Never ends

Por algum motivo, abraçar Remus a acalmou e Ollie não demorou a parar de chorar. Sem querer pensar o que tudo aquilo significava, ela afastou o rosto do ombro dele:

- Eu definitivamente preciso de chocolate. – a voz dela ainda saiu um pouco embargada e os dois foram até a mesa que o rapaz ocupava. Remus entregou um chocolate a ela, e Ollie sentiu como se não estivesse vendo as coisas da perspectiva certa.

- Obrigada – ela se sentou na cadeira desocupada e suspirou contente depois de morder o chocolate – Desculpe por agir feito uma louca. - ela sorriu, meio sem graça. Remus sabia como lidar com garotas hormonais, ela tinha que lhe dar crédito. Sentindo que ele merecia uma explicação, ela voltou a falar - Eu...eu encontrei a Grace e Ava no banheiro e elas falaram umas coisas horríveis pra mim.

Ela franziu a testa:


- Não sei porque ainda me abalo. Eu já devia estar acostumada...mas é que elas sempre dão um jeito de falar da minha aparência. Não tem como não me sentir... - ela deu de ombros.

Sirius cruzou os braços, analisando Grace de cima a baixo. Ele sabia que aquela peça era importante para ela, mas ele definitivamente odiava palcos. Ser o centro das atenções não era o dom dele... e ele teria que decorar todas aquelas falas...

Lembrando que ele precisava de créditos para melhorar sua imagem com o diretor, Sirius decidiu aceitar. Mas com algumas condições.

Ele vocalizou aquilo em voz alta e Grace o encarou, cheia de expectativa:


- É só vou fazer isso dessa vez, capice? - quando a garota concordou, ele continuou a falar seus termos - E você tem que pedir desculpas à Ollive McGonagall e Remus Lupin.

Ollie e Remus eram seus amigos agora e Sirius sentia que era dever dele protegê-los. E ainda por cima ele ensinaria uma liçãozinha à Grace Geller sobre humildade...

- Ollie... – Remus tentou procurar as palavras certas. É claro que ele via o apelo em garotas de roupas curtas e saltos altos, mas elas eram... – “Fúteis” é a única palavra que eu consigo pensar para descrever essas meninas. O único motivo pelo qual elas sempre falam da sua aparência é porque elas não têm outro assunto. Aposto que se você tentasse conversar sobre literatura com uma delas, as cabecinhas supermaquiadas delas explodiriam...

Remus sorriu e estendeu a mão para o braço dela – inconscientemente, seu polegar começou a acariciar a pele macia da menina.

- Você não vai acreditar nisso, mas você é bonita – as bochechas de Remus esquentaram e ele percebeu que estava bem distante da sua zona de conforto, mas sabia que não podia parar a conversa ali – e inteligente, e divertida... Eu não te trocaria pro nenhuma daquelas meninas, nunca.

O olhar dele cruzou com o dela e ele retesou a mão muito consciente da proximidade deles. Com um pigarro, ele abriu o livro sobre a mesa, e se fixou em procurar a página certa.

- Tem mais chocolate na minha mochila, se você quiser.

Grace sentiu a expectativa murchar dentro dela. Por Deus, ela imaginava qualquer tipo de condição – tinha até se preparado para beijá-lo, se fosse o caso – mas aquilo...?

- Pedir desculpas? Pelo quê? Eu nunca nem falei com o Lupin... – como ele deu de ombros, ameaçando deixá-la sem protagonista, ela fez um biquinho e bateu um pé no chão, tal qual uma criança mimada – tá bom... Mas fique avisado que eu sou o menor dos problemas deles dois.

Ainda emburrada, ela foi até a bolsa, puxando o roteiro e esticando em direção a ele.

- Você já deve ter me ouvido ler metade dele, pelo menos. E eu aposto que você conhece todas as músicas.

E, vendo que ele parecia se divertir com a expressão dela, a garota deu um passo para frente, diminuindo a distância entre eles e tentando soar ameaçadora (o que, graças à diferença de altura, não funcionava muito bem):

- Sua sorte é que eu preciso muito de você, Sirius Black.

Ollive sentia-se tonta com os elogios de Remus e quando o garoto voltou sua atenção para os estudos, ela aproveitou para encará-lo, ainda estupefata com tudo que ele tinha dito sobre ela.


Enquanto estudava o perfil dele, ela sentia como se estivesse vendo-o pela primeira vez de fato. Antes, tudo que ela enxergava era um rapaz alto e meio desengonçado, mas agora...agora Ollie tinha que admitir que Remus Lupin era um rapaz bastante atraente:  os cílios longos e castanhos dele eram de dar inveja, assim como o cabelo bem penteado. E os lábios dele... Talvez fosse a luz da biblioteca ou os hormônios dela, mas os lábios de Remus pareciam macios e beijáveis e ela se perguntou se ele já tinha namorado alguém antes.

Ela engoliu em seco e mordeu a bochecha, para se impedir de pensar aquele tipo de coisa.

- Obrigada, Remus. - ela aproximou a cadeira da dele e, num momento de coragem, depositou um beijo em sua bochecha - Eu vou tentar me lembrar disso da próxima vez - ela sussurrou - Obrigada pelas palavras e pelo chocolate.

Ela se levantou:

- Agora eu também preciso estudar. - ela sorriu e foi pegar uns livros (na verdade ela só queria sair de perto dele antes que fizesse algo mais embaraçoso ainda)

- Vou tentar me lembrar disso, princesa. E esperarei ansioso por suas desculpas – ele piscou e passou os olhos rapidamente pelo script. Grease...que clichê.

(é óbvio que ele já sabia a maioria das cenas e falas, e ele se odiou por ser tão fanático por filmes antigos)

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Sirius estava encostado em seu armário, saboreando a cena que transcorria a poucos metros dele: Grace estava pedindo desculpas à Ollie e uma pequena multidão as cercava, achando que testemunhariam o bullying de sempre.

E ele estava adorando aquilo. Grace estava nervosa e gaguejava e, céus, ele devia ter se lembrado de trazer uma máquina...

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A primeira cena de Grease era a que Sandy e Danny se conheciam na praia. Céus...ele tinha mesmo que cantar E dançar? Que pesadelo!

Sem contar que Sirius não conseguia se fingir de apaixonado.


- Eu falei pra você que não sou bom nisso – ele disse depois da quarta tentativa deles de cantarem a segunda música da peça. - Isso não vai dar certo, Geller...Por que não pede ao seu namorado fazer o papel do Danny?

- Ollive... me... me desculpe, ok?  - Grace estava com os braços cruzados e não conseguia encarar a ex-amiga; se aquela cena estivesse acontecendo anos atrás, quando ela teria dado um pedaço do próprio corpo para ser perdoada por Ollie... Mas agora, no presente, e rodeada por uma pequena multidão... céus, GG só queria abrir um buraco no chão e desaparecer.

- Você nunca fez nada para merecer as provocações e minhas amigas e eu... nós n-não devíamos ficar no seu pé. Eu... s-sinto muito – ela quis mencionar a fotografia da sétima série que as separara, mas aquilo parecia completamente fora de contexto – por tudo.

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- Claro, o Ethan daria um ótimo Danny... Se ele pudesse fazer isso de dentro da piscina e arrotando cerveja... - - ela respondeu distraidamente, e, ao se dar conta da gafe que cometera, levantou os olhos lentamente do roteiro que folheava, constrangida.

(Porque ela desatava a falar sem freios perto dele?)

- Er... não se preocupe com a atuação, ok? Eu seguro as pontas... pelo menos por enquanto. Eu só preciso que você cante direito, aprenda as coreografias e decore as falas. Vem cá – ela o puxou pelas mãos até o meio do palco – acha que já acerta em Summer Nights?

Ela deu play no rádio e caiu na risada quando ele tentou dançar.

- Sirius, é sobre o quadril – ela parou em sua frente e o segurou pela lateral do corpo, remexendo-o para um lado e para o outro, tentando fazer com que ele ficasse menos preso – Eu preciso que você rebole, ok?

Por causa da proximidade e da diferença de altura, Grace precisou olhar para cima para encará-lo. Pela primeira vez, ela olhou com atenção para o rosto dele. O nariz era reto e do tamanho exato; as sobrancelhas, grossas, e estavam franzidas sob os olhos que ela ainda não decidira se eram azuis ou cinza; o maxilar, em um ângulo perfeito, terminava em um queixo quadrado, completo pelos lábios... convidativos.

Foi só então que Grace percebeu que o estava encarando. Como se tivesse levado um choque, desfez rapidamente o contato com ele e tentou disfarçar:

- Você nunca tira esse casaco? – ela deu alguns passos para trás, evitando encará-lo enquanto refazia o seu rabo de cavalo – Só de te olhar tá me dando calor...

Remus emergiu da piscina, cansado após o fim do treino de pólo. Ele honestamente mal olhava o caminho até o vestiário, esfregando os olhos preguiçosamente, e só percebeu que esbarrara em alguém quando já a segurava pelos ombros.

- Desculpe – ele sorriu para a garota ruiva em seus braços.

- Tudo bem... – ela sorriu de volta, aparentemente sem se importar com o fato de estar sendo molhada pelo contato com o rapaz.

- Arranjou uma fã, Lupin? – Nate brincou, a caminho do vestiário, fazendo com que Remus corasse um pouco e imediatamente soltasse a garota.

- Er... tchau! – ele a cumprimentou com um aceno de cabeça antes de seguir os colegas.

Diabos... talvez Peter, o amigo que ele deixara em Godric’s Hollow, estivesse certo: Remus precisava de alguma experiência com o sexo oposto urgentemente.

***

Olive estava estranhamente quieta no jantar daquela noite.

- Tudo bem aí, Ollie? – ele perguntou, enquanto lhe passava a salada.

Ollive estava a caminho da sala de aula quando percebeu que alguns alunos a encaravam, mas só parou de andar quando seu caminho foi interceptado por Grace. Assim que viu a loira em seu caminho, Ollie abraçou o livro de Física contra o peito, se perguntando do que a ex-amiga faria chacota aquele dia – as roupas ou o cabelo dela? - e se preparou para o comentário e as risadas (e a pequena multidão também olhava a cena com expectativa)

Ela, que estava preparada pra qualquer tipo de piada, não conseguiu acreditar quando Grace lhe pediu desculpas.  Desculpas. Uma palavra que ela achou que a loira jamais falaria – não direcionada a ela.

Ollie respirou fundo, ainda estupefata:

- Ahn...C-certo – ela encarava os pés, a testa franzida – Desculpas aceita, Geller.  

E antes que pudesse compreender de fato aquela cena toda, Grace girou nos calcanhares e foi embora dali. Os outros alunos deram de ombros e também seguiram com suas vidas, meio decepcionados. Ollie ainda ficou parada por alguns minutos, a ficha caindo aos poucos e só quando a sineta tocou é que ela lembrou que precisava ir para a aula.

_____

Ollie estava ajudando a professora de Educação Física a carregar uns materiais para o depósito quando passou pela piscina onde o pessoal de pólo treinava. Seus olhos passaram rapidamente por Ethan e pousaram em Remus Lupin. Ela parou de andar para prestar atenção - nunca tinha parado para ver Remus treinar pólo, mas pelo jeito ele era bom. 

Os olhos dela estreitaram quando Natalie, uma garota do ano dela, saiu da arquibancada e esbarrou nele ao que parecia ser de propósito. Remus ficou tão sem jeito, que Ollie não pôde evitar ficar vermelha pelo garoto. Natalie, no entanto, parecia estar adorando tudo aquilo. 

Ollie chacoalhou a cabeça e continuou seu caminho.

_____

Ollie pegou a salada, ainda tentando evitar contato visual:

- Ahn, certo.  - ela mentiu. Por algum motivo ela sabia que Remus não acreditaria nela e ergueu os olhos, dando um sorriso forçado ao rapaz só para assegurá-lo. - Tudo certo.

- Como foi o treino de pólo? - ela não conseguiu se segurar.

- Foi tudo bem! – Remus respondeu, animado, sem perceber o tom diferente que Ollie usara para fazer a pergunta – Eu acho que finalmente estou pegando o jeito...

- Isso é ótimo, querido – Minerva, sentada à cabeceira da mesa, sorriu-lhe – Mas a srta. Nixon fez muitos elogios a você... Ao que parece, a depender do seu rendimento no próximo jogo, ela está considerando a hipótese de te tornar capitão do time...

Remus quase engasgou com seu suco.

- Ca-capitão?

- Exatamente –Minerva sorriu mais uma vez – e, embora eu ache que o Lyall soltaria fogos de artifício, eu esperaria até após a partida para contar para ele... Ollie, e aquele concurso de que você vivia falando? Quando abrem as inscrições?

Remus não prestou mais atenção na conversa. Com o olhar fixo em seu prato, ele sentia os ouvidos zumbirem com a notícia de que poderia virar capitão do time. Enquanto parte dele celebrava (ele jamais imaginou que se importaria tanto com um esporte), a outra parte estava inundada com receios: Se Ethan sonhasse que perderia o seu post, ele e seus amigos voltariam a aterrorizá-lo em apenas uma fração de segundo.

Oh, droga, no que ele tinha se metido?

***

O silêncio na biblioteca era interrompido apenas por passadas esporádicas e pelo farfalhar de páginas sendo viradas, mas, para Remus, que errava a mesma questão pela terceira vez e que já estava começando a ficar cansado, até mesmo o grafite riscando os cadernos era um barulho alto demais.

- Ollie... – Remus sussurrou, a lista de tarefas que a professora de física tinha passado em mãos – Você conseguiu resolver a nº 20? Minhas contas não estão batendo...

Nas poucas ocasiões em que sua mãe estava em casa, Grace fazia o máximo que podia para não a incomodar. Janet Geller podia ter um temperamento terrível, e, por mais covarde que isso parecesse, GG preferia deixar os gritos e ordens da mãe para a empregada da família.

Por isso, ela estranhou quando o que pareciam ser vozes masculinas vazaram pelo seu fone de ouvido. Liberando uma das orelhas, manteve-se em silêncio, tentando identificar quem gritava. Não era em sua casa, ela decidiu, por fim, mas aquele também não era um comportamento comum na vizinhança.

Entre o cortinado da janela de seu quarto, Grace via pouco mais que a casa dos Black – sempre com as pesadas cortinas cobrindo as janelas, a única exceção sendo o cômodo imediatamente em frente ao seu – e um pedaço das casas dos Hummel e dos Finnigan, do outro lado da rua. Tudo parecia quieto, e a única pessoa do lado de fora era um garoto levando seu cachorro para passear. Nada naquela imagem combinava com os gritos que ela ouvia.

Eram ameaças, palavrões e reclamações, tão próximas que ela se convenceu de que sua origem só podia ser da casa ao lado. Com o cenho franzido, ela tentou identificar melhor as palavras vociferadas por aquelas vozes masculinas. Ela imaginou ter identificado Sirius – eles já passavam bastante tempo juntos nos ensaios, agora, o suficiente para que ela lhe atribuísse um dos timbres daquela discussão.

De repente, as vozes ficaram mais próximas. Sirius entrou em seu quarto, afobado, e colocou o peso contra a porta, tentando impedir que quem quer que estivesse do outro lado a abrisse.

O coração de Grace batia na ponta dos seus dedos enquanto ela assistia às fortes batidas do outro lado. Foi somente quando Sirius se virou, procurando qualquer coisa pelo quarto, que ela se afastou da janela, ciente de que estava invadindo a sua privacidade. A curiosidade ainda fez com que ela tentasse espiar de novo, mas tudo o que viu foi o rapaz escapando janela a fora.

***

Naquela tarde, Grace entrou no auditório com dois copos de café nas mãos – ela demorara bastante para dormir e, até então, não vira Sirius escalar novamente até o seu quarto, então imaginou que fosse precisar da bebida.

Os outros alunos da peça ensaiavam “Beauty School Dropout” no palco, e demorou pouco até que ela o encontrasse, sentado em uma das poltronas do fundo, pés jogados sobre a fileira da frente.
- Tudo bem aí? - ela se aproximou, oferecendo o copo dele e forçando-o a baixar os pés, para que ela pudesse passar por ele e se sentar ao seu lado.

Um gole do líquido fumegante desceu por sua garganta enquanto ela observava anjos futuristas cantarem e dançarem em uma lanchonete de faz de conta.

- O número está ficando bom – um sorriso curvou os lábios milimetricamente pintados e ela se virou para ele. A lembrança da noite anterior dançou em sua mente, e Grace engoliu em seco – Escuta... tá tudo bem na sua casa? – Ela perguntou, por fim, as palavras atropelando-se ao deixar sua boa – Eu... ouvi um barulho ontem...