por Admin Qui Abr 28, 2016 9:46 pm
Aniversários na casa dos Montgomery costumavam ser verdadeiramente especiais, começando já pelo café da manhã - onde o bolo fofinho era apenas um figurante ao lado das comidas favoritas do aniversariante – e no aniversário de Rebecca não foi diferente.
Embora, na tradição bruxa, o aniversário de dezesseis anos de uma garota fosse o mais importante - a ocasião de apresentá-la à sociedade -, Rebecca tinha decidido que não faria uma festa. Seria um gasto desnecessário de dinheiro, e, além do mais, aquele era um costume antiquado, mesmo. Seria bem melhor aproveitar o dia ao lado da família – o combinado era de passar o dia na represa e, embora Becca ainda estivesse um pouco temerosa desde o quase afogamento, não queria quebrar aquele costume que se moldava nos últimos anos.
Assim que abriu a porta do quarto que agora dividia com Ayala, o cheiro das panquecas e dos biscoitinhos de canela invadiram suas narinas, e o sorriso – que andava meio raro desde que se envergonhara daquele jeito com Sirius – ocupou o seu lugar no rosto da menina. Becca amava aquelas pequenas tradições da família.
Depois de receber abraços e felicitações de todos, ela se juntou a eles em um desjejum que não deixava nada a desejar aos banquetes de Hogwarts. Por Morgana, nada estragaria sua felicidade!
Exceto, talvez, a notícia de que precisaria passar o dia ajudando a madrinha em sua loja de roupas. Apesar de um pouco decepcionada pelos planos frustrados, a garota não reclamou: amava a madrinha, e ajudar a família era a regra número um na vida de Becca.
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Os grandes olhos castanhos se levantaram preguiçosamente da revista que Becca lia, sentada ao balcão, e se esticaram até a porta, onde a sineta que anunciava a chegada de um novo cliente acabara de tocar. Pelo portal entalhado com a figura de pequenas ninfas passou um jovem casal, e a garota os expiou com curiosidade. Havia algo no caimento das vestes ou no modo como andavam que denunciava prontamente a origem abastada de ambos, bem como uma incrível aura de beleza que os circundava. Era quase hipnotizante.
- Não sei porque você está tão empolgada com isso, Bellatrix – o rapaz, com suasas feições aristocráticas e um sedoso cabelo negro, tinha uma voz suave, que puxava os Rs aqui e ali, denunciando um leve sotaque francês.
- Ora, Dolphus – a moça devia ter mais ou menos a idade de Rachel, a irmã mais velha de Becca, e passava as mãos de forma entediada pelas roupas no mostruário. Algo de estranhamente familiar emanava dela.
Mas o quê?
– Se Sirius e Andrômeda não reivindicarem a herança em até três meses – ela continuou, e a menção ao nome de Sirius fez com que Becca passasse a prestar mais atenção na conversa do que no casal em si. Não era um nome tão comum assim -, os bens do Alphard serão divididos entre os irmãos, como deveria ter sido desde o início... – ela puxou um vestido roxo da arara e o esticou, analisando-o. Um sorriso convencido curvou os lábios fortemente pintados, e ela se virou novamente para o jovem ao seu lado:
- E é claro que o papai não terá nenhuma desculpa para nos dar o casamento que eu mereço. Juro por Merlin que se eu o escutar falando que precisa equilibrar os custos por causa do casamento da Narcisa, sou capaz de degolar aquela fedelha.
O queixo de Rebecca caiu. Não era possível que Sirius e Alphard (e, bem, Narcisa) em uma mesma conversa fosse uma mera coincidência. Aquela moça era uma Black, e era extremamente difícil para a garota acreditar que ela estava mais preocupada com uma festa de casamento do que com o primo (por Morgana! Sirius malmente tinha um galeão para chamar de seu! Ele poderia estar na rua, agora!). E Merlin, aquilo queria dizer que os próprios pais dele estavam tentando usurpar uma herança que era dele por direito?
E pensar que eles têm orgulho da própria família.
- Mas isso não é assunto para tratarmos em uma loja de roupas, é claro – correndo os olhos pela boutique (os olhos! Eles eram tão cinzentos quanto os de Sirius. Era isso que ela achou conhecido!), a morena analisou Rebecca de baixo a cima com um desdém patente:
- Ei, você! – ela gritou, por fim, fazendo com que Rebecca desse um pulo no próprio lugar antes de se aproximar, correndo – Me traga um preto desse.
Depois de Becca mostrar pelo menos metade dos vestidos da loja, Bellatrix e Rodolphus saíram abarrotados de sacolas. Dinheiro definitivamente não parecia um problema para os dois. (Mas Becca via Sirius dando duro todos os dias, e sabia que qualquer dinheiro era bem-vindo para o rapaz.) Não via a hora de correr para casa e contar o que ouvira ao amigo.
Enquanto descia do Noitibus andante – uma sacola com o emblema da loja, contendo o vestido que a madrinha lhe dera de presente, firmemente agarrada – ela tinha apenas uma coisa na mente: conversar com Sirius. As coisas ainda estavam esquisitas entre os dois - mas também, ela fazia questão de se colocar em situações embaraçosa, e...
- SUUURPRESAAAAA! – Becca piscou algumas vezes, em choque: O Hipogrifo Dourado estava cheio, vários rostos conhecidos espalhados pelo bar, e das paredes e do teto surgiam toda sorte de decorações festivas em azul, a sua cor favorita.
Vários abraços depois, sua mãe sugeriu que ela subisse para se arrumar (a que Acantha fez coro dizendo que “eu distraio todo mundo!”), e que logo mandaria Ayala, para ver se Rebecca precisava de ajuda.
Becca subiu as escadas correndo – mal podia acreditar que os pais tinham lhe feito uma festa surpresa! – e tentou se arrumar da forma mais rápida que conseguisse (sem nem perceber que deixara uma fresta da porta aberta).
Seu plano teria dado certo, se o vestido que ganhara da madrinha não tivesse um zíper bem no ponto inalcançável das costas.
A menina estava engajada em uma espécie esquisita de dança – cheia de braços e contorcionismos - para tentar fechar o vestido, quando um ruído à porta do quarto chamou sua atenção.
- Ay... – ela girou nos calcanhares, aliviada por finalmente conseguir ajuda; mas seu semblante logo tomou ares de susto, e suas bochechas coraram.
Não era Ayala à porta.
- Sirius... – Rebecca murmurou, as bochechas ardendo de vergonha e os braços instintivamente segurando a parte da frente do vestido.
- Eu... Eu não consigo fechar o zíper – ela explicou, quase sem poder encará-lo – você... – as íris castanhas finalmente se ergueram até ele – você se importa?