Sarah parou um segundo para olhar ao seu redor, mas a profusão de pessoas e luzes não ajudou para que ela completasse sua missão da noite – fugir de Sirius Black. Antes que pudesse perceber que o rapaz se aproximava, ouviu o apelido que ele lhe dera sendo chamado.
- Aussie! – podia ter certeza de que seu coração quase saiu pela boca. O garoto trazia uma taça na mão, e completava a bossa de seu chapéu e óculos escuros com um típico sorriso Sirius Black. Quando ele lhe entregou a taça, seus dedos se tocaram brevemente, e um flash do sonho passou pela mente da menina – Você veio!
- Obrigada – ela agradeceu pela bebida e abaixou o olhar, para não encará-lo, mas, ao fazer isto, reparou na roupa do menino e franziu a testa.
- Como estou? – ele girou na frente dela, que precisou prender um suspiro.
- Ridículo – ela riu, a contragosto. Era incrível que, mesmo com aquela roupa, ele ficasse tão bonito – Mas gostei do chapéu.
- Espera só até você ver o James...! – ele completou, animado. – Então...vamos jogar “vire o whisky”? Acabei de ganhar o primeiro round...
- Ah, bem...vou dar uma volta por aí primeiro – Ficar bêbada com Siriu Black por perto. Péssima, péssima ideia.
Munida do copo que Sirius lhe oferecera, Sarah começou a andar, pela festa, desviando dos grupos que se formavam e dos casais dançantes. Tentava tirar sua mente do rapaz, e, por isso, ia prestando atenção em tudo ao seu redor.
A luz era baixa, mas o suficiente para que se visse bem. Algumas esferas iluminadas giravam pelo teto, lançando luzes azuis e verdes nos convidados. No fundo da sala, sobre o que parecia ser um pequeno palco, um aluno do quinto ano, que ela reconheceu como sendo Lino Thomas, comandava um conjunto de picapes com a sua varinha. Os discos dançavam no ar, trocando-se sem que o rapaz intervisse, e os controles da mesa de mixagem se moviam sozinhos. Sarah nunca tinha visto nada como aquilo.
A garota avistou Abby perto da mesa de bebidas, e se aproximou para cumprimentá-la. Era bom ter alguém conhecido por perto (principalmente alguém com quem você não vinha tendo sonhos eróticos.)
- Abby, oi! Não sabia que você vinha! – Foi só então que a garota percebeu que a outra estava acompanhada de Remus Lupin – Ahn, oi, Lupin! – o rapaz, que por alguma razão parecia um pouco mais pálido que o habitual, cumprimentou-a e pediu licença, se afastando em direção a James Potter.
- Amei o vestido! – Sarah continuou, animada.
- Mesmo? Talvez a Malfoy possa te emprestar – Abby parecia... irritada?
-Shhh, Abby! – Sarah olhou em volta, garantido que ninguém ouvira o sobrenome da terceira garota – você sabe que a gente não pode usar os sobrenomes em público.
- Na verdade, a única coisa que eu sei é que aquela... metida de uma figa me azarou e você não fez nada.
- Abby, o que você...
- Olha, Sarah, eu tenho coisas melhores a fazer, sim? Te envio minha pesquisa por coruja. Por que você não vai aproveitar a festa com a sua amiguinha? – dando as costas, a lufana deu alguns passos de distância da grifinória, e parou num ponto qualquer se balançando com a música.
Sarah a fitou, atônita. “Mais um pouco e o veneno fura o chão”, resmungou, e virou sua taça de hidromel.
Era só o que faltava: ficar no meio do fogo cruzado. Respirou fundo, melhorou sua postura e caminhou, decidida a procurar algo mais forte que hidromel.
Peter Pettigrew se esbarrou nela – e graças a Merlin não a reconheceu – se enfiando no meio de um grupo grande. Em alguns segundos ele apareceu por sobre a cabeça dos estudantes – provavelmente em cima de uma cadeira ou algo do tipo – e começou a fazer barulho. A cena chamou a atenção da garota, que parou para observar.
- Aaaaatenção, senhoras e senhores! Chamando para mais uma rodada de Vira-Whisky! Quem vem, quem vem...
Hã. Vira-whisky? Era exatamente de whisky de fogo que ela precisava.
- EU! – ela falou alto, e alguns convidados se viraram para encará-la. Peter apurou os olhos para ver quem falava, mas não conseguiu. A garota começou a se espremer entre o grupo (podia jurar que ouviu um “Vai nessa, Cooper!” de alguém por quem passou), até alcançar seu centro. Descobriu que sim, Peter estava sobre uma cadeira e, logo ao lado dele, uma mesa já bem suja de bebida derramada, sobre a qual havia uns 20 copos de shot, no momento vazios.
- C-cooper? – Peter desceu de sua cadeira, ficando alguns centímetros mais baixo que Sarah (graças ao salto que ela usava).
- Hey, Pettigrew! Como se joga isso?
- Melhor você não jogar... é... é... Muito whisky! – Sarah riu, sem conter sua pontinha de desdém pelo rapaz.
- Então, eu vou jogar contra quem nessa rodada? – Peter, um tanto desconcertado pela resposta da menina, voltou a subir na sua cadeira.
- Vira-whisky, senhoras e senhores! Já temos nossa primeira desafiante, diretamente das terras da Austrália... Sarah Cooper!
- Eu vou, rabicho! – Sirius apareceu ao lado de Sarah, que deu um pulinho de susto. Sem encará-la, ele continuou – Achei que você ia dar uma volta primeiro.
Sarah logo olhou para frente, encarando dois garotos da Corvinal e um grifinório (que ou tinha 14 anos ou era pequeno demais para o seu tamanho), que se apresentavam para a disputa, e deu de ombros.
- Não tinha muita coisa para ver.
- Ouch.
Peter enchia os pequenos copos com Whisky de fogo, um tanto quanto displicente. Ela só conseguiu lamentar todo aquele esperdício.
- Ok, cinco shots para cada um. Quem acabar primeiro vence! Se passar mal logo depois, perde o título!
- Certeza de que vai fazer isso, Aussie?
- .... Quando eu contar no três...
- Só estaria mais certa se fosse tequila – ela deu de ombros e piscou. Sirius riu e ela espelhou a ação, satisfeita pelo efeito que causara nele.
- ... Dois... Três... Vai!
Sarah começou a beber, virando os copos de vez. Ouvia os gritos de “Vira! Vira! Vira!” Ao seu redor, e percebia que seus
concorrentes se mexiam ao seu lado, mas não tinha como prestar atenção neles. O Whisky descia rasgando, mas a sensação era boa, e ela fazia questão de jogá-lo já no começo da garganta.
Um, dois, três – aqui ela ouviu gritos de “Vai Cooopeeeeer!” – quatro, cinco. Quando Sarah bateu o copinho na mesa, Sirius fazia o mesmo, ao seu lado. Ela olhou para ele e para os oponentes: O garoto grifinório desistira no primeiro shot, um dos corvinais desistiu no terceiro e o outro ainda estava no quarto. Ela voltou a olhar Sirius, os olhos bem abertos.
- Eu venci? – Sirius deu de ombros, um sorriso largo no rosto.
- Acho que a gente empatou, Aussie.
A garota procurou suporte em Peter, o juiz do jogo.
- Bem, eu... eu nunca vi isso antes, mas... acho que vocês... empataram!
- Eu devia ter apostado na garota! – Ela ouviu Mundungus Fletcher gritar, e deu risada.
- É a primeira vez que uma garota vence nesse jogo, Austrália!
- É a primeira vez que uma garota joga esse jogo... – acrescentou Peter.
Sarah sentiu o mundo girar um pouco, e o estômago revirar de leve com todo aquele álcool, mas estava feliz. Respirou fundo, para não passar mal.
- Você está bem? – Sirius segurou-a pela cintura, falando baixo, só para ela, que balançou a cabeça afirmativamente, sorrindo.
Quando reconheceu os primeiros acordes de One way or another, do Blondie, Sarah jogou a cabeça um pouco para trás.
- Yaaay, eu amo essa música!
- Então é melhor a gente dançar! – Sirius usou a mão na cintura dela para puxá-la para a pista de dança. A garota o acompanhou dando uma leve corridinha e começou a se balançar.
“One way or another I'm gonna find ya
I'm gonna getcha getcha getcha getcha
Sarah dançava, mexendo o corpo sensualmente.
One way or another I'm gonna win ya
I'm gonna getcha getcha getcha getcha
A garota cantava a música palavra por palavra, por vezes sem tirar os olhos do rapaz à sua frente.
One way or another I'm gonna see ya
I'm gonna meetcha meetcha meetcha meetcha
Ela brincava com o cabelo enquanto dançava, por vezes fechando os olhos.
One day, maybe next week
I'm gonna meetcha, I'm gonna meetcha, I'll meetcha
Por todo o tempo de duração da música, era quase como se só houvessem eles dois em toda a festa.
I will drive past your house
And if the lights are all down
I'll see who's around
No dia seguinte – quando ela lembrasse de flashes daquela noite – ela teria que negar para sai mesma que estava tentando seduzir Sirius Black.
Logo quando a música acabou, Sarah ria (ah, os efeitos do álcool...) e, pedindo licença a Sirius, foi até o banheiro.
O banheiro conjugado à sala era composto de duas cabines individuais, duas pias e, sobre elas, um enorme espelho. Depois de usar o seu box, a garota se olhou no espelho enquanto lavava as mãos. Deixando os pensamentos vagarem, decidiu ouvir os conselhos do álcool: Ia se divertir para valer nessa festa. Ela merecia, vai...
Arrumou o cabelo com as mãos e tirou o batom vermelho do bolso do blazer.
– Nossa, mas ela é muito esquisita! Será que as pessoas se vestem daquele jeito na Austrália? Quando ouviu o nome do país, a garota parou de retocar sua maquiagem e apurou os ouvidos. Três garotas diferentes pareciam conversar do lado de fora.
– Sério, você já viu como ela evita todo mundo? Às vezes eu pego encarando a Lily, como se odiasse ela. Quem odeia a Lily?
- E ela faz sempre questão de ficar sozinha, já perceberam? É só a gente chegar e ela sai.
- Ai, gente, não é bem assim...
- Sh, Mary, você é muito boazinha. Enfim, de todo jeito, eu conversei com ela no outro dia, e perto do Sirius ela parecia bem normal
- Ih, Lene...
- Será que a Lily ainda vai demorar muito? Sarah se desligou da conversa lá fora quando o som de alguém vomitando na cabine ao lado da que ela acabara de vagar chamou sua atenção. Pela conversa das meninas, só podia ser Lily Evans.
Se olhando mais uma vez no espelho, a menina respirou fundo. Pisando duro, alcançou a maçaneta da porta, abrindo-a de vez. Abriu um enorme sorriso (obviamente, tão grande quanto falso) para Alice, Marlene e Mary, paradas do lado de fora.
- Boa noite, meninas! – podia ser o álcool falando, mas, já que não tinha conseguido se manter despercebida, naquele momento ela resolveu parar de se esconder do mundo – ótima festa, não?
Sem esperar resposta, se misturou aos demais á procura de diversão.
*****
De repente, a sala começou a esvaziar. Era perto de dez horas – horário do toque de recolher aos finais de semana – e uma parte considerável dos alunos não quis arriscar de ser pego vagando por aí depois do horário. A população da festa foi reduzida à metade - aparentemente a metade mais animada - e Sarah achou que era melhor participar deste grupo. Havia bebida, havia comida, havia música e ela estava afim de se divertir. Depois dava um jeito de voltar à torre da Grifinória.
A festa continuou durante mais algum tempo. Tinha conversado com algumas pessoas durante a noite, sugerira músicas para o DJ e dançara bastante. Quando bateu o cansaço, sentou-se um momento para descansar (e tirar os sapatos) e viu que os marotos estavam bem próximos.
Peter dormia no sofá, a boca aberta. Sarah lembrou de ouvir alguém dizer que ele tinha passado mal, mas não prestara atenção. Em pé, ao lado dele, os outros três marotos pareciam discutir algo importante - falavam baixo, com expressões preocupadas e olhavam frequentemente para um pedaço de pergaminho que um deles segurava. A garota começou a prestar atenção neles. De repente, Remus falou algo e Sirius acenou afirmativamente, partindo em direção ao pequeno palanque de Lino Thomas.
James e Remus passaram pela garota, apoiando um Peter semi-consciente. Os três seguiram em direção a porta de saída sala. Assim que o Sirius alcançou o DJ e falou algo em seu ouvido, este arregalou os olhos, e Sarah pôde ler o que seus lábios falavam com espanto:
McGonnagal? Ok. Aquilo não podia ser um bom sinal. A música cessou imediatamente, e o Maroto ao lado de Thomas pigarreou.
- Então, meus caros. Eu tenho uma boa e uma má notícia para dar. - Sarah olhou para a porta, procurando pelos demais marotos, mas não os encontrou - A boa notícia é que esta foi a melhor festa que já fizemos até hoje – algumas pessoas deram gritinhos de incentivo – e a má... É que aparentemente nossa querida vice-diretora está a caminho daqui, com o mala velha do Filch. – a maior parte dos alunos se olhou, meio desesperada – Então, eu sugiro que vocês saiam ordenadamente... Pela direita, porque eles estão vindo pelo corredor à esquerda.
Sarah sentiu os efeitos do álcool a abandonarem. Ela sabia que provavelmente não daria tempo de alcançar a porta – ela estava do outro lado do salão, e havia pelo menos três dezenas de pessoas para sair pela porta. Calçou os sapatos e se levantou calmamente, cruzando o salão como se não tivesse urgência alguma em sair dali.
No tempo em que a garota levou para atravessar a sala, ainda havia apenas dois ou três alunos entre ela e a porta. No instante seguinte, a esguia figura da professora McGonnagal apareceu bloqueando a passagem, usando um robe para cobrir sua camisola, e aparentando estar furiosa.
Sarah prendeu a respiração e olhou à sua volta. Além dos alunos entre ela e a professora Minerva - ela não conseguiu identificá-los, mas depois descobriria se tratar de um dos corvinais com quem jogou Vira-Whisky e de Xenophilus Lovegood - continuavam na sala apenas Sirius, Lino Thomas e sua namorada, que também se aproximavam da porta.
A única coisa que passou pela cabeça da garota foi um palavrão.