Maraudering Years

- Tsc, Monty! – Sirius girous os olhos – Termine de digerir o seu sanduíche e relaxe um pouco – e para dar ênfase ao pedido, ele esticou a pena, roçando-a de leve pelo rosto da colega – Eu cuido do final do nosso trabalho.

Ele puxou um livro para mais perto de si e cerrou os olhos para ler um dos parágrafos, se concentrando em como faria para passar aquelas palavras para o pergaminho e depois de espremer um pouco os neurônios ele voltou a escrever fervorosamente, soltando um palavrão baixinho ao notar que seu punho tinha se sujado com a tinta molhada.


- E voilá! – ele exclamou, assim que escreveu a última frase. Assinou seu nome e empurrou o trabalho em direção à Rebecca, para que ela fizesse o mesmo. Sirius ficou encarando o perfil da garota. - Escuta, Monty...você vai ser meu par por um longo tempo - ele foi dizendo, sem nem se dar conta da conotação que aquela frase poderia ter - Então...por favor, vamos dividir o serviço, sim?

Ele sorriu e cutucou a testa com o dedo indicador:

- Eu sou deveras inteligente, você sabe.

Um sorriso maroto cresceu no rosto de Remus. Então, Maeve Mackenzie realmente lera seu livro? Confrontá-la tinha sido apenas um palpite: parte dele achava que a menina só devia ter enfiado o recibo ali por acaso, mas, mesmo assim, ele resolveu se arriscar.

E a aposta valera à pena.

Sem arrancar os olhos do pergaminho à sua frente, ele alcançou o livro e o deslizou até a ponta da mesa, próximo de onde Maeve estava.

- Você vai precisar me contar. Eu tenho uma péssima memória quando se trata de ficção.

Terminando de escrever a palavra que iniciara, ele se girou na cabeça encarando-a com o melhor olhar inocente que Remus Lupin poderia forjar.

- Talvez você se surpreenda com a Mina.

Dando de ombros, ele se voltou novamente para o pergaminho, segurando o riso. Se Mackenzie gostaria de saber o final daquela história, ela precisaria lê-la.

(E ele estava curioso para saber o que ela acharia, no fim das contas)

Maeve apertou a alça da mochila com mais força, se segurando para não gritar de frustração. Por que Lupin não podia lhe responder a pergunta de forma direta? Ela só queria saber sobre o maldito final!

A frustração em seu peito só cresceu quando ela notou que ele estava segurando o riso - e ele ria da cara dela, ainda por cima, o petulante.

Girando os olhos, ela percebeu que estava cansada demais para perder tempo com ele e saiu pisando duro biblioteca afora.

Naquela noite, ela sonhou que estava sendo atacada por um vampiro e Remus Lupin aparecia com um crucifixo em mãos, para salvá-la.
__
 
Era Sábado e Maeve, aproveitando a preguiça que o dia proporcionava, sentara-se num dos vários pufes do Salão Comunal da Sonserina observando as criaturas do lago com atenção até que um aluno da Sonserina interrompeu seu momento de introspecção:

- ...algum problema? – ela perguntou, a sobrancelha erguida.

- M-me pediram pra te entregar isso – o garotinho respondeu, esticando um pacote quadrado a ela. Maeve pegou o objeto e depois de rasgar o embrulho, viu se tratar de um livro cujo título ela nunca vira antes:

Orgulho e Preconceito.


Com um sinal displicente da mão, ela dispensou o garotinho. Não precisava questioná-lo, pois sabia muito bem quem havia lhe enviado aquele livro. Só uma pessoa em todo o castelo teria aquela audácia – logo ali, no Salão Comunal da Sonserina.

(ainda bem que era um Sábado e as amigas estavam ocupadas demais com seus respectivos namorados  para prestar alguma atenção nela)


Ela folheou o livro, desinteressada, lendo um parágrafo aqui e ali e quando deu por si, ela já estava suspirando pelo Mr. Darcy e torcendo para que ele e Elizabeth se acertassem.

Rebecca riu enquanto assinava o próprio nome, e sacudiu a cabeça, fazendo com que alguns fios escapassem da sua trança embutida.

- Achei que seu único talento fosse me tirar do Sério, Black.

Apesar da provocação, o sorriso no rosto de Rebecca era sincero. Ela estava cansada demais para brigar, e feliz demais em ter finalmente terminado aquele trabalho extra de Poções. Era a primeira vez que Sirius e ela trabalhavam juntos, e a garota descobriu no maroto um ótimo parceiro. Era como se eles simplesmente pensassem parecido, apesar das diferenças. Não que Montgomery tivesse realizado aquilo, mas ela não tinha aquela sincronia com mais ninguém, nem mesmo Acantha ou Remus.

Naquela noite, o cansaço venceu o subconsciente, e Rebecca dormiu sem vagar entre sonhos.

*****

- Antes que eu me esqueça, o Sirius me pediu para te entregar isso. Disse que pegou sem querer – Acantha estendeu o livro de Poções para Rebecca, que agradeceu – Vocês dois estão conseguindo estudar sem se matar?

- Acho que nenhum dos dois está afim de perder nos NOMs – Becca deu de ombro, mudando de braço os livros que carregava.

- Caiu um papel – A amiga apontou para um pedaço de pergaminho dobrado que escapara de um dos livros.

Rebecca guardou o pergaminho no bolso de suas vestes, certa de que devia ser um bilhete qualquer que ela trocara com Canny, e o ignorou até a manhã seguinte, quando o encontrou perdido e abriu para ler o seu conteúdo. Não precisou sequer comparar a caligrafia com a redação para Slughorn, pois ela sabia perfeitamente a quem pertencia pelo menos uma daquelas letras. Sentindo o sangue espumar, ela marchou até o salão comunal, onde encontrou Sirius rodeado dos amigos.

- BLACK! Quem DIABOS você pensa que é pra escrever uma coisa dessas?!? – ela bradou o pergaminho em direção a ele, falando tão alto que até os sereianos do lago deviam ter entendido com perfeição.

A coisa favorita de Remus naqueles dias de jogo de quadribol era o silêncio no restante da escola. Era fantástico poder caminhar pelos corredores sem se esbarrar em primeiranistas correndo para todos os lados (Merlin! Como ele e os amigos deviam ter sido insuportáveis para os alunos mais velhos!).

No entanto, ele prometera aos amigos que assistira a partida, e já havia perdido alguns minutos iniciais. Ele andava sem muita pressa em direção ao campo, mas o brilho de cabelos dourados sob o sol frio daquela manhã chamou sua atenção.

Sentada confortavelmente próxima à fonte estava Mackenzie, a cara enfiada em um livro com a capa em couro de um verde muito escuro. Aquele livro não parecia em nada com aquele que Remus presenteara a Maeve, mas alguma coisa dentro dele – aquela vozinha que volta e meia soava como James – lhe disse que a garota estava lendo Orgulho e Preconceito.

Usando os passos leves aprimorados naqueles anos de Marotices, ele se aproximou por trás dela, os olhos cor de âmbar facilmente apreendendo as páginas que ela lia (tão absorta que sequer o sentiu a alguns centímetros de distância).

- “A felicidade no casamento é uma questão de sorte” – ele leu em voz alta, sobressaltando-a. Remus sorriu com satisfação quando os grandes olhos azuis de Maeve se esbugalharam em sua direção.

- Bom trabalho com a capa, foi uma medida esperta. - ele rodeava calmamente o banco, as mãos nos bolsos, até sentar-se ao lado dela - Você avançou bastante na leitura. Que tal o Mr. Darcy, Lizzie?

O típico sorriso brincalhão se instaurou em seu rosto, enquanto diversos tons de ultraje coloriam as bochechas de Maeve.

Maeve encarou Lupin como se fosse uma criancinha pega fazendo algo errado, o rosto logo adquirindo uma coloração rósea. Sua primeira reação após o susto foi fechar o livro, abraçando-o de modo defensivo em seguida.

- Posso ajudá-lo? – ela decidiu que a melhor tática era se fingir de desentendida. E por que diabos ele estava ali num dia de jogo? Ela achou que seria a única a ficar pra trás, uma vez que odiava Quadribol - ela não via a menor graça em voar por aí, então não dava a mínima para o esporte quando a Sonserina não estava jogando.

A mão dominante de Maeve se coçou para puxar a varinha do bolso ao notar os ares divertidos do rapaz, como se ele estivesse zombando dela.

Sem esperar resposta – na verdade ela nem queria uma resposta  – ela se ergueu do banco para sair dali. Todos os seus breves diálogos com Remus Lupin sempre terminavam daquela maneira, e não seria aquele dia que ela pararia para conversar com ele como se fossem grandes amigos.
Antes de se afastar, ela girou nos calcanhares e marchou de volta até ele, encarando-o por cima, uma vez que ele continuara sentado no banco.


- Eu não preciso mais disso. – ela empurrou o livro no colo dele.

Com os reflexos rápidos, Remus cerrou a mão ao redor do punho da Maeve no momento em que a menina atirou o livro em seu colo.

- Tem certeza, Mackenzie? É um desperdício largar um livro tão bom pela metade.

Os olhos cor de âmbar passearam pelo rosto surpreso da menina, detendo-se nos olhos ainda mais azuis sob aquela luz fria. Tinha algo nas reações explosivas dela que o deixavam ainda mais intrigado. Como ela poderia ser tão briguenta com ele, uma perfeita dama com as amigas sonserinas e, para completar, amante de literatura trouxa, era um mistério.

E Remus Lupin era naturalmente atraído por mistérios.

Ele se levantou, ainda segurando a mão dela, e foi a vez dele olhá-la de cima, graças à diferença de altura.

- Você não vai abandonar o livro só por minha causa, vai?

Sirius estreitou os olhos para ler o pedaço de pergaminho que Rebecca bradava na frente de seu rosto e soltou uma risada ao reconhecer a caligrafia dele e de James depois de correr os olhos rapidamente pelo bilhete:










Ele parou de rir ao notar o olhar furioso no rosto da colega:

- Ora, Monty, foi apenas uma brincadeirinha... – ele disse, em tom de defesa. – Você sabe que eu não te trocaria pela Luga Gigante, não precisa ter ciúmes.

Remus Lupin precisou intervir naquele exato momento, uma vez que a Grifinória parecia prestes a explodir a cabeça dele com um feitiço não-verbal. Sirius abaixou os olhos para o chão diante do olhar de repreensão do amigo - Aluado era um dos poucos que conseguia aquele efeito nele e o Maroto viu o amigo se afastar junto com Rebecca para longe, sentindo um incômodo inexplicável com a cena. Ele sabia que tinha exagerado no bilhete, mas não é como se a aversão que ele sentia não fosse recíproca...Rebecca e ele nunca se dariam bem e aquilo era um fato que ele precisava aceitar.


____

Sirius sentara-se em seu lugar favorito na arquibancada para acompanhar o jogo de Quadribol - Corvinal x Lufa-lufa - e esfregou as mãos umas nas outras uma vez que estava um pouco frio aquela manhã.

James e Peter tagarelavam sobre algumas jogadas e ele escutava tudo um pouco desinteressado - se ele pudesse escolher, ainda estaria dormindo. O placar daquele jogo era previsível demais (a Corvinal levaria uma vez que o time deles era muito bom). Naquele exato momento, Acantha e Rebecca passaram ao seu lado no corredor, a primeira pisando em falso no degrau. Ele, por estar na ponta do banco e com sua agilidade de sempre, esticou o braço, salvando-a da queda iminente. 

- Dormindo ainda, Price? - ele sorriu ao notar que estava segurando-a pela cintura. 

A loira sorriu de volta enquanto ele a ajudava a se equilibrar.

- Nem é tão bom assim – Maeve deu de ombros e o odiou mais ainda por ter que olhar para o alto para encará-lo.

Ela voltou sua atenção para a mão que ele capturara e franziu a testa, sentindo novamente aquela sensação de choque.  Por que ela estava se sentindo tão estranha? A única explicação  plausível para aquela sensação era que ela estava sob a influencia daquele romance trouxa idiota. Mr. Darcy era realmente capaz de acalentar o coração da mais fria das bruxas.

Ela balançou a cabeça para afastar aqueles pensamentos e quando já estava com os nervos mais calmos, o encarou novamente, respirando fundo.


- Por que você me mandou esse livro?

Como boa Sonserina, Mav sabia que toda pessoa tinha uma intenção por trás de suas ações e com Lupin não seria diferente. Ele queria alguma coisa dela e ela iria descobrir o quê.

As sobrancelhas de Remus se uniram em estranhamento com a pergunta de Maeve.

- Por que eu te mandei o livro?

Remus não tinha pensado sobre isso. Depois do incidente com a sua edição de Drácula, ele achou que seria interessante ver Mackenzie lendo outro livro trouxa. Era como pregar uma peça: a mais puro-sangue das sonserinas teria que admitir que gostara de uma criação completamente trouxa.

- Porque é uma boa história – ele deu de ombros, soltando o pulso dela e cruzando os braços, como se precisasse se defender.

Mas a pergunta não parecia tão simples. Remus esquadrinhou o rosto de Maeve, enquanto pensava tão fervorosamente que seria possível ouvir as engrenagens rodando em sua cabeça.

- Talvez a protagonista me lembre você. – ele se viu falando antes que pudesse pensar sobre o real significado daquelas palavras.

Rebecca tentava não olhar ao redor enquanto subia as arquibancadas, porque ela sabia que no momento em que visse quão alto estava, ela se sentiria mal. Mas tinha prometido a Acantha que lhe faria companhia, e ali estavam elas, marchando para um par de assentos vazios pouco mais acima.

A bruxinha estava tão compenetrada na sua função, que só percebeu que Acantha escorregara quando ouviu a voz de Sirius. Ignorando o medo de altura, ela girou nos próprios calcanhares, apenas para ver a melhor amiga nos braços dele. Uma sobrancelha arqueou-se instintivamente, e ela sentiu o estômago revirar ao ver o modo derretido como ela sorrira para ele.

- Ei, Price, quer sentar com a gente? Tem lugares vazios! – Peter convidou sorridente, apontando dois lugares ao lado de James, bem no meio da fileira.

Rebecca enfiou as duas mãos nos bolsos do casaco, encolhendo-se, sentindo-se extremamente incomodada com a proximidade de Price e Black.

- Claro! É uma ótima ideia! – Acantha riu e Becca sentiu um calafrio momentâneo, reconhecendo aquela risada como a que a amiga guardava para os garotos bonitinhos.


Mas aquilo era loucura, ela se convenceu, depois que os meninos pularam para o lado para que elas se sentassem (Acantha entre Rebecca e Sirius), certo? Quem em sã consciência gostaria de Sirius Black? Devia ser só a altura a afetando. É, devia ser isso.

- Eu vou pegar um lanche, alguém quer alguma coisa? – Peter se espremia entre os joelhos e as cadeiras da frente, para alcançar o corredor – Montgomery? Você está bem? Você parece... verde.

Rebecca levantou o olhar, sem perceber que suava frio e que ficara tonta por causa da altura.

Sirius era o tipinho que, ao contrário dos outros rapazes da sua idade, não tinha medo de se arriscar com o sexo oposto. Toda vez que se interessava por alguém ele tomava alguma atitude (não ficava sofrendo por aí como ahemJAMESahem). É claro que antes de tentar alguma coisa ele sempre testava as águas e daquela vez não seria diferente: o sorriso que Acantha Price lhe reservara depois dele ter bancado o herói e o modo como a perna dos dois se tocava dizia muito a seu favor. 

A voz de Rabicho, no entanto, impediu que o flerte dele fosse adiante e os olhos cinzentos do rapaz pousaram na fiel escudeira de Acantha. Rebecca estava pálida e parecia suar frio e Sirius se viu bancando o herói pela segunda vez aquele dia: ele a pegou nos braços no momento em que ela desmaiava. Porém, seus reflexos não foram tão bons daquela vez e a garota acabou por cortar um pouco a testa no banco da frente.

- Becky! - Acantha exclamou ao ver a amiga desacordada nos braços do Maroto.

- Esqueci que ela tem medo de altura. - Sirius se lembrou, então, da 1a aula de vôo deles em que Rebecca se recusara a subir na vassoura. Isso explicava o fato dela estar tão calada desde que se juntara a eles - Devemos levá-la até a Pince?

Para não ter perigo de cair com a garota no colo enquanto descia os degraus da arquibancada, Sirius lançou um levicorpus nela e a guiou para fora dali,tomando cuidado para que ela não esbarrasse em ninguém. Uma vez na enfermaria ele explicou à Pince sobre o que havia acontecido e uma Acantha praticamente em lágrimas explicou que fora culpa dela pois ela havia insistido para que as duas fosem para o alto.

- Shh, Price. - Sirius passou um braço ao redor dos ombros dela - Foi só um susto.  Já já ela vai acordar e vai me distribuir várias detenções.

- Ora, não fale besteiras, Lupin! - Maeve girou os olhos. Como ele podia compará-la a uma trouxa? Okay, Elizabeth era fictícia, mas mesmo assim... - O que você quer de mim, afinal?

Foi a vez dela cruzar os braços.

Os olhos azuis se fixaram nos âmbar e os dois ficaram se encarando por uns minutos antes dela girar os olhos mais uma vez ao perceber que não obteria uma resposta satisfatória.

- Ah, esquece. - ela disse e girou nos calcanhares, os cabelos longos balançando a cada passo que ela dava. Ela mal podia acreditar que tinha perdido tempo com um Grifinório (e meio-sangue, ainda por cima...!)

Naquela noite, para variar, ela sonhou com o livro, porém ela era Elizabeth Bennett e Remus Lupin era Darcy e no dia seguinte mal conseguiu olhar no rosto das amigas, uma vez que sentia-se suja por ter sonhado que estava romanticamente envolvida com o rapaz.


Na hora do almoço, outro livro chegou até suas mãos (entregue novamente por um aluno mais novo, dessa vez uma Lufa-lufa a abordou no banheiro). Maeve bufou de desdém ao pegar o pacote. Ele não ia desistir?

- Pode apostar que sim – Rebecca respondeu a Sirius ainda com os olhos fechados, e um sorrisinho brincalhão no rosto. Ela estava recobrando os sentidos aos poucos, e a primeira coisa que percebera foi a voz do garoto. O sorriso sumiu de seu rosto, no entanto no momento em que ela abriu os olhos e avistou Sirius e Acantha abraçados. Qual era o problema de Canny, afinal das contas?

-Becca! – O rosto de Acantha se iluminou, e por um segundo Rebecca se sentiu culpada por estar nutrindo sentimentos ruins relacionados à amiga.

Apoiando as mãos ao lado do corpo, ela fez impulso para se sentar na cama, em uma tentativa de mascarar o incômodo que sentia ao vê-los tão próximos.

- Por Morgana, o que a enfermeira me deu? Parece que eu engoli uma dúzia de sapos.

- Eu vou pegar água para você! – Acantha se levantou, solicita, e se afastou em direção ao escritório da Enfermeira chefe.

Um pequeno alívio preencheu o peito de Rebecca ao se ver sozinha com Sirius, ainda que momentaneamente.

- O que aconteceu? A última coisa que eu lembro é de estar no jogo.

Sirius se encostou na maca em que Rebecca estava deitada, encarando a garota do alto. Não queria demonstrar, mas estava aliviado em vê-la bem – ele sabia que Pomfrey seria capaz de curá-la, mas ver alguém conhecido passar mal daquele jeito sempre o deixava meio preocupado.

- Não sei bem...quando olhei pro lado você estava mais pálida que o Nick-quase-sem-cabeça...seus olhos giraram e você puf! desmaiou.
Sirius balançou um pouco a cabeça numa tentativa de afastar o cabelo dos olhos.

-Você bateu a testa na cadeira da frente. – ele apontou para o local que ela machucara e que já estava cicatrizado. Acantha voltou naquele minuto com um copo d’água:

- Dê graças aos céus que o Sirius tem reflexos rápidos, Becky. – ela sorriu na direção do rapaz – Ou senão você estaria provavelmente tomando uma gole de Esquelecresce.

Os três estremeceram – o gosto daquela poção era horrível (e a dor de ter um osso crescendo, então, nem se fala...).


Sirius franziu a testa ao notar o modo estranho como Rebecca o olhava – ali estava uma garota na qual ele não conseguia desvendar – e ele decidiu que era bom chamar Madame Pomfrey para checar a garota. O rapaz foi até a salinha de descanso da enfermeira e no minutos depois a bruxa os expulsava dali, uma vez que a paciente precisava descansar mais um pouco.

Fora da enfermaria, Acantha o segurou pela mão:

- Obrigada mesmo, Sirius.

- Não foi nada - ele fez uma reverência exagerada - Vou voltar pro Quadribol. Qualquer coisa...

Remus passou todo o almoço espiando a mesa da Sonserina. Queria ver se Mackenzie estaria com o embrulho que enviara mais cedo, ou não. Se conhecesse a menina – e, bem, ele já acreditava que sim – ela provavelmente ficaria com o livro até que ele tentasse se aproximar. E ele planejava se aproximar novamente em breve.

Veja bem, era um pena que a garota não conseguisse terminar nenhuma daquelas leituras, mas, ao mesmo tempo, era incrivelmente divertido vê-la tentar esconder gostara de algo que não fosse sangue-puro.

Por ser mestiço, Remus acreditava que o lado bom de ser bruxo era poder aproveitar o melhor dos dois mundos. Algumas músicas trouxas eram melhores que as bruxas. Algumas peças bruxas eram infinitamente melhores que as trouxas. Mas o que importava, mesmo, é que ele tinha a oportunidade de conhecer tudo aquilo.

E agora, Maeve também teria.

Ele escolhera aquele livro com o propósito claro de agradar: Se Maeve havia gostado de Orgulho e Preconceito, ela definitivamente gostaria de Emma. Os dois eram clássicos da mesma autora, e, se a garota se ofendera ao ser comparada com Elizabeth Bennet, talvez se sentisse mais confortável com uma heroína mais parecida com as próprias amigas - isto é, rica e mimada.

Mas o que ele estava mais curioso para ver era a reação de Maeve ao seu bilhete.

”Torre do Relógio, às 18h. Posso te devolver o primeiro livro, se ainda quiser saber se Elizabeth e Darcy ficam realmente juntos”

Talvez aquilo fosse uma má ideia, mas, agora que o malfeito estava feito, só lhe restava esperar.

A sala de poções estava coberta pelas fumaças do diversos caldeirões, e a maior parte dos alunos corria contra o tempo para terminar a tarefa do dia a tempo. Milagrosamente, Rebecca e Sirius – que ainda eram parceiros – estavam adiantados no processo, o que sobrava tempo para cozinhar os ingredientes lentamente.

E para se distrair com os pensamentos.

- Eu aposto que você vai se aproveitar por ter me ajudado no quadribol para dar em cima da Acantha – Rebecca usou o tom mais despreocupado possível enquanto mexia o caldeirão durante a aula de poções.

Não queria que ele pensasse que ela se importava, mas aquilo a estava corroendo por dentro, e ela precisava colocar pra fora antes que aquilo causasse outro acidente com melecas gosmentas.

Maeve subiu o primeiro degrau que dava para a Torre do Relógio e hesitou antes de prosseguir. Por que ela estava ali?  

Ou melhor: por que ela estava levando toda aquela história a sério? Podia muito bem prosseguir sua vida ignorando Remus Lupin, afinal uma parte sua sabia que ele só estava fazendo aquilo para desafiá-la. Não havia motivo para ela morder a isca e dar a ele o gostinho da vitória...

(no fundo, ela gostava do desafio. e da leitura, mas nem sob o Imperius ela admitiria aquilo).

Pensando bem...ela podia fazer o jogo virar.


Sorrindo satisfeita com a ideia que surgira em sua mente ela terminou de subir a escadaria no exato minuto em que o relógio marcou 18h.

Sirius, que até então estava com a atenção focada na poção, se virou para Rebecca:

- Não faço apostas que eu sei que vou perder – ele sorriu enquanto se sentava displicentemente na cadeira. Acantha e ele passaram o final de semana flertando e ele já estava cogitando chamá-la para Hogsmeade, num encontro casual  (se esquecera totalmente que já combinara em acompanhar Maeve Mackenzie) – Mas não se preocupe, Becky, eu vou tratar sua amiga bem.

Do ponto de vista de Sirius, Rebecca estava incomodada porque não confiava nele, mas Acantha era grandinha e sabia sobre suas intenções – e se ela não quisesse, não teria flertado de volta, certo?


- Eita, a poção está pronta – Sirius pegou o frasquinho e colocou um pouco do líquido ali e se levantou para entregá-lo a Slughorn.

Remus chegara cedo à torre do relógio – aproveitara uma janela em que Peter, James e Sirius estavam distraídos demais com uma marotagem e se esgueirara até o ponto de encontro com Maeve.

Não que ele acreditasse que a menina fosse – ela conseguia ser mais teimosa que Sirius e James juntos – mas não podia arriscar. Sentado no chão, folheando o livro que pretendia devolver a ela, ele só levantou o olhar no momento em que o Relógio soou a última das seis badaladas, e que a pequena porta que dava acesso à sala das engrenagens se abriu.

Aquela era a segunda torre mais alta do castelo, perdendo apenas para a Torre de Astronomia, e era o lugar preferido de Remus por dois motivos:

1) A vista para os terrenos da escola era de tirar o fôlego;
2) Era menos frequentada que que a Torre de Astronomia (ponto de encontro bastante comum para qualquer casal de namorados)

Na verdade, ninguém nunca ia àquela torre. O relógio funcionava magicamente, de modo que nunca necessitara de manutenção, e nenhum aluno parecia disposto à subir os degraus estreitos apenas para ouvir o relógio soar as horas bem de perto. Deste modo, quando ouviu o ranger da porta, Remus tinha certa de que era Mackenzie.

Apesar de trazer as bochechas rosadas e os cabelos ligeiramente desgrenhados graças à subida íngreme, Maeve ainda parecia saída de um editorial de moda (Merlin, ele precisava parar de acompanhar Lily e Rebecca mesmo quando as duas estavam apenas folheando revistas).

- Achei que você não viria, Lizzie.

Foi mais forte que Remus. Ele tinha se prometido dar algum espaço para a garota – vai que ela se mostrava uma pessoa bacana? –, mas o espírito brincalhão era mais forte com ele, e agora o rapazinho lutava contra o sorriso que teimava em crescer em seu rosto.

- Estava relendo alguns pedaços do livro. – ele fechou e o estendeu a ela, sem se levantar, mas olhando diretamente no olhos azuis – A protagonista realmente se parece com você.

Maeve pegou o livro que Remus lhe estendia, se demorando mais do que devia para soltar a mão dele:

- E você, Lupin? Seria o Mr. Darcy, acredito? – ela deu seu melhor sorriso, procurando soar o mais inocente possível. 

Ela abraçou o livro e caminhou pelo pequeno espaço da torre.

- Um lugar bem peculiar para combinar um encontro – ela penteou o cabelo com uma das mãos enquanto observava as engrenagens do grande relógio de perto – As pessoas geralmente preferem a Torre de Astronomia.

É claro que para ela aquela informação sobre a Torre não passava de um boato, uma vez que ela nunca fora até lá com alguém (a não ser nas aulas). Não que ele precisasse saber de mais aquele detalhe sobre ela. 

Maeve encarou o rapazinho sentado e o analisou: ele até que era bonitinho, mas aquela aparência de cansado (e por Morgana, as vestes dele!) a impediam de se sentir atraída. O fato dele ser da Grifinória e um mestiço também não ajudava.

(e bem, ela era noiva, então não podia muito bem sair por aí gostando de mais alguém além de Sirius)

O Olhar de Rebecca acompanhou Sirius caminhando até a mesa do professor, e seu estômago deu nó assim que percebeu que Acantha fazia o mesmo.

Pelas barbas de Merlin.

Acantha era uma pessoa inteligente. Como ela podia ficar... flertando com Sirius? Não que Becca acreditasse que ele era alguém impossível de se gostar – honestamente, quase dois anos gostando dele em segredo eram atestado o suficiente disso, e Sirius sabia ser encantador quando queria. Rebecca perdera as contas de quantas vezes ele fizera algum pequeno gesto de gentileza em direção a ela – o que sempre a deixava esperançosa de que agora, talvez, ele tivesse mudado – apenas para voltar a ser grosseiro logo depois.

E era esse o problema com Sirius. O idiota faria qualquer coisa que lhe desse vontade apenas para se distrair, pouco se importando se machucaria alguém no caminho. Foi assim quando eles se beijaram no natal (apenas para ela descobrir logo depois que ele estava noivo de Mackenzie), ou quando ela se prometeu passar uma semana inteira sem brigar com ele (apenas para ser vítima de mais uma peça dos Marotos). Ela sabia que Sirius era assim e que não mudaria, motivo pelo qual ela decidira, muito tempo atrás, parar de gostar dele.

Era só uma pena que ela (ainda) não conseguira. Não completamente.

E agora, Acantha, sua melhor amiga, estava flertando com ele por aí. Ela queria se enfiar em um buraco e nunca mais sair de lá. Talvez a Murta topasse dividir o banheiro com ela?


****

- Você vai querer ajuda com o trabalho de transfiguração? – Rebecca estava tentando MUITO não deixar a paquera de Sirius e Acantha a atingir (Ela já tinha decidido que ele não prestava para ela, não era justo ficar brava com a amiga. Além disso, ela nem sabia se era para valer ou não – Canny ainda não tinha comentado nada com ela.), mas estava cada dia mais difícil.

- Ahmn... – A expressão culpada no rosto da loira se fez reconhecer de imediato, e Rebecca já podia imaginar o que ela diria – Na verdade, eu...er... Já tenho ajuda.

Uma sobrancelha de Rebecca se arqueou, e ela encarou a amiga seriamente. Antes de falar, ela precisou respirar fundo.
- Ele está perdendo a posta desse ano. Só para sua informação.

***

Rebecca estava tentando ignorar. Mesmo, de verdade. Com todo o tempo de Sirius ocupado entre flertar com Acantha e aprontar com os marotos, eles falavam apenas o necessário um com o outro (o que basicamente se resumia aos assuntos das aulas de poções).

Naquela noite, ela estava praticando a arte de fingir que ele não existia enquanto terminava uma redação de feitiços no Salão Comunal, mas era difícil demais quando ele estava determinado a fazer uma competição de quem-canta-mais-desafinado com o James.

- Hey! - Ela gritou, do outro lado da sala – Dá pra vocês diminuírem o volume?

Remus arregalou os olhos, confuso com as insinuações da menina. Maeve não estava achando que aquilo era... Oh, Merlin.

Não.

Não.

Definitivamente não.

- Talvez eu seja o protagonista de algum outro livro, Lizzie. – “Um sobre lobisomens”, pensou, com uma pitada de amargura.

Ela acompanhou os passos dela com o olhar, o peso das insinuações dela caindo sobre seus ombros.

- Eu só achei que seria bom ter alguém com quem conversar sobre literatura. Não é muita gente que lê esses livros por aqui.

A fala sobre a Torre de Astronomia fez com que ele tivesse certeza de que ela achava que aquilo era um encontro.

- A torre de astronomia seria o lugar ideal para você visitar com seu noivo, Maeve. Sirius Black? Meu amigo?

Remus não sabia porque, mas lembrar da relação entre Mackenzie e Black era quase tão incômodo quanto a primeira noite da semana da lua cheia.

Tentando manter a conversa fluindo, ele perguntou se ela começara a ler o livro novo.

- O que você achou?

James e Sirius estavam divertindo alguns dos alunos mais novos mostrando a eles o feitiço que amplificava a voz e cantando da maneira mais desafinada que podiam:

-HEY! – a voz de Rebecca Montgomery interrompeu a cantoria – Dá pra vocês diminuírem o volume?
Sirius e James se entreolharam e sorriram de maneira semelhante:

- Montyyyyyyyy, por que você é tão estraga prazeres? – Sirius cantarolou, se aproximando da mesa em que a garota estava encarrapitada.

- Montyyyyyyyy, é sexta-feiraaaaaaaa – James o seguiu e os dois sentaram na mesa ocupada por ela.

Naquele momento, Acantha desceu as escadas que levava ao dormitório feminino e se aproximou, confusa com a cena que transcorria. 

- OoOoooOH, Acanthaaaaa-  Sirius passou um braço em volta do ombro dela. - Seus cabelos tão loiros como favos de mel....

A loira riu do tom desafinado dele, mas logo parou de achar graça ao ver a expressão no rosto da amiga:

- A voz de vocês é tão boa que achei que estavam fazendo um sacrifício. Não é, Becky? - ela perguntou por fim, tentando amenizar o clima.

Os três olharam para a morena, que estava sentada, esperando pela reação dela.

Maeve sorriu divertida ao ver a reação de Remus. No alvo! 

Ela se aproximou novamente do local onde o rapaz estava sentado e mordeu os lábios ao ver ele se retesar um pouco. Então quer dizer que um pouco de atenção feminina já o deixava incomodado? Bom saber.

Ela sentou no chão ao lado dele:

- Li algumas páginas...até que é interessante pra um livro trouxa - ela encolheu os ombros e decidiu mexer mais um pouco coma cabeça dele - você não costuma ir à Torre de Astronomia fora das aulas, Remus? - ela esticou o braço para puxar um fio de lã do suéter surrado que ele vestia. Claro que a menção do nome de Sirius a deixara incomodada e ela, no fundo, queria era saber se o noivo ia muito à Torre com outras garotas (por Salazar, Sirius era popular demais), mas provocar Lupin era sua prioridade no momento.