente.

- Se importa se eu sentar?

Rebecca entrou na cozinha ainda rindo da piada de James, tão distraída que demorou para perceber que não estava sozinha no cômodo.

Sirius estava apoiado contra a mesa, o olhar perdido e os braços cruzados, e uma cerveja na mão (não uma cerveja amanteigada, uma cerveja trouxa. Rebecca experimentara aquilo e com certeza devia quase tanto álcool ali quanto em uma dose de hidromel).

- Black – ela o cumprimenta com a cabeça, e o sorriso morre um pouco em seu rosto, sobrando apenas o leve arfar de quem perdera o fôlego rindo.

Merlin. Ela não esperava vê-lo. Ela não esperava se ver sozinha em um cômodo com ele. Ela não esperava precisar justamente da comida empilhada na mesa em que ele se apoiava.

- Seu irmão está dançando com uma amiga trouxa da Canny – ela falou a primeira coisa que pensou e sorriu um pouquinho, lembrando dos passos desengonçados de Regulus.

Achando que seria esquisito demais ficar plantada ao lado da porta, ela resolveu cumprir seu objetivo: deu as costas para ele e foi até o armário sobre a pia, abrindo aleatoriamente algumas portas.

- Achei que talvez você quisesse registrar a cena para usar contra ele depois.

Rebecca encontrou o que queria na última porta que abriu, e se esticou para tentar alcançar o bowl guardado na prateleira de cima (Merlin, como ela sentia falta de poder usar magia).

Maeve se sobressaltou ao escutar a voz conhecida de Remus respondendo ao seu comentário e ergueu os olhos, vendo o rapaz em questão parado ao seu lado.

- Piscina? - ela encarou o lago, a testa franzida- Sem peixes ou sereianos? Que sem graça! 

Ela terminou a trança e o encarou novamente:

- Mas mesmo assim, é bem vinda nesse calor. - ela se afastou um pouquinho, fazendo sinal para ele se sentar. A noite já estava estranha demais - ela, numa festa trouxa? - então ela não via problemas em interagir com ele.

Só quando ele se sentou ao seu lado é que ela conseguiu reparar melhor na aparência dele - ele parecia mais magro, cansado...e um pouco triste.

Maeve mordeu os lábios e se segurou para não perguntar se estava tudo bem. Eles não eram amigos, então não havia porquê ela se interessar pela vida dele.

- O Reg está demorando com as bebidas - ela falou de súbito, quando o silêncio entre eles se tornou demais até para ela.

Remus ocupou o lugar que Maeve lhe oferecia e tirou o tênis pacientemente, colocando as meias dentro dos calçados e alinhando-os ao seu lado. Dobrou as bainhas da calça sem dizer palavra alguma e, apesar de se sentir bem mais fresco com os pés na água, não expressou nenhum alívio.

- Você vai ter que esperar um pouco – ele piscou algumas vezes para ela, sem exibir o sorriso bondoso que tanto permeara as raras conversas entre os dois – Regulus arranjou uma parceira de dança.

Segurando-se na borda da piscina, Remus chutou um pouco a água, e suspirou. Ele não queria se sentir daquele jeito, mas o medo de que todos soubessem de sua licantropia o aterrorizava, bem como o pesar pela possibilidade de ser expulso de Hogwarts.

- Como vai a vida, Lizzie? – ele perguntou sem encará-la, ainda movimentando os pés a esmo.

Sirius estava perdido em pensamentos - por Godric Gryffindor, se ele soubesse que Potter e os outros também iriam à festa, teria se poupado ao trabalho de ir até lá. Os Marotos, pelo pouco que ele vira dali da cozinha, estavam se divertindo horrores sem ele (James até conseguira fazer Evans sorrir!) e ele sabia, no fundo, que estava colhendo os frutos que plantara.

Estar sozinho ali na cozinha, numa festa rodeada de pessoas, só confirmava aquilo...

...e ele queria pedir desculpas, mas era orgulhoso demais para fazê-lo. 

- Black! - a voz carregada pelo riso de Rebecca o tirou de seus devaneios e ele ergueu os olhos do tampo da mesa, reparando na garota pela 1a vez aquela noite e ele não se arrependeu de fazê-lo, definitivamente não. Monty usava um vestido vermelho curto demais para ela (ideia de Canny, ele podia apostar) e os cabelos estavam soltos e jogados por sob o ombro - alguns dos fios castanhos grudavam no pescoço dela, por conta do suor, ele percebeu quando ela virou de costas e ele engoliu em seco. Vermelho caia bem nela.

Ele queria poder dizer aquilo em voz alta, mas o modo como o sorriso da garota havia murchado quando ela se deparou com ele prediziam a reação que ela teria com o elogio.

Sirius se contentou em dar um gole na cerveja.

- Eu realmente deveria registrar...mas a consciência pesada do meu irmãozinho já vai ser o suficiente. - ele sorriu e notando a dificuldade da garota para alcançar o objeto que ela queria, se aproximou dela, puxando a tigela sem dificuldade alguma (ele havia crescido mais alguns cm naquele verão).

- Aqui, Monty - ele falou, entregando o objeto a ela, a voz baixa saindo mais rouca do que o normal. Aquela proximidade toda lhe deu uma sensação de deja vú e ele então se lembrou do último beijo compartilhado entre eles, antes do término do ano letivo. Mais uma coisa para a lista de "coisas que Sirius Black precisa se desculpar"...

ah, cara, ele era uma péssima pessoa mesmo.

Maeve encarou a sala de Acantha Price, tentando enxergar Reg e a tal parceira de dança – pelo pouco que ela conhecia do amigo, ele ficava desconfortável com danças casuais e ela queria muito ver a tal cena. Como  a casa estava apinhada de pessoas, ela logo desistiu e voltou sua atenção para a água.
 
- Entediante. – ela respondeu a pergunta de Remus e antes que pudesse perguntar o mesmo a ele, ela viu um bicho na água. Arregalando os olhos, ela colou o corpo ao dele numa tentativa de se afastar daquele animal desconhecido – A-aquilo é um sapo? – ela perguntou, segurando o braço de Lupin e apontando.
 

Ela detestava sapos. Não era apenas nojo, era medo mesmo e a mera visão daquele bichinho nojento na água a fez ter vontade de sair correndo pra bem longe.

- Você não disse que não havia bichos nessa pitina? - ela perguntou, se segurando o máximo para não soar histérica.

Remus se assustou com a proximidade de Maeve, e logo os olhos castanhos, arregalados, passaram da garota agarrada ao seu braço ao ponto para onde ela apontava.

Pela primeira vez desde que chegara à casa de Acantha, um sorriso brincou nos lábios de Remus, logo se tornando um risinho sob a respiração.

- Você tem medo de sapos, Lizzie?

Ele fitava Mackenzie com uma expressão brincalhona, mas o pavor no rosto dela fez com que ele passasse para um tom um pouco mais sério. A mão do braço livre se pousou sobre a mão de Maeve, e ele inclinou levemente a cabeça em direção a ela.

- Eu disse que nenhum bicho vive na piscina – o sorriso voltava a crescer no rosto dele, e era impossível reprimir o riso – mas acho que até os sapos sentem calor...

O riso dele preencheu o ar quente da noite, bem como o aroma floral que os cabelos de Maeve emanavam, e Remus se pegou fitando cada parte do rosto dela, passeando dos olhos azuis aos lábios rosados e de volta. O pomo de adão do rapaz se moveu quando ele engoliu em seco, ciente do que cada fibra de seu corpo desejava.

- Eu posso me livrar dele para você – a voz rouca era apenas mais um indício do que ele tentava disfarçar, e, mesmo se oferecendo para salvá-la do “perigo”, ele não moveu um músculo sequer.

Um arrepio percorreu a espinha de Rebecca quando a garota sentiu a jaqueta de Sirius roçar em sua pele. O ar escapou de seus pulmões, e foi instintivo buscar os olhos do rapaz enquanto seus dedos se fechavam na tigela que ele oferecia.

A mesma corrente elétrica que antecedeu o último beijo deles atravessou seu corpo. O mesmo olhar desejoso se estendia aos lábios dele, e a mesma falta de controle sobre o próprio corpo diminuía lentamente a distância entre seus rostos. Eles estavam tão próximos que Rebecca podia sentir o cheiro do desodorante dele, tão próximos que ela podia ver cada um dos fios que escapavam do coque displicente em que ele prendera o cabelo negro, tão próximos que ela podia identificar cada uma das manchinhas azuladas em suas íris cinzentas.

Aquele seria mais um momento para que Rebecca se odiasse depois.

Um barulho de vidro se partindo na sala ao lado a despertou de seu transe e, como se tivesse levado um choque, ela se afastou, evitando encará-lo e pigarreando.

- Obrigada, Sirius.

A passos rápidos, ela apoiou a tigela no tampo da mesa, e começou a despejar nela um dos sacos de batatas chips. Suas orelhas certamente estavam mais vermelhas que o vestido que ela usava, e ela implorava a qualquer um dos Deuses que a impedisse de permanecer sozinha com ele. Merda!, ela pensou, enquanto suas mãos levemente instáveis conseguiam a proeza de espalhar salgadinhos pela mesa.

- Padfoot – a voz de Peter se fez reconhecer e ela respirou aliviada, concluindo o seu trabalho e girando nos calcanhares para voltar à festa.

Maeve encarava o pescoço de Remus, tentando evitar olhar para o sapo, as bochechas logo adquirindo uma coloração avermelhada ao notar que ele estava rindo dela.

Não era culpa dela se ela tinha trauma de sapos (culpa do irmão mais velho), ok!


Ela abriu a boca para protestar e foi então que notou como  o ar ao redor deles havia mudado, tornando-se mais eletrizante. Ergueu os olhos, finalmente notando, com sua visão periférica, o quanto eles estavam próximos.


"...Eu posso me livrar dele pra você" - apesar dele oferecer, ele não moveu um músculo sequer para fazê-lo e aquela proximidade toda logo fez com que uma vozinha no fundo da cabeça de Maeve gritasse "BEIJE-O, MAEVE!"

- N-não precisa. - ela disse, baixinho e engoliu em seco. Tinha lido sobre aquilo nos livros. Tinha escutado as amigas falando sobre aquele momento. Diabos, ela até mesmo passara longos verões fantasiando como seria seu primeiro beijo com Sirius (e até treinara, de tão boba que era, no espelho) e se alguém lhe dissesse que ela sentiria vontade de beijar Remus Lupin num jardim, no meio de uma festa trouxa, ela jamais acreditaria.

Talvez aquela onda toda de calor a tivesse afetado.

Ela fechou os olhos, mandando às favas qualquer dúvida, mas antes que algo mais pudesse acontecer, dois convidados da festa empurraram o casalzinho para a piscina.

- Vocês precisam se refrescar, crianças! - um deles gritou.

Foi Rebecca quem quebrou o contato visual primeiro – Sirius estava a ponto de se desculpar pelo beijo – e um silêncio desconfortável se instalou entre eles quando a garota se afastou (era impressão dele ou tinha acabado de rolar um clima ali? Nah, não podia ser...).


Antes que Sirius pudesse se decidir se era apenas impressão ou não, Peter adentrou o recinto.



- Padfoot – Sirius não conseguiu disfarçar  a careta ao escutar aquele apelido. Ele simplesmente não se achava mais digno de ser chamado daquela maneira.


- Peter. - ele pousou os olhos castanhos no amigo.


- Como você está, Padfoot? - Peter se aproximou enquanto Rebecca passava por eles para voltar para a sala.


- Bem. - ele encolheu os ombros - E você, Peter? - dessa vez ele enfatizou o nome do amigo, para que ele pudesse entender o recado.


Rabicho soltou um pesado suspiro, entendendo tudo.


- Sirius. - o mais baixinho dos Marotos pousou os olhos azuis nele e falou num tom de voz mais grave - Você precisa falar com eles.


Sirius girou os olhos e deixando a garrafa de cerveja na mesa, voltou a encará-lo:


- Peter, você sabe que aquela foi a decisão final deles. 


- Eles sentem sua falta, Padf-...


- NÃO ME CHAME ASSIM! - Sirius se pegou gritando e logo se arrependeu ao ver a expressão de choque no rosto do amigo. Ele passou a mão pelos cabelos, soltando-os do coque displicente que fizera mais cedo para escapar do calor - Eu não mereço, Peter. Você sabe.

E ele saiu pisando duro para longe de Rabicho - sabia que o amigo só estava tentando ajudar, mas não era bem aquilo que ele precisava no momento...

- SAIAM! - Sirius gritou,a o entrar no banheiro ocupado por um casalzinho cheio de mãos. Assim que os dois saíram dali, o ex-Maroto abriu o registro da torneira e molhou um pouco o rosto com água gelada para tentar se acalmar. Quando ergueu os olhos para o reflexo no espelho, levou um susto ao ver James Potter parado na porta do banheiro.

- Eu vi o que você fez com o Rabicho. - James girou os olhos.

- Agora não, Potter.  - mas James não se afastou e deu alguns passos para dentro do banheiro e antes que Sirius pudesse entender o que estava acontecendo, desferiu um murro em seu rosto.

Remus chegara a erguer a mão, acariciando a bochecha de Maeve. Inclinara o próprio rosto, aniquilando a pouca distância entre eles no que parecia ser um movimento em câmera lenta. Quase podia sentir o roçar macio dos lábios dela, mas, de repente, sentiu-se ser projetado para a frente.

A temperatura fria da piscina foi um verdadeiro choque, e tão rápido quanto pôde, ele emergiu, afastando do olho a água que escorria dos cabelos castanhos.

- Hey! – ele gritou, raivoso, para os dois meninos trouxas que riam, com suas cervejas na mão.

Remus bem gostaria de dizer alguns palavrões, mas sua atenção foi logo desviada para Maeve. Se a menina realmente tinha medo de sapos, ele sabia que ela não gostaria nem um pouco de estar tão perto de um. Com um movimento rápido, ele a alcançou pela cintura e a puxou para perto, assumindo uma postura protetora deveras atípica para Remus Lupin.

- Você está bem? Se machucou?

Maeve emergiu do mergulho súbito, o vestido turquesa grudado no corpo e a trança desmanchada pelo impacto com a água. Depois de tossir um pouco – ela não estava preparada para o susto, ela sentiu as mãos de Remus em sua cintura.


- Tô bem. – ela respirou fundo e então notou que estava dando pé naquele lago – Essa piscina é rasa! – ela exclamou, surpresa. Tinha a impressão que aquela parte era funda.


E então, ela se lembrou do anfíbio que estava nadando nas mesmas águas que ela.


- C-cadê o sapo? – ela se agarrou à manga da camisa de Remus, olhando para os lados numa tentativa de localizar o animalzinho. - O o que foi? - ela perguntou, ao notar a expressão assustada no rosto dele.

- Parece que vocês realmente conseguiram fazer uma festa bacana! – Uma voz grave soou ao lado de Rebecca no momento em que ela colocou a vasilha com salgadinhos na mesa de jantar.

A garota levantou os olhos para encarar Jacob Cohen, o vizinho que Acantha dizia estar interessado nela, e espelhou o sorriso do rapaz.

- Jake! A Caany estava na sala da última vez que vi...

- Já falei com ela. Eu estava te procurando, na verdade... Queria te entregar isso – o garoto ofertou uma latinha (um refrigerante horrível, de canela, que ninguém em sã consciência bebia de bom grado).

Rebecca arregalou os olhos para a latinha vermelho-escura, tomando-a para si.

- É a...?

- A bebida que só você gosta no mundo inteiro – ele riu.

Rebecca também riu, e colocou uma mecha da franja atrás da orelha.

- Obrigada, Jake!

Provavelmente, Rebecca não tardaria a perceber as intenções do rapaz, mas um estrondo vindo do lavabo chamou a sua atenção – e a de metade da festa. (Ela não queria nem imaginar se algo naquela casa estragasse. As coisas pareciam realmente caras, ali). Atravessando rapidamente o cômodo, ela se aproximou da fonte do barulho, apenas para dar de cara com James Potter e Sirius Black (ele não estava na cozinha?!) brigando no chão.

James Potter.

E Sirius Black.

Se atracando.
No chão de mármore do lavabo de Acantha.

Demorou um pouco para que Becca absorvesse o choque.

- James!! Sirius!! Dá pra vocês dois pararem??

Remus precisou segurar o sorriso ao ver Maeve instantaneamente preocupada com um simples sapinho.

- Oh, não!

Ele arregalou os olhos, forjando sua melhor expressão assustada. Era a peça perfeita para pregar em Maeve.

- Mav, eu acho que você não vai gosta disso...

O suspense era parte fundamental, e ele podia ver os olhos azuis se amedrontando cada vez mais.

- O sapo...

Um sorrisinho tentou escapar do canto de seus lábios, mas ele conseguiu se conter. Só esperava que Maeve não ficasse muito chateada.

- O Sapo está... – ele firmou o abraço ao redor da cintura dela, preparando-se para a reação da menina, e sussurrou a última parte – bem atrás de você.

Sirius e James escutaram os protestos de Rebecca, mas não deram a mínima. Continuaram atracados no chão, um tentando acertar o outro o máximo que seus punhos deixavam.


- ...quem te deu permissão de aparecer aqui? – James perguntou, enquanto tentava acertar o nariz dele.


- A dona da festa, seu babaca! – o empurrão que Sirius deu nele foi tão forte que os óculos de Potter escorregaram de  seu rosto.

 
A briga só não continuou porque Jake e Canny conseguiram, finalmente, separá-los. Potter juntou os óculos do chão e olhou para Sirius, os olhos estreitos pela miopia (e raiva).

- Por que você não dá o fora daqui?! - a voz dele estava carregada de raiva.

- Por que você não vai se foder, Potter? - Sirius tentou avançar para cima dele novamente, mas Acantha apertou seu braço e o puxou em direção à cozinha, impedindo aquela briga verbal.

-...Garotos! - ela bufou, enquanto tirava algumas pedras de gelo do congelador. Enrolando-as num paninho, ela enfiou a bolsa de gelo improvisada no olho de Sirius, ignorando o protesto do rapaz - Quem quase destruiu os móveis da minha mãe não tem o direito de falar nada...

Naquele momento, Acantha ergueu os olhos para a porta da cozinha:

- Becca, cuide aqui desse idiota, por favor? Preciso dar um jeito no resto dos convidados...Merlin, Sirius... - ela saiu resmungando.

Sirius girou os olhos. Não era só culpa dele...

Afastando a bolsa de gelo do rosto, ele tirou um espelho do bolso (o espelho que os Marotos usavam para se comunicar) e fez uma careta ao ver o roxo que se formava ao redor de sua órbita.

Maldito James Potter.

Era impossível para Rebecca não julgar o rapaz à sua frente - o olho que se arroxeava a cada segundo, o canto do lábio tingido por gotinhas de sangue, a atitude mesmo com Acantha (a única que sempre o defendia)... -, de modo que mesmo depois que a amiga saiu do cômodo, ela continuou parada à porta, os braços cruzados e os olhar, tão ou mais severo que o da McGonagall, escrutinando-o.

Como Sirius Black podia ser tão impossível?

A passos lentos, ela se aproximou dele:

- O que aconteceu entre você e os meninos? – apoiando-se na mesa, ela ficava bem de frente para Sirius, de modo que era impossível para ele fugir da pergunta dela.

Maeve sentiu um arrepio subir sua espinha ao notar, novamente, a proximidade dos dois.
 
- Você tá mentindo... – ela falou, ofegante, o medo logo sendo substituído pela curiosidade. Ela queria saber até aonde aquilo ia chegar.
 

Passando os braços ao redor do pescoço dele, ela se aproximou mais ainda dele (se é que aquilo era possível) e os dois finalmente se beijaram, agora sem interrupções. (Era impressão dela ou um grupo de pessoas cantarolava "BRIGA! BRIGA! BRIGA!" ao fundo?)


O beijo, que se iniciou apenas com um leve roçar de lábios, logo se intensifico de uma maneira que quaisquer lembranças sobre o sapo jaziam esquecidas nas memórias dos dois.

Sirius notou a maneira como Rebecca o encarara ao entrar na cozinha – daquela maneira que McGonnagal poupava apenas aos Marotos e não pôde deixar de se sentir irritado com aquilo.


- Se seu namorado Remykins não te contou não sou eu que vou te dar esse prazer – ele falou, jogando a bolsa de gelo já meio derretida em cima da mesa.

Ele levantou da cadeira em que Canny o sentara e tirou a jaqueta, amarrando-a na cintura e ignorando completamente a moça à sua frente. Não podia contar a ela (seria apenas mais uma pessoa que descobriria sobre o segredo de Remus). E além do mais, ele não queria contar...Montgomery já não ia com a cara dele, obrigado, e não precisava de mais aquilo para julgá-lo ainda mais.


- Avisa a Price que eu dei no pé. – ele passou a mão pelos cabelos, cansado – E que se ela precisar pagar alguma coisa, é só me avisar.



Ele deu a volta pelo outro lado da mesa, para se desvencilhar dos olhos castanhos e inquisidores da colega.

O riso de quem tinha sido pego no flagra morreu nos lábios de Remus no momento em que ele percebeu que Maeve o beijava. Cedendo completamente ao desejo, ele apertou o enlace na cintura dela, uma das mãos brincando com o tecido molhado do vestido. Antes que percebesse, ele a erguia, apoiando-a no próprio corpo.

Nunca, em toda a vida, Remus se imaginou beijando uma garota como Mackenzie – para o bem da verdade, ele havia beijado apenas uma garota antes dela, e imaginava que aquela provavelmente seria a contagem de toda a sua vida.

Mas ali estava ele – o corpo colado contra o de Maeve, tão próximos que ele podia de fato sentir sua pele por baixo do tecido semitransparente do vestido dela – em um beijo intenso como ele jamais se atreveria a sonhar.

Remus só percebeu que caminhava sob a água com Maeve em seus braços quando as costas dela se chocaram contra a parede da piscina e, mesmo assim, ele não interrompeu o beijo. Uma das mãos deslizou até a nuca da garota, servindo com apoio para as investidas nos lábios macios.

- Moony? – ouvir o próprio nome foi a única coisa que o despertou daquele transe, e ele interrompeu a carícia, sem, no entanto afastar seu corpo do de Mackenzie.

Os olhos do Maroto vagaram até Peter, à beira da piscina – e que claramente tentava reconhecer a menina sob a penumbra daquele ponto da piscina.

- O James... Nós... nós já vamos...

Remus suspirou pesadamente – uma pontada de frustração atravessando-o – e trocou um rápido olhar com Maeve, que tentava se esconder sob a borda.

- Ok – ele respondeu, rapidamente – eu já... e já encontro vocês.

Pete assentiu com a cabeça, mas continuava olhando fixamente para o topo da cabeça loira em frente ao amigo.

- Quem tá aí com você?

Ao ouvir a pergunta, Maeve mergulhou, tentando se esconder, e Remus fez uma careta para o amigo.

- Pete! Eu já encontro vocês, ok?

- O—ok – Rabicho deu as costas e voltou correndo para dentro (algo dizia a Remus que James saberia daquele beijo antes mesmo que ele pudesse entender o que acontecera).

O maroto usou o braço para erguer Maeve, e afastou os cabelos molhados do rosto dela com a mão livre.

- Desculpe por isso.

Rebecca acompanhou Sirius rodear a mesa com uma sobrancelha levantada, impressionada com a atitude dele. Merlin, como Sirius conseguia ser tão irritante?

Antes que o garoto chegasse à porta do cômodo, ela alcançou um dos pacotes de salgadinho sobre a mesa e atirou em direção a ele, acertando-o na cabeça.

- Você é um imbecil, sabia? A Acantha é a única pessoa em toda a Grifinória que ficou do seu lado nessa confusão toda; você arranja uma briga na casa dela e é incapaz de se despedir? Merlin, Sirius!

Ela fez uma breve pausa, ligeiramente ofegante e sentindo as orelhas queimarem de exasperação.

- Você conseguiu pisar no calo de todo mundo, Sirius! Não sobrou uma única pessoa para você machucar.

Becca passou as mãos pelo cabelo, como se aquilo a ajudasse a organizar os pensamentos.

- Eu vi o Remus te defender de toda sorte de ofensa e de detenção. Merlin, eu vi o Potter esmurrar o Mulciber por sua causa. To-do mun-do na Grifinória tinha motivos pra te odiar simplesmente por você ser um Black, e ainda assim, todo mundo te acolheu e te perdoou de novo, e de novo. Merda! Eu te perdoei! E você é incapaz de ir até as pessoas que te amam e pedir desculpas!

Sentindo a pressão da raiva subindo à cabeça, Rebecca respirou fundo, diminuindo um pouco o tom da sua voz.

- O que quer que você tenha feito ao “Remykins”, eu aposto que ele tem todo motivo do mundo para estar puto da vida com você. A morte do Alphard não te dá um passe livre para agir como um babaca, Sirius.