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O Sábado já estava quase na metade, e Sarah não podia conter o tédio. Tentara ler no quarto, no salão comunal, na biblioteca... E apenas não conseguia mais avançar na leitura. Era um sábado de sol, e havia uma visita a Hogsmead, por Merlin! Eram duas das coisas que ela mais gostava, e ainda assim, ali estava ela, carregando uma enorme edição de “Teoria dos Universos Paralelos” pelos corredores semivazios do castelo, indo em direção aos jardins, numa última tentativa desesperada de vencer as pouco mais de duzentas páginas que ainda precisavam ser lidas.
Subindo as escadas que Sarah descia estava Emma, e esta carregava um livro tão grande quanto o daquela.
- Oi, M...Richmond! – Sarah não percebera, mas algo dentro dela guardava a esperança de que a sonserina teria encontrado a resposta que ela mesma tinha sido incapaz de encontrar. Não estivesse distraída por sua própria expectativa, a morena teria percebido que nada na feição da loira era indício de uma boa notícia.
Emma a encarou, demorando alguns segundos para sair dos próprios pensamentos.
- Nipps, oi...
- Cooper – obtendo como resposta um olhar inquisitivo da colega, Sarah continuou – o nome. Você usou o... – aqui, ela diminuiu um pouco a voz, ainda que não houvesse ninguém por perto –
outro nome .
- Ah, claro. – Emma realmente parecia cansada com sua expressão abatida – Bem, eu estava a caminho da biblioteca – a garota começou a subir alguns degraus, antes que a outra pudesse lhe responder.
- Eu não faria isso se fosse você! Alguns primeiranistas resolveram que são os herdeiros dos Marotos e tiraram o dia para infernizar miss May.
Emma apenas suspirou, e começou a descer os degraus, diminuindo a distância entre as garotas.
- Vou voltar para as masmorras, então.
Emma realmente parecia abatida. Nem um xingamento para os primeiranistas? Isso não era a cara dela. Enquanto desciam os degraus juntas, Sarah quebrou o silêncio que se instaurara repentinamente.
- Eu... Estou a caminho do jardim. Talvez consiga ler algo lá. Por que você não vem?
Emma suspirou, e apenas acenou que sim. Desceram os demais lances de escadas, enquanto Sarah tentava enumerar mentalmente a quantidade de vezes em que falara com a sonserina antes do acidente no trem. Não havia sido muitas – a grifinória não conseguia se decidir entre seis ou sete.
Sentaram-se em silêncio em um banco apenas alguns metros distante de Filch e das carruagens que levavam e traziam os alunos incessantemente.
- Eu costumava adorar Hogsmead – a morena quebrou o silêncio novamente, embora tivesse falado mais para o Universo que para Emma. Esta levantou o olhar do livro, marcando o ponto em que parara de ler com o indicador – Você acha que a vila mudou muito?
Emma deu de ombros, voltando os olhos para o livro, só respondendo depois de alguns segundos:
- Acho que Hogsmead nunca mudou muito, na verdade.
Sarah suspirou, fitando o reflexo do sol na superfície do Lago Negro, antes de continuar:
- Sabe, eu poderia tomar um pouco de Cerveja amanteigada.
Emma apenas sorriu, sem tirar os olhos de seu livro.
- Eu poderia tomar um porre de uísque de fogo, isso sim.
Sarah riu, balançando a cabeça negativamente, enquanto tentava recuperar seu ponto de leitura no próprio livro.
- Sabe... – Emma começou, procurando as palavras corretas para concluir seu pensamento – tem esse restaurante... Chama Batutto Incantato. O nome é péssimo – a garota soltou um sorriso meio fraco – Eu costumava almoçar lá com meu irmão, nos passeios a Hogsmead. Quando ele ainda estava na escola. Eles têm o melhor risoto de calamari da Inglaterra mágica – finalmente encarando Sarah, ela continuou – e eles têm uma política bem
solta no que diz respeito a servir vinho...
Sarah sorriu, entendendo o que a outra queria dizer.
- Almoço em Hogsmead, então?
Finalmente, um brilho de animação passava pelo rosto das meninas.
- Preciso me arrumar – Emma disse, se levantando – você não vai
assim , vai?
Sarah ignorou a pergunta, levantando enquanto caminhavam juntas para a entrada do castelo.
- Nos vemos aqui em vinte minutos?
- Vinte minutos – Emma concordou, e foi em direção às masmorras.
Sarah subiu os degraus de dois em dois, desejando que a torre da Grifinória não ficasse no sétimo andar.
*****
Entre alcançarem seus dormitórios, se arrumarem – Sarah escolheu uma saia preta, de cintura alta e que deixava cerca de 2/3 de suas coxas à vista e uma camiseta dos Rolling Stones, enquanto Emma colocou um vestido preto, simples, mas de caimento perfeito – voltarem ao térreo e esperarem a carruagem chegar até a Vila, as meninas gastaram cerca de uma hora. O sol já estava a pino (era pouco mais de meio dia quando elas chegaram) e as ruas, apinhadas de alunos, moradores da cidade ou visitantes desavisados, que escolheram o fim de semana errado para aparatar por ali.
- Onde fica este restaurante, afinal de contas? – Emma e Sarah caminhavam há alguns minutos, se afastando cada vez mais da rua principal; a primeira guiando o caminho.
- Você não acha que este restaurante seria bom se ficasse na rua principal, certo? Os alunos de Hogwarts, sozinhos, já seriam capazes de estragá-lo
Pouco depois, Emma parou de breque, encarando um sobrado que já foi charmoso algum dia, mas que agora era apenas uma casa sem tantos cuidados.
- O que houve? – Sarah se aproximou, parando ao lado da sonserina. Emma ensaiou responder, vários tons diferentes de frustração em seu rosto. A grifinória pareceu entender – o restaurante ainda não existe, né?
Emma apenas sacudiu a cabeça, retomando a expressão abatida que hospedava seu rosto no castelo.
- Três Vassouras, então? A primeira rodada de cervejas amanteigadas é por minha conta – Sarah piscou um olho, enquanto seu ombro batia de leve no ombro de Emma. Ambas retomaram o caminho por onde vieram, sem clima para muita conversa.
Em algum ponto entre o futuro-Batutto-Incantato e o Três Vassouras, Sarah decidiu enfrentar uma fila numa barraquinha para comprar água, deixando Emma sozinha por alguns minutos. Quando voltou, já com duas garrafas de água nas mãos, encontrou-a em frente a uma vitrine, parecendo brincar com alguns filhotes de gato e de coruja através do vidro.
- Então... você é uma pessoa de animais? – a grifinória ofereceu uma das garrafas à sonserina, que aceitou, sorrindo sem muita vontade.
- Eu normalmente venho aqui quando preciso me animar...
- Humn... – Sarah ficou alguns segundos em silêncio, olhando dois gatinhos se embolarem numa das gaiolas – Eu ouço música, sabe. Quando preciso me animar. Ou assisto uma partida de Quadribol... – ela deu de ombros, e tomou um gole da sua garrafa.
Emma sorriu, desta vez com um pouco mais de vontade.
- Xingar o time adversário realmente ajuda.
Sarah riu. Tinha sido uma boa ideia sair do castelo.
- Hey! Pronta para encarar uma Madame Rosmerta muitos, muitos, muitos anos mais nova?
*****
Cheio.
Não, Muito Cheio.
Melhor, Socado.
Sarah tentava encontrar a melhor palavra para definir o estado do Pub. Aparentemente, o Três Vassouras tem sido o bar favorito de todos os alunos de Hogwarts há mais tempo do que ela imaginava. Como se oferecera para pagar a primeira rodada de cervejas amanteigadas – e Emma
espertamente se oferecera para segurar uma mesa – a garota foi tentando abrir caminho entre a multidão até o que parecia ser a fila para o balcão.
- Bom dia, duas cervejas amanteigadas, por favor! – a menina estava tão ocupada procurando o dinheiro na sua bolsa que sequer encarou a garçonete que estava despachando os pedidos atrás do bar.
- Ora, mas você é nova por aqui! E não parece ter treze anos!
Sarah piscou os olhos algumas vezes para a mulher à sua frente, antes de reconhecê-la.
Madame Rosmerta. Por Merlin, ela não deve ter mais de 25 anos!! No que pareceu ser um movimento em câmera lenta, colocou o pagamento pelas cervejas sobre o balcão, ainda em silêncio.
- Nós já sabemos que você não é muda, querida – Rosmerta serviu as duas canecas a Sarah.
- Não, ela é australiana! – Uma voz masculina falou à sua direita, e Sarah virou a cabeça para ver quem estava falando dela.
- Oh, você é uma das intercambistas! Seja bem-vinda! – Rosmerta continuou, mas a menina já não a ouvia mais.
- Pettigrew – seu estômago revirou, enquanto evitava o olhar do garoto e pegava suas canecas, com a clara intenção de deixa-lo falando sozinho.
- Olha, eu estou com o James naquela cabine ali! Oh, olha, o Sirius e a Marlene também chegaram. Você quer sentar com a gente? - Peter apontava para uma mesa encostada na parede, e Sarah seguiu com os olhos a linha imaginária traçada por seu dedo, sem conseguir conter a curiosidade.
Sirius e Marlene acabavam de se sentar à mesa. Quando os olhos dele cruzaram com os de Sarah, ele sorriu abertamente, levando os dedos indicador e médio à têmpora, em uma espécie de cumprimento e, logo depois, quebrou o contato visual para roubar um gole da caneca de James, sentado à sua frente.
Sarah não percebeu, mas sua boca desenhou um sorriso de canto com a imagem do rapaz.
- E então, você vem? – Peter a encarava, os olhos transbordando ansiedade.
- Não, eu... Estou acompanhada – dando as costas para Peter, ela ainda pôde ouvi-lo falar, por sobre o burburinho do bar, “A gente se vê depois, então”.
Com esforço para não derrubar nada das canecas, Sarah finalmente alcançou a mesa em que Emma estava, e passou uma das cervejas para ela.
- Então... você já tem um pretendente... – Emma trazia um sorriso divertido no rosto.
- QUÊ? – Sarah pegou sua caneca com as duas mãos, dando um gole maior do que o necessário. Será que Emma estava falando de Black? Ele só trocara poucas palavras com ela, aquilo era ridículo.
- Pettigrew – a loira respondeu – deu pra ver
daqui que ele está de quatro por você.
Sarah engasgou com a cerveja, e começou a tossir.
- Era só o que me faltava, Malfoy!
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