"Às vezes parece que foi ontem. Formando-se no colégio, dizendo adeus. Aquela sensação que você tem aos 17 ou 18 anos, que ninguém no mundo esteve tão próximo, amou tão ferozmente, riu com tanta vontade ou se importou tanto assim. Às vezes parece que foi ontem. E, às vezes, parecem as lembranças de outra pessoa."
Flashbacks
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- Mensagem nº2
Re: Flashbacks
[1º de setembro de 1971]
[Rebecca Montgomery]
Vozes. A coisa mais marcante sobre aquela noite eram as vozes. Pelo menos uma centena de vozes agudas e excitadas preenchiam o hall de entrada, enquanto, através de algumas cabeças, a pequena Rebecca Montgomery encarava a grande porta de madeira que ligava o hall ao salão principal. À medida em que os futuros colegas conversavam ao seu lado, a garotinha apenas fitava os entalhes na madeira, sentindo as mãos suarem de nervosismo.
E se ela não fosse selecionada para nenhuma das casas? E se a irmã mais velha estivesse certa, e ela não fizesse nenhum amigo na escola? E se eles a mandassem de volta para casa na manhã seguinte, alegando que ela não tinha poderes suficientes?
Becca cerrou as pálpebras sobre suas íris castanhas, e respirou fundo, tentando controlar a ansiedade – até aquele momento, ela não sabia que poderia ficar tão nervosa com algo.
Inspira.
“Vai ficar tudo bem, querida.” A mãe lhe dissera umas mil vezes naquele dia.
Expira.
“Ora, Becksie, você não acha que vai fazer amigos no castelo, acha?” A voz de Rachel ecoava em sua cabeça.
Inspira.
- Ai! – Rebecca arregalou os olhos, encarando os dois garotos morenos que acabavam de esbarrar nela, enquanto corriam para a frente do grupo – vê se olha por onde anda!
- Ooopa! – os dois riam descontroladamente, mas foi o menino de óculos e cabelos despenteados que tomou fôlego suficiente para falar primeiro (logo antes de cair no riso novamente).
- Talvez você devesse experimentar aumentar o grau dessa coisa no seu rosto – o outro garoto, o mais alto e com olhos estranhamente cinzentos apontou com o queixo os óculos fora de moda que ela usava, e a fitou com um ar de desdém com o qual ela nunca havia se deparado antes– Da próxima vez, saia da frente, quatro-olhos! – ele completou a frase com um sorriso debochado, e Becca ajeitou os óculos no rosto, se sentindo estranhamente diminuída com o modo como ele falava.
-Ei! Nada legal! - o menino de óculos deu um tapinha no ombro do amigo, com uma careta, e ambos voltaram a subir as escadas correndo, enquanto Rebecca apenas bufou, estreitando os olhos para eles.
- Não liga pra eles – uma voz à sua esquerda chamou a sua atenção, e ela virou a cabeça, dando de cara com os grandes olhos azuis e o sorriso amplo de uma menina loira – eles vieram aprontado o tempo todo no trem. Ouvi dizer que uma corvinal do segundo ano ficou com chicletes de sangue grudados no cabelo, e que eles convenceram um calouro a explodir um pacote de feijõezinhos na própria cara. Aquele ali – o olhar de Rebecca seguiu na direção em que a loira apontava, e encontrou um menino de cabelos cor de areia (cujo rosto ainda trazia algumas manchas resultantes da combustão, apesar do óbvio esforço para se limpar).
Ótimo – ela pensou – primeiro dia de aula e já temos encrenqueiros.
- A propósito, eu sou Acantha Price – a menina loira estendeu a mão em direção a ela, que a aceitou.
- Rebecca Montgomery – era a primeira vez, desde que se despedira dos pais, que garotinha de trancinhas no cabelo se permitia sorrir.
[Rebecca Montgomery]
Vozes. A coisa mais marcante sobre aquela noite eram as vozes. Pelo menos uma centena de vozes agudas e excitadas preenchiam o hall de entrada, enquanto, através de algumas cabeças, a pequena Rebecca Montgomery encarava a grande porta de madeira que ligava o hall ao salão principal. À medida em que os futuros colegas conversavam ao seu lado, a garotinha apenas fitava os entalhes na madeira, sentindo as mãos suarem de nervosismo.
E se ela não fosse selecionada para nenhuma das casas? E se a irmã mais velha estivesse certa, e ela não fizesse nenhum amigo na escola? E se eles a mandassem de volta para casa na manhã seguinte, alegando que ela não tinha poderes suficientes?
Becca cerrou as pálpebras sobre suas íris castanhas, e respirou fundo, tentando controlar a ansiedade – até aquele momento, ela não sabia que poderia ficar tão nervosa com algo.
Inspira.
“Vai ficar tudo bem, querida.” A mãe lhe dissera umas mil vezes naquele dia.
Expira.
“Ora, Becksie, você não acha que vai fazer amigos no castelo, acha?” A voz de Rachel ecoava em sua cabeça.
Inspira.
- Ai! – Rebecca arregalou os olhos, encarando os dois garotos morenos que acabavam de esbarrar nela, enquanto corriam para a frente do grupo – vê se olha por onde anda!
- Ooopa! – os dois riam descontroladamente, mas foi o menino de óculos e cabelos despenteados que tomou fôlego suficiente para falar primeiro (logo antes de cair no riso novamente).
- Talvez você devesse experimentar aumentar o grau dessa coisa no seu rosto – o outro garoto, o mais alto e com olhos estranhamente cinzentos apontou com o queixo os óculos fora de moda que ela usava, e a fitou com um ar de desdém com o qual ela nunca havia se deparado antes– Da próxima vez, saia da frente, quatro-olhos! – ele completou a frase com um sorriso debochado, e Becca ajeitou os óculos no rosto, se sentindo estranhamente diminuída com o modo como ele falava.
-Ei! Nada legal! - o menino de óculos deu um tapinha no ombro do amigo, com uma careta, e ambos voltaram a subir as escadas correndo, enquanto Rebecca apenas bufou, estreitando os olhos para eles.
- Não liga pra eles – uma voz à sua esquerda chamou a sua atenção, e ela virou a cabeça, dando de cara com os grandes olhos azuis e o sorriso amplo de uma menina loira – eles vieram aprontado o tempo todo no trem. Ouvi dizer que uma corvinal do segundo ano ficou com chicletes de sangue grudados no cabelo, e que eles convenceram um calouro a explodir um pacote de feijõezinhos na própria cara. Aquele ali – o olhar de Rebecca seguiu na direção em que a loira apontava, e encontrou um menino de cabelos cor de areia (cujo rosto ainda trazia algumas manchas resultantes da combustão, apesar do óbvio esforço para se limpar).
Ótimo – ela pensou – primeiro dia de aula e já temos encrenqueiros.
- A propósito, eu sou Acantha Price – a menina loira estendeu a mão em direção a ela, que a aceitou.
- Rebecca Montgomery – era a primeira vez, desde que se despedira dos pais, que garotinha de trancinhas no cabelo se permitia sorrir.
Última edição por Admin em Dom Mar 13, 2016 2:24 pm, editado 1 vez(es)
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- Mensagem nº3
Re: Flashbacks
[3º ano. Dezembro 1973]
[Rebecca Montgomery]
No auge de seus treze anos, Rebecca tinha como convicção pessoal a ideia de que era impossível ter um mau dia na época do Natal. Fã incondicional das festividades de fim de ano, ela costumeiramente era a primeira em seu ano acordar no dia em que a maior parte dos alunos pegaria o expresso de Hogwarts a caminho de casa. Aquele ano, no entanto, ela estava prestes a descobrir que maus dias podiam acontecer em qualquer época.
Ao contrário dos anos anteriores, Becca foi a última a se levantar, apenas quarente minutos antes das carruagens começarem a deixar o terreno da escola. O café da manhã já tinha sido perdido, bem como o ritual de admirar a espessa camada de neve cobrindo as dependências do castelo, mas aquilo era apenas uma chateação pequena. A garota começou a se sentir impaciente quando percebeu que todas as colegas de quarto tinham acordado mais ou menos na mesma hora me que ela, e que três delas ainda estavam na sua frente na fila para o banho. Ela jamais teria tempo para lavar o cabelo volumoso, herança da família materna, e tentou adiantar o que pôde com ele seco.
Não importava quanta força ela imprimisse na escova, os nós em seu cabelo pareciam se multiplicar; e quando ela finalmente conseguia desembaraçar uma mecha, ela estava com o triplo do volume anterior. Aquele era o tipo de embate para o qual Rebecca não tinha a menor habilidade, e a impaciência crescia cada vez mais. Quando finalmente conseguiu se livrar dos nós, ela apenas invejava os fios macios e sedosos das irmãs mais velhas. Com a destreza de quem repete o mesmo ato todos os dias, a bruxinha trançou os fios longos do melhor jeito que conseguiu, apesar da pressa. Ela detestava tranças, mas era a única forma que sabia usar para deixar os cabelos comportados.
A cereja do bolo viria vinte minutos depois de Rebecca acordar: esquecidos em um canto ao lado do seu criado mudo estava uma pilha excessivamente grande de livros da biblioteca, cujo prazo de empréstimo se encerrava naquele dia. Não os devolver durante aquelas férias significaria não ter acesso ao acervo por pelo menos dois meses, como punição pelo atraso – e Becca não podia correr aquele risco.
Sem perceber que vestira sua blusa ao contrário, ela saiu do quarto abraçada aos livros, quase sem enxergar o caminho à sua frente, tal a altura da pilha que carregava. Embora sem mencionar uma única palavra, ela rezava para conseguir devolver os livros e chegar ao Hall de Entrada a tempo, sem, no entanto, acreditar que aquilo seria possível.
A maior parte dos corredores estava vazia – os alunos de todas as casas já deveriam estar pelo Salão Principal àquela hora – e demorou muito pouco tempo para que ela se distraísse com os próprios pensamentos.
Sua mente estava em algum ponto entre rabanadas e chocolate quente quando James Potter e Remus Lupin viraram uma esquina correndo, rindo e olhando para trás. Os dois meninos não chegaram a esbarrar em Rebecca, mas passaram tão perto que foi impossível não se assustar. Enquanto os livros que ela carregava se espalhavam pelo chão, o som dos passos e risadas de James e Lupin morriam à distância que eles ganhavam.
- Droga! – Não bastava estar com pressa, ela ainda precisava que os Marotos cruzassem seu caminho. Com um suspiro, ela se abaixou para juntar os livros novamente, só levantando o olhar do chão quando um vulto atravessando a mesma esquina por onde os meninos vieram chamou sua atenção.
- Monty! – Sirius Black, um pouco mais alto que os demais meninos de treze de anos e ofegante, parou de breque ao ver a menina, os olhos arregalados em uma expressão de susto. Becca desviou o olhar de forma desinteressada, e voltou a juntar os seus livros, espalhados no chão.
- Potter e o Lupin passaram naquela direção – ela usou o dedo para apontar o caminho por que os colegas seguiram, certa de que Black estava correndo atrás deles, e pouco disposta a render a conversa com o garoto. Sabia que eles acabariam discutindo, e ela definitivamente não tinha tempo para aquilo.
- Ahn... Ok. – ela sentiu o olhar de Sirius fixo nela enquanto ele a rodeava, para seguir o corredor, e foi capaz de contar dois passos dele antes que ele girasse nos próprios calcanhares e se agachasse perto dela, começando a recolher parte dos livros.
Rebecca arregalou os olhos na direção do menino de cabelos negros, que apenas deu de ombros, sem interromper o trabalho.
- Achei que você precisasse de ajuda.
- Obrigada – Ela colocou o último livro em sua pilha, e se levantou abraçada a ela. Sirius fez o mesmo, mas, em vez de colocar os livros sobre os dela, como ela esperava, ele se manteve abraçado aos seus.
- Biblioteca?
Becca franziu as sobrancelhas, desconfiada. Receber gentilezas de Sirius Black era algo completamente inesperado. Algumas ofensas, um pouco de competitividade e pirraça eram termos comuns na relação dos dois colegas, mas, nunca, gentilezas.
- Você vai chegar mais rápido lá se estiver carregando menos peso – a lógica dele era irrefutável, e ela apenas concordou com um movimento de cabeça. A pouca distância entre eles e a biblioteca foi logo vencida e, embora não precisasse, Sirius ficou ao lado de Rebecca enquanto a bibliotecária conferia os volumes.
Depois de cumprida a obrigação, Rebecca se sentia mais leve. Estava finalmente livre para curtir o feriado sem culpa alguma. Só então, invadida pela alegria, ela percebeu que ainda não tinha agradecido pela ajuda do menino que caminhava ao seu lado, com as mãos nos bolsos.
- Obrigada, Sirius! – Becca se aproximou rapidamente, inclinando a cabeça para dar um beijo na bochecha dele.
- Hãn? – Sirius virou o rosto no mesmo minuto em que Becca se aproximou, e, em vez da bochecha, os lábios da menina encontraram os lábios dele.
Os dois se afastaram como se tivessem levado um choque. Rebecca arregalou os olhos, e tentou balbuciar alguma coisa entre um pedido de desculpas e uma exclamação de surpresa. Ela tinha beijado Sirius Black. Na boca.
Ela sentiu as mãos começarem a suar e o coração começar a bater mais rápido. Ao mesmo tempo em que queria sair correndo, ela não conseguia desviar o olhar dele.
Sirius deu um passo à frente, beijando-a novamente. Nenhum dos dois sabia exatamente o que fazer, então eles apenas ficaram ali por meio minuto, as mãos dele segurando-a pelos ombros, e as dela apoiadas sobre o peito dele.
Quando eles se afastaram, diferente da primeira vez, foi devagar e de forma envergonhada. Becca sentia as bochechas arderem, certa de que estava corada, e levantou os olhos, em uma tentativa de não o encarar. Um meio sorriso apareceu em seu rosto no momento em que suas íris castanhas pousaram sobre um ramo de azevinho, que flutuava alguns centímetros acima da cabeça deles.
- Azevinho... – os dois murmuraram ao mesmo tempo, e riram, ainda envergonhados.
- REBECCA! - provavelmente ambos ficariam mais alguns minutos por ali, sem saber o que fazer, mas a voz que chamava a menina fez com que os dois se assustassem – Por Merlin, Morgana e Helga, eu te procurei em todos os lugares!
Ayala, uma das irmãs de Rebecca, andava em direção a eles.
- As carruagens já vão sair, vocês vão se atrasar! – Ayala abraçou a irmã caçula e começou a puxá-la para o caminho correto.
Becca e Sirius trocaram um rápido olhar culpado.
- É melhor eu... James... tchau! – E como se essas palavras fizessem algum sentindo, ele começou a correr pelo corredor, no sentido o posto ao que eles deveriam seguir para chegar ao Hall de Entrada.
- Sirius! – Rebecca queria dizer algo. Eles tinham acabado de se beijar, parecia certo que eles dissessem algo... ela só não sabia o quê. Abriu a boca algumas vezes, incapaz de conseguir formular uma palavra, até que falou a primeira coisa que lhe ocorreu – Feliz Natal! - com um meio sorriso, Becca abaixou o olhar e se virou para acompanhar a irmã.
- Sirius não é o menino que vive te tirando do sério? – Ayala perguntou, quando as irmãs já estavam entrando na carruagem.
- É sim, Ay.
- Até que ele está ficando bonitinho. Vocês estão namorando?
- CLARO QUE NÃO!! - A simples ideia de namorar Sirius Black era algo estranho. Ela ainda estava tentando se acostumar com o fato de que eles tinham se beijado! (Não que a irmã soubesse daquele detalhe. Ou que tinha sido bom. Por que ela sentia um calorzinho só de pensar naquilo?).
No fim daquele dia, Rebecca continuava acreditando que era impossível ter um mau dia na época do Natal.
[Rebecca Montgomery]
No auge de seus treze anos, Rebecca tinha como convicção pessoal a ideia de que era impossível ter um mau dia na época do Natal. Fã incondicional das festividades de fim de ano, ela costumeiramente era a primeira em seu ano acordar no dia em que a maior parte dos alunos pegaria o expresso de Hogwarts a caminho de casa. Aquele ano, no entanto, ela estava prestes a descobrir que maus dias podiam acontecer em qualquer época.
Ao contrário dos anos anteriores, Becca foi a última a se levantar, apenas quarente minutos antes das carruagens começarem a deixar o terreno da escola. O café da manhã já tinha sido perdido, bem como o ritual de admirar a espessa camada de neve cobrindo as dependências do castelo, mas aquilo era apenas uma chateação pequena. A garota começou a se sentir impaciente quando percebeu que todas as colegas de quarto tinham acordado mais ou menos na mesma hora me que ela, e que três delas ainda estavam na sua frente na fila para o banho. Ela jamais teria tempo para lavar o cabelo volumoso, herança da família materna, e tentou adiantar o que pôde com ele seco.
Não importava quanta força ela imprimisse na escova, os nós em seu cabelo pareciam se multiplicar; e quando ela finalmente conseguia desembaraçar uma mecha, ela estava com o triplo do volume anterior. Aquele era o tipo de embate para o qual Rebecca não tinha a menor habilidade, e a impaciência crescia cada vez mais. Quando finalmente conseguiu se livrar dos nós, ela apenas invejava os fios macios e sedosos das irmãs mais velhas. Com a destreza de quem repete o mesmo ato todos os dias, a bruxinha trançou os fios longos do melhor jeito que conseguiu, apesar da pressa. Ela detestava tranças, mas era a única forma que sabia usar para deixar os cabelos comportados.
A cereja do bolo viria vinte minutos depois de Rebecca acordar: esquecidos em um canto ao lado do seu criado mudo estava uma pilha excessivamente grande de livros da biblioteca, cujo prazo de empréstimo se encerrava naquele dia. Não os devolver durante aquelas férias significaria não ter acesso ao acervo por pelo menos dois meses, como punição pelo atraso – e Becca não podia correr aquele risco.
Sem perceber que vestira sua blusa ao contrário, ela saiu do quarto abraçada aos livros, quase sem enxergar o caminho à sua frente, tal a altura da pilha que carregava. Embora sem mencionar uma única palavra, ela rezava para conseguir devolver os livros e chegar ao Hall de Entrada a tempo, sem, no entanto, acreditar que aquilo seria possível.
A maior parte dos corredores estava vazia – os alunos de todas as casas já deveriam estar pelo Salão Principal àquela hora – e demorou muito pouco tempo para que ela se distraísse com os próprios pensamentos.
Sua mente estava em algum ponto entre rabanadas e chocolate quente quando James Potter e Remus Lupin viraram uma esquina correndo, rindo e olhando para trás. Os dois meninos não chegaram a esbarrar em Rebecca, mas passaram tão perto que foi impossível não se assustar. Enquanto os livros que ela carregava se espalhavam pelo chão, o som dos passos e risadas de James e Lupin morriam à distância que eles ganhavam.
- Droga! – Não bastava estar com pressa, ela ainda precisava que os Marotos cruzassem seu caminho. Com um suspiro, ela se abaixou para juntar os livros novamente, só levantando o olhar do chão quando um vulto atravessando a mesma esquina por onde os meninos vieram chamou sua atenção.
- Monty! – Sirius Black, um pouco mais alto que os demais meninos de treze de anos e ofegante, parou de breque ao ver a menina, os olhos arregalados em uma expressão de susto. Becca desviou o olhar de forma desinteressada, e voltou a juntar os seus livros, espalhados no chão.
- Potter e o Lupin passaram naquela direção – ela usou o dedo para apontar o caminho por que os colegas seguiram, certa de que Black estava correndo atrás deles, e pouco disposta a render a conversa com o garoto. Sabia que eles acabariam discutindo, e ela definitivamente não tinha tempo para aquilo.
- Ahn... Ok. – ela sentiu o olhar de Sirius fixo nela enquanto ele a rodeava, para seguir o corredor, e foi capaz de contar dois passos dele antes que ele girasse nos próprios calcanhares e se agachasse perto dela, começando a recolher parte dos livros.
Rebecca arregalou os olhos na direção do menino de cabelos negros, que apenas deu de ombros, sem interromper o trabalho.
- Achei que você precisasse de ajuda.
- Obrigada – Ela colocou o último livro em sua pilha, e se levantou abraçada a ela. Sirius fez o mesmo, mas, em vez de colocar os livros sobre os dela, como ela esperava, ele se manteve abraçado aos seus.
- Biblioteca?
Becca franziu as sobrancelhas, desconfiada. Receber gentilezas de Sirius Black era algo completamente inesperado. Algumas ofensas, um pouco de competitividade e pirraça eram termos comuns na relação dos dois colegas, mas, nunca, gentilezas.
- Você vai chegar mais rápido lá se estiver carregando menos peso – a lógica dele era irrefutável, e ela apenas concordou com um movimento de cabeça. A pouca distância entre eles e a biblioteca foi logo vencida e, embora não precisasse, Sirius ficou ao lado de Rebecca enquanto a bibliotecária conferia os volumes.
Depois de cumprida a obrigação, Rebecca se sentia mais leve. Estava finalmente livre para curtir o feriado sem culpa alguma. Só então, invadida pela alegria, ela percebeu que ainda não tinha agradecido pela ajuda do menino que caminhava ao seu lado, com as mãos nos bolsos.
- Obrigada, Sirius! – Becca se aproximou rapidamente, inclinando a cabeça para dar um beijo na bochecha dele.
- Hãn? – Sirius virou o rosto no mesmo minuto em que Becca se aproximou, e, em vez da bochecha, os lábios da menina encontraram os lábios dele.
Os dois se afastaram como se tivessem levado um choque. Rebecca arregalou os olhos, e tentou balbuciar alguma coisa entre um pedido de desculpas e uma exclamação de surpresa. Ela tinha beijado Sirius Black. Na boca.
Ela sentiu as mãos começarem a suar e o coração começar a bater mais rápido. Ao mesmo tempo em que queria sair correndo, ela não conseguia desviar o olhar dele.
Sirius deu um passo à frente, beijando-a novamente. Nenhum dos dois sabia exatamente o que fazer, então eles apenas ficaram ali por meio minuto, as mãos dele segurando-a pelos ombros, e as dela apoiadas sobre o peito dele.
Quando eles se afastaram, diferente da primeira vez, foi devagar e de forma envergonhada. Becca sentia as bochechas arderem, certa de que estava corada, e levantou os olhos, em uma tentativa de não o encarar. Um meio sorriso apareceu em seu rosto no momento em que suas íris castanhas pousaram sobre um ramo de azevinho, que flutuava alguns centímetros acima da cabeça deles.
- Azevinho... – os dois murmuraram ao mesmo tempo, e riram, ainda envergonhados.
- REBECCA! - provavelmente ambos ficariam mais alguns minutos por ali, sem saber o que fazer, mas a voz que chamava a menina fez com que os dois se assustassem – Por Merlin, Morgana e Helga, eu te procurei em todos os lugares!
Ayala, uma das irmãs de Rebecca, andava em direção a eles.
- As carruagens já vão sair, vocês vão se atrasar! – Ayala abraçou a irmã caçula e começou a puxá-la para o caminho correto.
Becca e Sirius trocaram um rápido olhar culpado.
- É melhor eu... James... tchau! – E como se essas palavras fizessem algum sentindo, ele começou a correr pelo corredor, no sentido o posto ao que eles deveriam seguir para chegar ao Hall de Entrada.
- Sirius! – Rebecca queria dizer algo. Eles tinham acabado de se beijar, parecia certo que eles dissessem algo... ela só não sabia o quê. Abriu a boca algumas vezes, incapaz de conseguir formular uma palavra, até que falou a primeira coisa que lhe ocorreu – Feliz Natal! - com um meio sorriso, Becca abaixou o olhar e se virou para acompanhar a irmã.
- Sirius não é o menino que vive te tirando do sério? – Ayala perguntou, quando as irmãs já estavam entrando na carruagem.
- É sim, Ay.
- Até que ele está ficando bonitinho. Vocês estão namorando?
- CLARO QUE NÃO!! - A simples ideia de namorar Sirius Black era algo estranho. Ela ainda estava tentando se acostumar com o fato de que eles tinham se beijado! (Não que a irmã soubesse daquele detalhe. Ou que tinha sido bom. Por que ela sentia um calorzinho só de pensar naquilo?).
No fim daquele dia, Rebecca continuava acreditando que era impossível ter um mau dia na época do Natal.
Última edição por Admin em Dom Mar 13, 2016 2:35 pm, editado 2 vez(es)
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Re: Flashbacks
[3º ano. Dezembro 1973]
[Sirius Black]
O professor Binns flutuava na frente da sala enquanto lia num tom monótono sobre a Revolta dos Duendes e os alunos do terceiro ano lutavam para ficarem acordados naquela aula que tinha tudo para ser a mais legal – a voz maçante do professor, porém, não ajudava, mesmo o conteúdo sendo interessante e o fato de ser a última aula da semana antes do feriado do Natal também não os ajudava em nada.
Sirius Black havia criado uma tática para sobrevivar às tais aulas de História da Magia: ou ele dormia ou levava uma revista para ler, aproveitando que o professor mal erguia os olhos de suas anotações para ralhar com os alunos distraídos (ou seja, a maioria deles). Naquela tarde, no entanto, o adolescente resolvera ficar observando os colegas – ou melhor, a colega sentada mais na frente da sala e na diagonal de seu campo de visão e uma das poucas que ainda ouvia o que o professor dizia atentamente: Rebecca Montgomery.
“Estranho” – ele pensou, franzindo a testa. Desde o começo daquela semana Sirius vinha se sentindo estranho: passara a observar mais os gestos de Rebecca e tentava chamar a atenção dela a qualquer custo – só naquela semana eles tinham feito umas duas apostas seguidas. Não havia nada de diferente na garota – ela continuava a mesma com suas trancinhas e o ar de estudiosa de sempre. Mas por que aquele súbito interesse? Estranho, definitivamente.
Só quando a garota virou a cabeça para trás e o pegou encarando-a é que Sirius percebeu que o problema não era ela e sim ele.
“Oh não!” – ele pensou.
***
Sirius andava pra lá e pra cá no dormitório masculino enquanto James e Remus esperavam ele se pronunciar sobre o tal assunto "urgente e extremamente secreto" que ele mencionara aos sussurros mais cedo no jantar. O semblante preocupado de Black dizia que o assunto era, de fato, sério e tudo o que os dois podiam fazer era esperar que ele se manifestasse.
- E então, Almofadinhas...? - James já estava ficando meio tonto de ver o amigo andar pelo dormitório (também estava curioso)
Sirius parou no meio do dormitório e encarou os dois amigos sentados na beira de sua cama:
- Prometam que não vão rir. – o terceiranista praticamente suplicou, erguendo o braço direito. (quando um dos Marotos queria falar algo embaraçoso eles faziam aquele juramento e quem quebrasse a promessa deveria ir até a cozinha pegar lanche para os demais).
- Se é sobre você molhar a cama nós entendemos... acontece nas melhores famílias – James encolheu os ombros, mas diante do olhar carrancudo do melhor amigo, ergueu o braço. Remus, ao seu lado, repetiu o gesto:
- Prometemos – Aluado disse, solene.
Sirius suspirou dramaticamente:
- Eu...eu...acho que estou gostando da Montgomery. Descobri isso hoje – ele disse e esperou pela reação dos amigos. Para sua total surpresa, quem caiu na gargalhada primeiro foi Remus.
Sirius ergueu uma sobrancelha diante da reação do mais quietinho deles:
- Você finalmente percebeu, Almofadinhas! - Remus falou, depois de recuperar o fôlego e diante do olhar confuso de Black, prosseguiu sua explicação - Bom...isso explica porque você sempre faz questão de chamar a atenção dela.
James adicionou à lista, com aquele sorrisinho de sabe tudo:
- E explica também o porquê que você passa as aulas encarando ela.
Sirius sentiu as orelhas esquentarem e passando a mão pelos cabelos, murmurou:
- Tão óbvio assim?
- Só porque somos seus amigos, cara. - James levantou da cama e deu um tapinha no ombro do amigo.
- E o que você vai fazer? - Remus perguntou.
- Bom, não há nada que eu possa fazer. - antes que Sirius pudesse elaborar mais - Rebecca não era sua fã número 1 - os outros integrantes do dormitório masculino apareceram e eles deixaram o assunto morrer (para o total alívio dele).
***
Na manhã seguinte, os Marotos deixaram suas malas perto da porta de entrada e depois do café da manhã, retornaram para o Salão Comunal da Grifinória para uma última partida de xadrez bruxo.
- Olha só quem temos aqui... – James murmurou, entretido pelo último projeto dos Marotos (um mapa que mostrava todo o castelo de Hogwarts e seus residentes, ainda em andamento) – Rebecca Montgomery indo em direção da biblioteca.
Sirius ergueu os olhos de seu peão e para seu horror, o amigo sorria de um jeito travesso.
- Que tal se a gente der tchau pra ela, Sr. Aluado?
Remus entendeu o que o amigo queria dizer e já se levantou da cadeira, sorrindo:
- Uma ótima ideia, Sr. Pontas!
Os dois sairam andando na direção do retrato da Mulher Gorda e Sirius levou alguns segundos para raciocinar sobre o que eles iriam fazer. Levantando num pulo e derrubando algumas peças do jogo no chão, o rapazinho saiu atrás dos amigos, que já estavam alguns passos a sua frente:
- Hey, voltem aqui seus traíras! – e antes que ele percebesse, os três estavam correndo (e novamente, para o total horror de Sirius, James cantarolava algo que soava como “Sirius e Rebecca, em cima de uma árvore, se B E I J A N D O”).
James e Remus gargalhavam e assim que dobraram em um corredor, Sirius quase esbarrou em Rebecca Montgomery. Quando ele deu por si, estava ajudando-a a levar os pesados livros que ela havia derrubado no susto em direção à biblioteca.
Quando deixaram o local, Sirius sentia-se feliz e aliviado: aliviado por seus amigos pentelhos não estarem por perto para constrange-lo e feliz porque ele e Rebecca não estavam discutindo.
- Obrigada, Sirius! – a voz dela o tirou de seus devaneios e ele virou a cabeça para o lado no minuto em que ela se aproximou para depositar um beijo em seu rosto, porém, antes que um dos dois pudesse evitar, seus lábios se encontraram.
Os dois se afastaram rapidamente, de olhos arregalados e ao encarar o semblante envergonhado da garota, Sirius foi subitamente tomado por um impulso de beijá-la novamente – e de verdade. Dando um passo a frente, ele a segurou pelos ombros e a beijou do melhor jeito que podia – ele não era muito experiente naquilo e apenas seguiu o que a sua intuição lhe dizia para fazer. Os dois se afastaram e Sirius, sem saber o que dizer, se limitou a erguer os olhos para o teto – e só então ele notou o pequeno objeto flutuando acima deles:
- Azevinho... – eles murmuraram juntos e riram quando notaram a coincidência.
Quando a irmã mais velha de Rebecca se aproximou deles, Sirius decidiu sair correndo dali – a ficha sobre o que havia acontecido entre os dois finalmente caindo. Oh, Merlin! O que ele havia feito?
Black desceu as escadas pulando de dois em dois degraus e entrou na carruagem em que os amigos se encontravam sem dizer nada, ainda embasbacado. James, notando o silêncio dele, o cutucou:
- Encontrou a Monty?
Sirius apenas concordou com a cabeça.
- E aí?
- Nós...nós... – Sirius pigarreou.
- Não me diga que vocês se beijaram. – Remus arriscou dizer, rindo da reação bizarra do amigo: Sirius, sempre tão pomposo estava todo envergonhado.
Sirius sentiu o rosto esquentar e James arregalou os olhos:
- Vocês se beijaram! – ele exclamou, os óculos escorregando pra ponta do nariz – E aí, como foi? Não acredito que você beijou uma garota primeiro do que eu!
- Foi...foi bom. – Sirius encolheu os ombros.
- Ainda bem que eu insisti pra que você escovasse os dentes hoje, hein? – Remus sorriu.
Sirius sorriu e passou a viagem até a estação contando aos amigos como a cena tinha transcorrido.
[Sirius Black]
O professor Binns flutuava na frente da sala enquanto lia num tom monótono sobre a Revolta dos Duendes e os alunos do terceiro ano lutavam para ficarem acordados naquela aula que tinha tudo para ser a mais legal – a voz maçante do professor, porém, não ajudava, mesmo o conteúdo sendo interessante e o fato de ser a última aula da semana antes do feriado do Natal também não os ajudava em nada.
Sirius Black havia criado uma tática para sobrevivar às tais aulas de História da Magia: ou ele dormia ou levava uma revista para ler, aproveitando que o professor mal erguia os olhos de suas anotações para ralhar com os alunos distraídos (ou seja, a maioria deles). Naquela tarde, no entanto, o adolescente resolvera ficar observando os colegas – ou melhor, a colega sentada mais na frente da sala e na diagonal de seu campo de visão e uma das poucas que ainda ouvia o que o professor dizia atentamente: Rebecca Montgomery.
“Estranho” – ele pensou, franzindo a testa. Desde o começo daquela semana Sirius vinha se sentindo estranho: passara a observar mais os gestos de Rebecca e tentava chamar a atenção dela a qualquer custo – só naquela semana eles tinham feito umas duas apostas seguidas. Não havia nada de diferente na garota – ela continuava a mesma com suas trancinhas e o ar de estudiosa de sempre. Mas por que aquele súbito interesse? Estranho, definitivamente.
Só quando a garota virou a cabeça para trás e o pegou encarando-a é que Sirius percebeu que o problema não era ela e sim ele.
“Oh não!” – ele pensou.
***
Sirius andava pra lá e pra cá no dormitório masculino enquanto James e Remus esperavam ele se pronunciar sobre o tal assunto "urgente e extremamente secreto" que ele mencionara aos sussurros mais cedo no jantar. O semblante preocupado de Black dizia que o assunto era, de fato, sério e tudo o que os dois podiam fazer era esperar que ele se manifestasse.
- E então, Almofadinhas...? - James já estava ficando meio tonto de ver o amigo andar pelo dormitório (também estava curioso)
Sirius parou no meio do dormitório e encarou os dois amigos sentados na beira de sua cama:
- Prometam que não vão rir. – o terceiranista praticamente suplicou, erguendo o braço direito. (quando um dos Marotos queria falar algo embaraçoso eles faziam aquele juramento e quem quebrasse a promessa deveria ir até a cozinha pegar lanche para os demais).
- Se é sobre você molhar a cama nós entendemos... acontece nas melhores famílias – James encolheu os ombros, mas diante do olhar carrancudo do melhor amigo, ergueu o braço. Remus, ao seu lado, repetiu o gesto:
- Prometemos – Aluado disse, solene.
Sirius suspirou dramaticamente:
- Eu...eu...acho que estou gostando da Montgomery. Descobri isso hoje – ele disse e esperou pela reação dos amigos. Para sua total surpresa, quem caiu na gargalhada primeiro foi Remus.
Sirius ergueu uma sobrancelha diante da reação do mais quietinho deles:
- Você finalmente percebeu, Almofadinhas! - Remus falou, depois de recuperar o fôlego e diante do olhar confuso de Black, prosseguiu sua explicação - Bom...isso explica porque você sempre faz questão de chamar a atenção dela.
James adicionou à lista, com aquele sorrisinho de sabe tudo:
- E explica também o porquê que você passa as aulas encarando ela.
Sirius sentiu as orelhas esquentarem e passando a mão pelos cabelos, murmurou:
- Tão óbvio assim?
- Só porque somos seus amigos, cara. - James levantou da cama e deu um tapinha no ombro do amigo.
- E o que você vai fazer? - Remus perguntou.
- Bom, não há nada que eu possa fazer. - antes que Sirius pudesse elaborar mais - Rebecca não era sua fã número 1 - os outros integrantes do dormitório masculino apareceram e eles deixaram o assunto morrer (para o total alívio dele).
***
Na manhã seguinte, os Marotos deixaram suas malas perto da porta de entrada e depois do café da manhã, retornaram para o Salão Comunal da Grifinória para uma última partida de xadrez bruxo.
- Olha só quem temos aqui... – James murmurou, entretido pelo último projeto dos Marotos (um mapa que mostrava todo o castelo de Hogwarts e seus residentes, ainda em andamento) – Rebecca Montgomery indo em direção da biblioteca.
Sirius ergueu os olhos de seu peão e para seu horror, o amigo sorria de um jeito travesso.
- Que tal se a gente der tchau pra ela, Sr. Aluado?
Remus entendeu o que o amigo queria dizer e já se levantou da cadeira, sorrindo:
- Uma ótima ideia, Sr. Pontas!
Os dois sairam andando na direção do retrato da Mulher Gorda e Sirius levou alguns segundos para raciocinar sobre o que eles iriam fazer. Levantando num pulo e derrubando algumas peças do jogo no chão, o rapazinho saiu atrás dos amigos, que já estavam alguns passos a sua frente:
- Hey, voltem aqui seus traíras! – e antes que ele percebesse, os três estavam correndo (e novamente, para o total horror de Sirius, James cantarolava algo que soava como “Sirius e Rebecca, em cima de uma árvore, se B E I J A N D O”).
James e Remus gargalhavam e assim que dobraram em um corredor, Sirius quase esbarrou em Rebecca Montgomery. Quando ele deu por si, estava ajudando-a a levar os pesados livros que ela havia derrubado no susto em direção à biblioteca.
Quando deixaram o local, Sirius sentia-se feliz e aliviado: aliviado por seus amigos pentelhos não estarem por perto para constrange-lo e feliz porque ele e Rebecca não estavam discutindo.
- Obrigada, Sirius! – a voz dela o tirou de seus devaneios e ele virou a cabeça para o lado no minuto em que ela se aproximou para depositar um beijo em seu rosto, porém, antes que um dos dois pudesse evitar, seus lábios se encontraram.
Os dois se afastaram rapidamente, de olhos arregalados e ao encarar o semblante envergonhado da garota, Sirius foi subitamente tomado por um impulso de beijá-la novamente – e de verdade. Dando um passo a frente, ele a segurou pelos ombros e a beijou do melhor jeito que podia – ele não era muito experiente naquilo e apenas seguiu o que a sua intuição lhe dizia para fazer. Os dois se afastaram e Sirius, sem saber o que dizer, se limitou a erguer os olhos para o teto – e só então ele notou o pequeno objeto flutuando acima deles:
- Azevinho... – eles murmuraram juntos e riram quando notaram a coincidência.
Quando a irmã mais velha de Rebecca se aproximou deles, Sirius decidiu sair correndo dali – a ficha sobre o que havia acontecido entre os dois finalmente caindo. Oh, Merlin! O que ele havia feito?
Black desceu as escadas pulando de dois em dois degraus e entrou na carruagem em que os amigos se encontravam sem dizer nada, ainda embasbacado. James, notando o silêncio dele, o cutucou:
- Encontrou a Monty?
Sirius apenas concordou com a cabeça.
- E aí?
- Nós...nós... – Sirius pigarreou.
- Não me diga que vocês se beijaram. – Remus arriscou dizer, rindo da reação bizarra do amigo: Sirius, sempre tão pomposo estava todo envergonhado.
Sirius sentiu o rosto esquentar e James arregalou os olhos:
- Vocês se beijaram! – ele exclamou, os óculos escorregando pra ponta do nariz – E aí, como foi? Não acredito que você beijou uma garota primeiro do que eu!
- Foi...foi bom. – Sirius encolheu os ombros.
- Ainda bem que eu insisti pra que você escovasse os dentes hoje, hein? – Remus sorriu.
Sirius sorriu e passou a viagem até a estação contando aos amigos como a cena tinha transcorrido.
Última edição por Admin em Dom Mar 13, 2016 2:34 pm, editado 1 vez(es)
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- Mensagem nº5
Re: Flashbacks
[4º ano. Fevereiro 1975]
- Por Morgana, Becca, onde você estava?
Rebecca parou de breque na porta do dormitório, acuada pelo tom curioso da amiga.
- Merlin, Canny, você não consegue ficar meia hora sozinha? – Becca sorriu, e se jogou na cama em que Acantha folheava uma revista de forma desinteressada – Eu estava estudando com o Remus. Qual a emergência dessa vez?
- Remus?! – a garota fechou sua revista de modo barulhento, e se inclinou para a frente, a típica expressão divertida no rosto – Quando vocês vão assumir esse namoro?
Becca suspirou e revirou os olhos, apoiando-se sobre os cotovelos, erguendo a cabeça apenas o suficiente para encarar a amiga com o semblante sério.
- Can, pela milésima vez, Remus é apenas meu amigo!
“Não é dele que eu gosto” – Amorena mordeu a língua antes de falar. Se Acantha soubesse... Se Acantha sequer desconfiasse que era de Sirius Black que ela gostava, ela estaria completamente perdida.
Gostava, ela enfatizou silenciosamente. No passado.
- Não sei por que – ela sacudiu a cabeça, afastando do rosto as mechas loiras – ele é realmente bonitinho e vocês gostam das mesmas coisas! Você devia dar uma chance ao garoto.
- Remus é quase um irmão, Canny – a voz de Rebecca saiu arrastada, em um sinal claro de que ela não tinha mais interesse aquela conversa.
Remus era um ótimo amigo, e era maravilhoso poder estudar com alguém que de fato estava interessado em estudar – e não, enfim, conversar sobre qualquer outra coisa – e Acantha até estava certa, ele era, de fato, bonitinho, apesar do quase eterno ar de cansado, mas ela apenas não olhava para ele assim. Talvez estivesse ocupada demais tentando parar de gostar do imbecil do melhor amigo dele para começar a gostar de qualquer outra pessoa.
Maldito Black.
- Até onde eu sei, sua mãe não teve nenhum filho homem – o tom de obviedade na voz da amiga fez com que Rebecca risse, sacudindo a cabeça negativamente – Enfim, não foi por isso que eu queria falar com você... Preciso de ajuda pra decidir o que vestir no dia dos namorados.
Os olhos castanhos se arregalaram, e Rebecca tinha certeza de que suas sobrancelhas estavam franzidas daquele jeito estranho de novo.
- Dia dos namorados?
- Uhumn! – Acantha assentiu, mal contendo o sorriso em seu rosto – Marcus finalmente me chamou!
Depois de contar detalhe-por-detalhe como tinha conseguido o convite do paquerinha de semanas, Acantha começou a mostrar páginas da revista que lia, onde suas inspirações estavam marcadas com dobras nas páginas. Quando Lily e Dorcas apareceram, elas se juntaram às outras duas, e, assim como tudo o que envolvia a melhor amiga de Becca, aquilo virou um evento.
***
- Como assim, você vai com a Lily? – James esbugalhou os olhos, deixando o seu bolinho de caldeirão cair no chão. Do outro lado do dormitório masculino, Sirius segurava o riso, enquanto Remus encarava Peter, surpreso.
- Eu contei da aposta para ela, e ela decidiu me ajudar – o mais baixinho dos marotos deu de ombro, movendo uma torre displicentemente no tabuleiro de xadrez. Remus olhou do jogo para James, cujo queixo estava pateticamente caído.
- Pete! Você não pode ir com a Lily! – Potter cruzara os braços – Tem umas mil garotas na escola, por que a Lily?
- Já disse, ela é a única que ia topar me ajudar. Não quero perder essa aposta sem graça de novo. Não sei qual a graça em ser o último a conseguir um encontro para o dia dos namorados...
Os olhos castanhos de James estavam apertados por trás das lentes quadradas, e se ninguém interviesse, era capaz do garoto matar Pettigrew com magia acidental.
- Falando assim, parece até que você tem algum interesse especial na ruiva, Jamie – Sirius riu, preguiçosamente, provocando o amigo.
O rosto de James ficou tão vermelho quanto os cabelos da garota de quem eles falavam.
- Eu, eu... Eu só achei que o Remus fosse convidar ela! Faz sentido, eles são amigos! – James se defendia terrivelmente mal quando o assunto era uma certa quartanista grifinória, e os amigos apenas riram do desconserto dele.
- Nem vem, Prongs, eu já avisei que não tô fazendo parte dessa aposta de vocês. Padfoot tem as piores ideias de prendas e eu não tô afim.
-Ah, qual é, Moony! – Sirius baixou os pés da cadeira, se inclinando para a frente – você nunca teve que pagar uma aposta de dia dos namorados. O Pete sempre é o perdedor.
- Obrigada pela parte que me toca! – o baixinho sfez uma careta e Black apenas deu de ombro de forma desligada.
- É, mas o Wormtail já tem par esse ano – resmungou James, cruzando os braços, emburrado. Sirius e Remus soltaram um risinho – Nem você tem par ainda, Pad.
- Eu sempre tenho um par, Prongs. Se meus planos não derem certo, sempre tem a Mackenzie.
- Merlin, Sirius, você consegue ser um babaca quando quer. – Remus falou enquanto movia um bispo no tabuleiro – Cheque, Pete.
- Você podia chamar a Rebecca, Remus. - Peter colocou um de seus peões em uma posição de perigo, para logo acrescentar, distraidamente - Ela é a única garota com quem você passa tempo voluntariamente, mesmo...
James e Remus automaticamente se viraram para Sirius, esperando a reação do amigo. Peter, que se juntara definitivamente aos marotos apenas após o natal do terceiro ano, não sabia que Rebecca Montgomery tinha sido a única garota por quem Black se interessara, ou mesmo que tinha sido o seu primeiro beijo.
Sirius piscou algumas vezes antes de dar de ombros.
- Vá em frente. – ele alcançou um pacote de jujubas largado em cima da cama de Peter – Mas ela beija como um desentupidor de pia, então boa sorte. – Fingindo que a ideia do melhor amigo e Monty juntos não o incomodava nem um pouco, ele jogou uma jujuba para cima, apenas para pegá-la no ar com a boca.
- Você já beijou a Rebecca?! – os pequenos olhos azuis de Pettigrew se esbugalharam mais que os de James no início da conversa – Mas ela te detesta! E você a odeia!
Sirius revirou os olhos, impaciente.
- Foi um período obscuro de confusão, Wormtail... Passou mais rápido do que você imagina.
***
Por algum motivo, o professor de Defesa Contra as Artes daquele ano nunca estava em sua aula na hora da aula, o que sempre criava uma enorme confusão de alunos esperando por ele do lado de fora. Naquela quinta-feira antes do Dia dos namorados o cenário não era nada diferente.
- Canny, eu não preciso de ninguém para me levar a um encontro no dia dos namorados! – Rebecca sussurrou, impaciente, tentando não ser ouvida pelos colegas ao redor – é sério, eu só quero sair um pouquinho do castelo e visitar os meus pais.
- Você não pode passar o dia dos namorados com os seus pais! É contra alguma lei do universo, certeza.
Rebecca revirou os olhos e mudou os livros que carregava de braço. Ela com certeza amava a melhor amiga, mas, às vezes, ela conseguia ser mais irritante que o Black.
Por sorte, Marcus Mackinnon – que não fazia parte daquela turma – passou rapidamente por ali, para roubar um beijo da namorada, o que deixou Acantha distraída por uns dois minutos e meio. Assim que o rapaz se afastou, no entanto, os olhos azuis da grifinória recaíram sobre um grupo muito particular de garotos. Tão logo a ideia surgiu em sua cabeça ela sucumbiu ao impulso, agarrando Rebecca pelo pulso livre e arrastando-a até o outro lado do corredor.
- Oi, meninos! Lupin, posso falar com você um rapidinho?
Rebecca encarava a amiga com o cenho franzido, incapaz de prever o que ela estava aprontando.
Remus acenou positivamente, e se afastou um ou dois passos dos amigos.
- Você tem algum encontro para o dia dos namorados?
Rebecca arregalou os olhos para a amiga, sentindo-se um pouquinho morta por dentro. Não era possível que Acantha estivesse fazendo aquilo. Ela não queria acreditar naquilo.
Remus cruzou os braços e franziu as sobrancelhas, claramente desconfortável com a pergunta.
- Não...
O rosto da loira se iluminou com um sorriso – aquele que ela usava quando queria convencer alguém de fazer algo.
- Ótimo! Eu vou sair com o Marcus, e estava pensando que seria maravilhoso se fosse um encontro duplo. O que você acha de levar a Becky?
Rebecca sentiu o rosto e as orelhas esquentarem, e tinha certeza de que estava em algum tom entre vermelho melancia e vermelho tomate. Alguns colegas próximos pararam para prestar a atenção na conversa, o que só piorou a vergonha que ela sentia. As íris castanhas fitavam o chão fixamente, primeiro por falta de coragem de encarar ninguém, depois pela esperança de que o piso de pedra se abrisse e a engolisse.
Remus olhou de Acantha para a amiga, como se tentasse processar o que estava acontecendo. Rebecca também era como uma irmã para ele – uma irmã que, a propósito, nunca se colocaria naquela situação constrangedora.
- Claro que ele aceita! – Peter respondeu pelo amigo, jogando o braço desengonçadamente pelos ombros dele – Ainda essa semana ele estava falando em convidá-la para Hogsmead – um sorriso cresceu no rosto dele.
- Ótimo! – Acantha sorriu, vitoriosa – nós vamos na carruagem das 10h.
De todos os olhares cravados nela, havia um que Rebecca mais sentia. Ela ergueu as pálpebras lentamente, as íris castanhas encontrando as cinzentas fixas nela. Sirius trazia os braços cruzados e uma sobrancelha erguida. Ela sentiu o rosto arder novamente e voltou o olhar para o chão, mais desconfortável que nunca.
- É um encontro! – Peter sorriu, sacudindo os ombros do amigo.
O professor Fitz acabara de chegar, e arrastou os alunos consigo para dentro da aula. Rebecca, que tinha os pés grudados no piso, entretanto, segurou o pulso da amiga, esperando até que ficassem sozinhas. Cada fibra do seu corpo vibrava com a mistura de vergonha e de raiva pelo que acabara de passar.
- Você. Nunca mais. Vai fazer. Isso. – Ela disse, pausadamente – E eu espero estar sendo clara, Acantha, ou eu juro que você vai perder uma amiga e a cabeça.
Girando nos calcanhares, ela marchou até a sala de aulas, entrando sem pedir licença. Em vez de pegar seu habitual lugar na primeira fileira, ela se dirigiu até a última, onde uma única cadeira estava vazia. Mais duas horas até que ela pudesse se enfiar em algum lugar onde ninguém soubesse da vergonha que acabara de passar.
***
Remus se inclinou para o lado quando o professor se virou para o quadro negro, apenas para pegar o bilhete que Peter tentava lhe passar há alguns minutos.
“Nem acredito que quem vai perder a aposta esse ano é o James ou o Sirius! Eles vão ver só o que é bom para tosse!”
Remus dobrou novamente o pequeno pedaço de pergaminho e sorriu amarelo para o amigo. Não que ele gostasse da ideia de passar uma tarde inteira usando uma fantasia de cupido, mas a cena logo antes da aula de DCAT não tinha sido exatamente empolgante, também.
***
Quando a noite de sexta-feira chegou, Rebecca e Acantha ainda não estavam se falando direito. Esta acreditava piamente que a aquela estava exagerando, e Becca ainda estava constrangida com o acontecimento do dia anterior, além de ficar um pouco mortificada apenas de imaginar o que enfrentaria no dia seguinte. O que poderia ser mais embaraçoso do que um encontro com um de seus melhores amigos?
Pelo olhar que Lily lançou a Acantha quando esta entrou no dormitório, Rebecca sabia que a ruiva tinha passado um de seus habituais sermões na loira. Era sempre Evans quem mediava os problemas entre as habitantes do quarto.
Becca olhava fixamente para o livro em seu colo, fingindo que lia. Seus sentidos, na verdade, estavam todos voltados às meninas ao seu redor, de modo que ela ouviu passo-a-passo da aproximação cautelosa da amiga.
- Becky? – Acantha buscava o olhar da amiga, apoiadas em uma das pilastras da cama de dossel – Posso falar com você?
As pálpebras castanhas se ergueram quando Rebecca a encarou, erguendo as sobrancelhas em um sinal de que ela continuasse.
- Eu... queria te pedir desculpas – Acantha se sentou na ponta da cama, e hesitou, buscando as palavras adequadas – Eu entendo porque você ficou chateada, e eu nunca deveria ter convidado o Remus na frente de todo mundo.
Rebecca suspirou, fechando o livro.
- Você não devia ter convidado o Remus e ponto, Canny. – As sobrancelhas negras se franziram antes que ela continuasse – Eu te disse que não queria um encontro. Mais ainda, eu te disse um milhão de vezes que o Remus é só meu amigo. Nada te dava o direito de fazer aquilo.
- Desculpe – havia sinceridade na voz dela – Eu posso desmarcar com o Remus, se você quiser.
Havia sinceridade na voz dela, e Rebecca apenas encolheu os ombros.
- Tudo bem... E eu resolvo com ele, depois. Chega de você se meter nisso – um sorriso brincou no rosto dela, e Becca revirou os olhos – Eu juro por Merlin, deve estar pra nascer alguém mais intrometida que você, Can!
***
- A gente não precisa fazer isso, se você não quiser – Rebecca enfiou as mãos nos bolsos do seu cardigã, meio sem graça – Aposto que você preferia estar com os meninos.
Remus deu de ombros e sorriu gentilmente.
- Você não é má companhia, Becca.
Apesar de saber que Remus estava apenas sendo educado, Rebecca sorriu, agradecida – provavelmente seria ainda pior para as fofocas do castelo se eles não saíssem juntos.
- A Acantha nos convidou para o almoço no Três Vassouras. Disse que é por conta dela, pelo ridículo em que ela nos colocou no outro dia. O que você acha?
- Não vejo por que não! A comida da Rosmerta é ótima.
Rebecca sorriu e apontou com a cabeça para o grupo de alunos que já estava na fila para pegar as carruagens.
- Você está bem diferente, Becca – Remus comentou, enquanto ambos desciam despreocupadamente.
- Aaaahn – as bochechas dela coraram, e por um segundo, ela se arrependeu de ter deixado as amigas palpitarem em sua roupa – Lily, Acantha e Dorcas – ela apontou para o vestido quadriculado, emprestado por Evans; para os cabelos milagrosamente soltos e domados por uma quantidade generosa de Sleekeazy; e para o rosto, onde a leve maquiagem feita por Meadowes substituía os habituais óculos de grau. – Elas resolveram brincar de boneca comigo –ela sorriu, sem graça.
- Sei como é – ele respondeu, logo fazendo um gesto amplo em direção à sua roupa – Peter. -os dois riram e entraram na carruagem.
***
- Eu nunca achei que alguém pudesse se beijar durante tanto tempo! Rebecca riu, quando ela e Remus finalmente alcançaram a rua. A garota se referia a Marcus e Acantha, que, em determinado momento do almoço, começaram a ficar melosos demais.
- Você não vai querer estar perto do Sirius quando ele está com uma garota, então! – Remus comentou tranquilamente entre as risadas.
O sorriso no rosto de Rebecca morreu um pouquinho ao pensar em Sirius se agarrando com alguém – mais especificamente, com Mackenzie – e seu desconforto teria sido perceptível, caso algo não chamasse a atenção de Remus.
- Há! O Pete precisa ver isso!
Becca olhou na mesma direção em que ele, e seu sorriso cresceu novamente com a visão de um James Potter muito contrariado em uma fantasia de cupido.
- Gostei da túnica, Potter! – ela sorriu.
- Vai rindo, Montgomery! – James estava emburrado, mas era difícil levá-lo a sério com as asinhas encantadas batendo animadamente em suas costas.
- Prongs, eles não tinham o que você queria, então trouxe de azeitona, mesmo – Sirius, saindo da loja atrás de James, jogou um pacote de biscoitinhos para o amigo, e só então percebeu a presença de alguém além do cupido – Moony, Monty.
Rebecca o cumprimentou com um aceno de cabeça. Remus fez o mesmo e logo voltou a conversar com James, e ela tentava prestar atenção no que eles falavam, mas teve a impressão de que Sirius a encarava por cima do próprio pacote de salgadinhos.
Quando Peter e Lily se aproximaram – a ruiva se divertindo mais que o habitual com a cara de Potter – Sirius viu que Rebecca cochichou algo com Remus. O amigo apenas acenou e se despediu dos demais.
- Hey, a gente vai indo... Te vejo mais tarde, Querubim! – ele sorriu travessamente para James, e enquanto Rebecca deu um tchauzinho, eles seguiram em direção ao norte de Hogsmead, conversando animadamente.
Por um segundo, a cabeça de Sirius trabalhou fervorosamente, tentando pensar em qual seria o destino dos dois, mas, no instante seguinte, ele tinha se juntado a Lily com um comentário sarcástico sobre as setas de James. Por que ele tinha a sensação de que estava esquecendo alguma coisa?
- Por Morgana, Becca, onde você estava?
Rebecca parou de breque na porta do dormitório, acuada pelo tom curioso da amiga.
- Merlin, Canny, você não consegue ficar meia hora sozinha? – Becca sorriu, e se jogou na cama em que Acantha folheava uma revista de forma desinteressada – Eu estava estudando com o Remus. Qual a emergência dessa vez?
- Remus?! – a garota fechou sua revista de modo barulhento, e se inclinou para a frente, a típica expressão divertida no rosto – Quando vocês vão assumir esse namoro?
Becca suspirou e revirou os olhos, apoiando-se sobre os cotovelos, erguendo a cabeça apenas o suficiente para encarar a amiga com o semblante sério.
- Can, pela milésima vez, Remus é apenas meu amigo!
“Não é dele que eu gosto” – Amorena mordeu a língua antes de falar. Se Acantha soubesse... Se Acantha sequer desconfiasse que era de Sirius Black que ela gostava, ela estaria completamente perdida.
Gostava, ela enfatizou silenciosamente. No passado.
- Não sei por que – ela sacudiu a cabeça, afastando do rosto as mechas loiras – ele é realmente bonitinho e vocês gostam das mesmas coisas! Você devia dar uma chance ao garoto.
- Remus é quase um irmão, Canny – a voz de Rebecca saiu arrastada, em um sinal claro de que ela não tinha mais interesse aquela conversa.
Remus era um ótimo amigo, e era maravilhoso poder estudar com alguém que de fato estava interessado em estudar – e não, enfim, conversar sobre qualquer outra coisa – e Acantha até estava certa, ele era, de fato, bonitinho, apesar do quase eterno ar de cansado, mas ela apenas não olhava para ele assim. Talvez estivesse ocupada demais tentando parar de gostar do imbecil do melhor amigo dele para começar a gostar de qualquer outra pessoa.
Maldito Black.
- Até onde eu sei, sua mãe não teve nenhum filho homem – o tom de obviedade na voz da amiga fez com que Rebecca risse, sacudindo a cabeça negativamente – Enfim, não foi por isso que eu queria falar com você... Preciso de ajuda pra decidir o que vestir no dia dos namorados.
Os olhos castanhos se arregalaram, e Rebecca tinha certeza de que suas sobrancelhas estavam franzidas daquele jeito estranho de novo.
- Dia dos namorados?
- Uhumn! – Acantha assentiu, mal contendo o sorriso em seu rosto – Marcus finalmente me chamou!
Depois de contar detalhe-por-detalhe como tinha conseguido o convite do paquerinha de semanas, Acantha começou a mostrar páginas da revista que lia, onde suas inspirações estavam marcadas com dobras nas páginas. Quando Lily e Dorcas apareceram, elas se juntaram às outras duas, e, assim como tudo o que envolvia a melhor amiga de Becca, aquilo virou um evento.
***
- Como assim, você vai com a Lily? – James esbugalhou os olhos, deixando o seu bolinho de caldeirão cair no chão. Do outro lado do dormitório masculino, Sirius segurava o riso, enquanto Remus encarava Peter, surpreso.
- Eu contei da aposta para ela, e ela decidiu me ajudar – o mais baixinho dos marotos deu de ombro, movendo uma torre displicentemente no tabuleiro de xadrez. Remus olhou do jogo para James, cujo queixo estava pateticamente caído.
- Pete! Você não pode ir com a Lily! – Potter cruzara os braços – Tem umas mil garotas na escola, por que a Lily?
- Já disse, ela é a única que ia topar me ajudar. Não quero perder essa aposta sem graça de novo. Não sei qual a graça em ser o último a conseguir um encontro para o dia dos namorados...
Os olhos castanhos de James estavam apertados por trás das lentes quadradas, e se ninguém interviesse, era capaz do garoto matar Pettigrew com magia acidental.
- Falando assim, parece até que você tem algum interesse especial na ruiva, Jamie – Sirius riu, preguiçosamente, provocando o amigo.
O rosto de James ficou tão vermelho quanto os cabelos da garota de quem eles falavam.
- Eu, eu... Eu só achei que o Remus fosse convidar ela! Faz sentido, eles são amigos! – James se defendia terrivelmente mal quando o assunto era uma certa quartanista grifinória, e os amigos apenas riram do desconserto dele.
- Nem vem, Prongs, eu já avisei que não tô fazendo parte dessa aposta de vocês. Padfoot tem as piores ideias de prendas e eu não tô afim.
-Ah, qual é, Moony! – Sirius baixou os pés da cadeira, se inclinando para a frente – você nunca teve que pagar uma aposta de dia dos namorados. O Pete sempre é o perdedor.
- Obrigada pela parte que me toca! – o baixinho sfez uma careta e Black apenas deu de ombro de forma desligada.
- É, mas o Wormtail já tem par esse ano – resmungou James, cruzando os braços, emburrado. Sirius e Remus soltaram um risinho – Nem você tem par ainda, Pad.
- Eu sempre tenho um par, Prongs. Se meus planos não derem certo, sempre tem a Mackenzie.
- Merlin, Sirius, você consegue ser um babaca quando quer. – Remus falou enquanto movia um bispo no tabuleiro – Cheque, Pete.
- Você podia chamar a Rebecca, Remus. - Peter colocou um de seus peões em uma posição de perigo, para logo acrescentar, distraidamente - Ela é a única garota com quem você passa tempo voluntariamente, mesmo...
James e Remus automaticamente se viraram para Sirius, esperando a reação do amigo. Peter, que se juntara definitivamente aos marotos apenas após o natal do terceiro ano, não sabia que Rebecca Montgomery tinha sido a única garota por quem Black se interessara, ou mesmo que tinha sido o seu primeiro beijo.
Sirius piscou algumas vezes antes de dar de ombros.
- Vá em frente. – ele alcançou um pacote de jujubas largado em cima da cama de Peter – Mas ela beija como um desentupidor de pia, então boa sorte. – Fingindo que a ideia do melhor amigo e Monty juntos não o incomodava nem um pouco, ele jogou uma jujuba para cima, apenas para pegá-la no ar com a boca.
- Você já beijou a Rebecca?! – os pequenos olhos azuis de Pettigrew se esbugalharam mais que os de James no início da conversa – Mas ela te detesta! E você a odeia!
Sirius revirou os olhos, impaciente.
- Foi um período obscuro de confusão, Wormtail... Passou mais rápido do que você imagina.
***
Por algum motivo, o professor de Defesa Contra as Artes daquele ano nunca estava em sua aula na hora da aula, o que sempre criava uma enorme confusão de alunos esperando por ele do lado de fora. Naquela quinta-feira antes do Dia dos namorados o cenário não era nada diferente.
- Canny, eu não preciso de ninguém para me levar a um encontro no dia dos namorados! – Rebecca sussurrou, impaciente, tentando não ser ouvida pelos colegas ao redor – é sério, eu só quero sair um pouquinho do castelo e visitar os meus pais.
- Você não pode passar o dia dos namorados com os seus pais! É contra alguma lei do universo, certeza.
Rebecca revirou os olhos e mudou os livros que carregava de braço. Ela com certeza amava a melhor amiga, mas, às vezes, ela conseguia ser mais irritante que o Black.
Por sorte, Marcus Mackinnon – que não fazia parte daquela turma – passou rapidamente por ali, para roubar um beijo da namorada, o que deixou Acantha distraída por uns dois minutos e meio. Assim que o rapaz se afastou, no entanto, os olhos azuis da grifinória recaíram sobre um grupo muito particular de garotos. Tão logo a ideia surgiu em sua cabeça ela sucumbiu ao impulso, agarrando Rebecca pelo pulso livre e arrastando-a até o outro lado do corredor.
- Oi, meninos! Lupin, posso falar com você um rapidinho?
Rebecca encarava a amiga com o cenho franzido, incapaz de prever o que ela estava aprontando.
Remus acenou positivamente, e se afastou um ou dois passos dos amigos.
- Você tem algum encontro para o dia dos namorados?
Rebecca arregalou os olhos para a amiga, sentindo-se um pouquinho morta por dentro. Não era possível que Acantha estivesse fazendo aquilo. Ela não queria acreditar naquilo.
Remus cruzou os braços e franziu as sobrancelhas, claramente desconfortável com a pergunta.
- Não...
O rosto da loira se iluminou com um sorriso – aquele que ela usava quando queria convencer alguém de fazer algo.
- Ótimo! Eu vou sair com o Marcus, e estava pensando que seria maravilhoso se fosse um encontro duplo. O que você acha de levar a Becky?
Rebecca sentiu o rosto e as orelhas esquentarem, e tinha certeza de que estava em algum tom entre vermelho melancia e vermelho tomate. Alguns colegas próximos pararam para prestar a atenção na conversa, o que só piorou a vergonha que ela sentia. As íris castanhas fitavam o chão fixamente, primeiro por falta de coragem de encarar ninguém, depois pela esperança de que o piso de pedra se abrisse e a engolisse.
Remus olhou de Acantha para a amiga, como se tentasse processar o que estava acontecendo. Rebecca também era como uma irmã para ele – uma irmã que, a propósito, nunca se colocaria naquela situação constrangedora.
- Claro que ele aceita! – Peter respondeu pelo amigo, jogando o braço desengonçadamente pelos ombros dele – Ainda essa semana ele estava falando em convidá-la para Hogsmead – um sorriso cresceu no rosto dele.
- Ótimo! – Acantha sorriu, vitoriosa – nós vamos na carruagem das 10h.
De todos os olhares cravados nela, havia um que Rebecca mais sentia. Ela ergueu as pálpebras lentamente, as íris castanhas encontrando as cinzentas fixas nela. Sirius trazia os braços cruzados e uma sobrancelha erguida. Ela sentiu o rosto arder novamente e voltou o olhar para o chão, mais desconfortável que nunca.
- É um encontro! – Peter sorriu, sacudindo os ombros do amigo.
O professor Fitz acabara de chegar, e arrastou os alunos consigo para dentro da aula. Rebecca, que tinha os pés grudados no piso, entretanto, segurou o pulso da amiga, esperando até que ficassem sozinhas. Cada fibra do seu corpo vibrava com a mistura de vergonha e de raiva pelo que acabara de passar.
- Você. Nunca mais. Vai fazer. Isso. – Ela disse, pausadamente – E eu espero estar sendo clara, Acantha, ou eu juro que você vai perder uma amiga e a cabeça.
Girando nos calcanhares, ela marchou até a sala de aulas, entrando sem pedir licença. Em vez de pegar seu habitual lugar na primeira fileira, ela se dirigiu até a última, onde uma única cadeira estava vazia. Mais duas horas até que ela pudesse se enfiar em algum lugar onde ninguém soubesse da vergonha que acabara de passar.
***
Remus se inclinou para o lado quando o professor se virou para o quadro negro, apenas para pegar o bilhete que Peter tentava lhe passar há alguns minutos.
“Nem acredito que quem vai perder a aposta esse ano é o James ou o Sirius! Eles vão ver só o que é bom para tosse!”
Remus dobrou novamente o pequeno pedaço de pergaminho e sorriu amarelo para o amigo. Não que ele gostasse da ideia de passar uma tarde inteira usando uma fantasia de cupido, mas a cena logo antes da aula de DCAT não tinha sido exatamente empolgante, também.
***
Quando a noite de sexta-feira chegou, Rebecca e Acantha ainda não estavam se falando direito. Esta acreditava piamente que a aquela estava exagerando, e Becca ainda estava constrangida com o acontecimento do dia anterior, além de ficar um pouco mortificada apenas de imaginar o que enfrentaria no dia seguinte. O que poderia ser mais embaraçoso do que um encontro com um de seus melhores amigos?
Pelo olhar que Lily lançou a Acantha quando esta entrou no dormitório, Rebecca sabia que a ruiva tinha passado um de seus habituais sermões na loira. Era sempre Evans quem mediava os problemas entre as habitantes do quarto.
Becca olhava fixamente para o livro em seu colo, fingindo que lia. Seus sentidos, na verdade, estavam todos voltados às meninas ao seu redor, de modo que ela ouviu passo-a-passo da aproximação cautelosa da amiga.
- Becky? – Acantha buscava o olhar da amiga, apoiadas em uma das pilastras da cama de dossel – Posso falar com você?
As pálpebras castanhas se ergueram quando Rebecca a encarou, erguendo as sobrancelhas em um sinal de que ela continuasse.
- Eu... queria te pedir desculpas – Acantha se sentou na ponta da cama, e hesitou, buscando as palavras adequadas – Eu entendo porque você ficou chateada, e eu nunca deveria ter convidado o Remus na frente de todo mundo.
Rebecca suspirou, fechando o livro.
- Você não devia ter convidado o Remus e ponto, Canny. – As sobrancelhas negras se franziram antes que ela continuasse – Eu te disse que não queria um encontro. Mais ainda, eu te disse um milhão de vezes que o Remus é só meu amigo. Nada te dava o direito de fazer aquilo.
- Desculpe – havia sinceridade na voz dela – Eu posso desmarcar com o Remus, se você quiser.
Havia sinceridade na voz dela, e Rebecca apenas encolheu os ombros.
- Tudo bem... E eu resolvo com ele, depois. Chega de você se meter nisso – um sorriso brincou no rosto dela, e Becca revirou os olhos – Eu juro por Merlin, deve estar pra nascer alguém mais intrometida que você, Can!
***
- A gente não precisa fazer isso, se você não quiser – Rebecca enfiou as mãos nos bolsos do seu cardigã, meio sem graça – Aposto que você preferia estar com os meninos.
Remus deu de ombros e sorriu gentilmente.
- Você não é má companhia, Becca.
Apesar de saber que Remus estava apenas sendo educado, Rebecca sorriu, agradecida – provavelmente seria ainda pior para as fofocas do castelo se eles não saíssem juntos.
- A Acantha nos convidou para o almoço no Três Vassouras. Disse que é por conta dela, pelo ridículo em que ela nos colocou no outro dia. O que você acha?
- Não vejo por que não! A comida da Rosmerta é ótima.
Rebecca sorriu e apontou com a cabeça para o grupo de alunos que já estava na fila para pegar as carruagens.
- Você está bem diferente, Becca – Remus comentou, enquanto ambos desciam despreocupadamente.
- Aaaahn – as bochechas dela coraram, e por um segundo, ela se arrependeu de ter deixado as amigas palpitarem em sua roupa – Lily, Acantha e Dorcas – ela apontou para o vestido quadriculado, emprestado por Evans; para os cabelos milagrosamente soltos e domados por uma quantidade generosa de Sleekeazy; e para o rosto, onde a leve maquiagem feita por Meadowes substituía os habituais óculos de grau. – Elas resolveram brincar de boneca comigo –ela sorriu, sem graça.
- Sei como é – ele respondeu, logo fazendo um gesto amplo em direção à sua roupa – Peter. -os dois riram e entraram na carruagem.
***
- Eu nunca achei que alguém pudesse se beijar durante tanto tempo! Rebecca riu, quando ela e Remus finalmente alcançaram a rua. A garota se referia a Marcus e Acantha, que, em determinado momento do almoço, começaram a ficar melosos demais.
- Você não vai querer estar perto do Sirius quando ele está com uma garota, então! – Remus comentou tranquilamente entre as risadas.
O sorriso no rosto de Rebecca morreu um pouquinho ao pensar em Sirius se agarrando com alguém – mais especificamente, com Mackenzie – e seu desconforto teria sido perceptível, caso algo não chamasse a atenção de Remus.
- Há! O Pete precisa ver isso!
Becca olhou na mesma direção em que ele, e seu sorriso cresceu novamente com a visão de um James Potter muito contrariado em uma fantasia de cupido.
- Gostei da túnica, Potter! – ela sorriu.
- Vai rindo, Montgomery! – James estava emburrado, mas era difícil levá-lo a sério com as asinhas encantadas batendo animadamente em suas costas.
- Prongs, eles não tinham o que você queria, então trouxe de azeitona, mesmo – Sirius, saindo da loja atrás de James, jogou um pacote de biscoitinhos para o amigo, e só então percebeu a presença de alguém além do cupido – Moony, Monty.
Rebecca o cumprimentou com um aceno de cabeça. Remus fez o mesmo e logo voltou a conversar com James, e ela tentava prestar atenção no que eles falavam, mas teve a impressão de que Sirius a encarava por cima do próprio pacote de salgadinhos.
Quando Peter e Lily se aproximaram – a ruiva se divertindo mais que o habitual com a cara de Potter – Sirius viu que Rebecca cochichou algo com Remus. O amigo apenas acenou e se despediu dos demais.
- Hey, a gente vai indo... Te vejo mais tarde, Querubim! – ele sorriu travessamente para James, e enquanto Rebecca deu um tchauzinho, eles seguiram em direção ao norte de Hogsmead, conversando animadamente.
Por um segundo, a cabeça de Sirius trabalhou fervorosamente, tentando pensar em qual seria o destino dos dois, mas, no instante seguinte, ele tinha se juntado a Lily com um comentário sarcástico sobre as setas de James. Por que ele tinha a sensação de que estava esquecendo alguma coisa?
Última edição por Admin em Dom Mar 13, 2016 2:34 pm, editado 1 vez(es)
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- Mensagem nº6
Re: Flashbacks
[4º ano. Março, 1975]
Uma risada escapou pelo ar mais uma vez, assim que ele virara um outro corredor do castelo. Mesmo com todas as suas forças destinadas à corrida, ele podia sentir o peito palpitando e o rosto e orelhas avermelharem-se pelo esforço. A voz de Filch ecoava à distância, mas Sirius sabia que ele estava mais perto do que parecia. Se ele apenas corresse um pouco mais rápido e entrasse na biblioteca antes do zelador fazer a curva...
Se Sirius fosse pego, ele sabia que teria problemas – era a terceira vez só naquele mês em que ele alagava o pequeno escritório que Argus Filch dividia com sua gatinha -, mas ele não se importava: a adrenalina da corrida, escapar por pouco com alguma saída de mestre... Tudo aquilo definitivamente valia a pena.
Desviando de uma setimanista mal-humorada (droga, ela com certeza o deduraria para Filch), ele entrou deslizando para dentro da Biblioteca, parando a poucos centímetros de uma das únicas mesas ocupada no local.
- Sirius?
O garoto parou de olhar para os lados – procurando um esconderijo – e abaixou a cabeça, seguindo a voz de um dos seus melhores amigos.
- Moony! – As íris cinzentas se iluminaram, e ele fitou a garota ao lado do amigo – Monty – o cumprimento fui curto, e ele voltou a olhar ao redor, agoniado com a repentina falta de ideias de sua cabeça arteira.
- Black, seu maldito!!! – A voz do zelador soou perigosamente perto, e ele não teria mais do que um minuto para se esconder.
Xingando baixinho, ele deu a volta e se agachou entre os amigos.
- Vocês não me viram aqui, ok? – ele sussurrou logo antes de se enfiar sob a mesa, sob resmungos dos dois colegas, rastejando até encontrar uma posição em que ficasse completamente escondido. Embora seus olhos fitassem o chão fixamente, todos os outros sentidos estavam apurados. Não que fosse muito fácil ouvir apesar do próprio coração acelerado, mas no momento exato em que encontrou uma posição, os passos incertos do zelador ecoaram pelo cômodo.
- Eu sabia que aquele moleque tinha se escondido aqui! Lupin, onde está o arruaceiro do seu amigo?
- Eu não sei, senhor! – a voz de Remus era firme e certeira, e Sirius se permitiu um risinho silencioso. De todos os marotos, Moony era quem mentia melhor.
Se dependesse do amigo, ele estaria a salvo. A menos que...
Os olhos de Sirius fitaram os sapatos impecavelmente brilhantes de Rebecca, e seu estômago deu um nó. Se Filch perguntasse alguma coisa para ela, ele estava frito.
- Você! – Sirius imaginou que o zelador estivesse apontando para Montgomery – Você detesta o Black quase tanto quanto eu, onde ele está?
Pronto, era isso. Detenção pelo resto dos seus dias.
- Porque eu encobriria ele? – o típico tom desafiador da garota chegou aos seus ouvidos, e ele abriu um sorriso, os ombros imediatamente se relaxando. Levantou o olhar, como se fosse possível ver o rosto dela, mas tudo o que seus olhos alcançaram foi o par de joelhos de Rebecca.
O par de joelhos levemente separados de Rebecca.
O sorriso em seu rosto tomou um contorno travesso quando uma ideia passou pela sua cabeça. Esquecendo-se completamente da presença de Filch no cômodo, Sirius se deixou levar pela curiosidade. Primeiro, apenas girou a cabeça, tentando ter uma visão melhor do espaço entre as pernas da menina. A calcinha branca e lilás estava visível sob a saia do uniforme, mas se ele chegasse um pouco mais perto... Um pouco mais...
No momento em que Rebecca sentiu as bochechas de Sirius tocarem sua perna, ela pulou na cadeira e o chutou, fazendo com que ele batesse a cabeça no tampo da mesa.
- Que barulho foi esse? – ele podia ouvir os passos de Filch se aproximando novamente. Droga!
Rebecca o chutou mais uma vez antes de responder.
- Cólica... Está me matando – até que Rebecca não mentia tão mal, para alguém tão certinho. Ou vai ver era só o conhecido medo que Filch tinha de “assuntos femininos”. De toda forma, os ronronados de Madame Norris ficaram cada vez mais distantes, e Sirius teve certeza de que ele tinha ido embora quando Becca começou a estapeá-lo.
Ele tentou engatinhar para longe, mas não conseguiu se esquivar dos tapas da menina.
- Eu. Não. Acredito. Em. Você! – cada palavra era pontuada com um tapa, que aos poucos evoluíam para soquinhos.
Sirius conseguiu se levantar, e, mesmo tentando desviar da ira dela, ele ria da situação.
- Foi um acidente!
- Você é ridículo, por Merlin! Eu menti por você! E você... ARGH! Eu te odeio!
- Ah, qual é, Becky! Nem foi nada demais! A propósito, Lilás te cai bem.
O rosto dela se contorceu em uma expressão de terror, a imagem da calcinha que ela vestira naquela manhã bem nítida em sua memória, e Sirius sorriu, satisfeito pelo efeito de sua provocação.
- Melhor eu correr antes que o velho caquético volte atrás de mim – ele piscou e a afastou do caminho – Você vem, Moony? – Ele encarou o amigo, as sobrancelhas erguidas. Remus parecia mais confuso que nunca.
Em um piscar de olhos, os dois marotos desapareceram pela porta da biblioteca, deixando para trás uma Rebecca muito corada – tanto de raiva quanto de vergonha.
Em pensar que, até meses atrás, ela lutava contra uma paixonite por ele. Pft. Babaca.
***
- Sirius... Por que você estava falando sobre Lilás com a Rebecca? Não tem nada lilás no uniforme. – Remus concertou a mochila no ombro, encarando o amigo, enquanto caminhavam em direção à torre da Grifinória.
- Tem muito mais coisa pra ver em uma garota que o uniforme, Moony, meu caro – um risinho enigmático pontuou a frase, antes que Black pudesse dizer a senha ao retrato da mulher gorda.
Uma risada escapou pelo ar mais uma vez, assim que ele virara um outro corredor do castelo. Mesmo com todas as suas forças destinadas à corrida, ele podia sentir o peito palpitando e o rosto e orelhas avermelharem-se pelo esforço. A voz de Filch ecoava à distância, mas Sirius sabia que ele estava mais perto do que parecia. Se ele apenas corresse um pouco mais rápido e entrasse na biblioteca antes do zelador fazer a curva...
Se Sirius fosse pego, ele sabia que teria problemas – era a terceira vez só naquele mês em que ele alagava o pequeno escritório que Argus Filch dividia com sua gatinha -, mas ele não se importava: a adrenalina da corrida, escapar por pouco com alguma saída de mestre... Tudo aquilo definitivamente valia a pena.
Desviando de uma setimanista mal-humorada (droga, ela com certeza o deduraria para Filch), ele entrou deslizando para dentro da Biblioteca, parando a poucos centímetros de uma das únicas mesas ocupada no local.
- Sirius?
O garoto parou de olhar para os lados – procurando um esconderijo – e abaixou a cabeça, seguindo a voz de um dos seus melhores amigos.
- Moony! – As íris cinzentas se iluminaram, e ele fitou a garota ao lado do amigo – Monty – o cumprimento fui curto, e ele voltou a olhar ao redor, agoniado com a repentina falta de ideias de sua cabeça arteira.
- Black, seu maldito!!! – A voz do zelador soou perigosamente perto, e ele não teria mais do que um minuto para se esconder.
Xingando baixinho, ele deu a volta e se agachou entre os amigos.
- Vocês não me viram aqui, ok? – ele sussurrou logo antes de se enfiar sob a mesa, sob resmungos dos dois colegas, rastejando até encontrar uma posição em que ficasse completamente escondido. Embora seus olhos fitassem o chão fixamente, todos os outros sentidos estavam apurados. Não que fosse muito fácil ouvir apesar do próprio coração acelerado, mas no momento exato em que encontrou uma posição, os passos incertos do zelador ecoaram pelo cômodo.
- Eu sabia que aquele moleque tinha se escondido aqui! Lupin, onde está o arruaceiro do seu amigo?
- Eu não sei, senhor! – a voz de Remus era firme e certeira, e Sirius se permitiu um risinho silencioso. De todos os marotos, Moony era quem mentia melhor.
Se dependesse do amigo, ele estaria a salvo. A menos que...
Os olhos de Sirius fitaram os sapatos impecavelmente brilhantes de Rebecca, e seu estômago deu um nó. Se Filch perguntasse alguma coisa para ela, ele estava frito.
- Você! – Sirius imaginou que o zelador estivesse apontando para Montgomery – Você detesta o Black quase tanto quanto eu, onde ele está?
Pronto, era isso. Detenção pelo resto dos seus dias.
- Porque eu encobriria ele? – o típico tom desafiador da garota chegou aos seus ouvidos, e ele abriu um sorriso, os ombros imediatamente se relaxando. Levantou o olhar, como se fosse possível ver o rosto dela, mas tudo o que seus olhos alcançaram foi o par de joelhos de Rebecca.
O par de joelhos levemente separados de Rebecca.
O sorriso em seu rosto tomou um contorno travesso quando uma ideia passou pela sua cabeça. Esquecendo-se completamente da presença de Filch no cômodo, Sirius se deixou levar pela curiosidade. Primeiro, apenas girou a cabeça, tentando ter uma visão melhor do espaço entre as pernas da menina. A calcinha branca e lilás estava visível sob a saia do uniforme, mas se ele chegasse um pouco mais perto... Um pouco mais...
No momento em que Rebecca sentiu as bochechas de Sirius tocarem sua perna, ela pulou na cadeira e o chutou, fazendo com que ele batesse a cabeça no tampo da mesa.
- Que barulho foi esse? – ele podia ouvir os passos de Filch se aproximando novamente. Droga!
Rebecca o chutou mais uma vez antes de responder.
- Cólica... Está me matando – até que Rebecca não mentia tão mal, para alguém tão certinho. Ou vai ver era só o conhecido medo que Filch tinha de “assuntos femininos”. De toda forma, os ronronados de Madame Norris ficaram cada vez mais distantes, e Sirius teve certeza de que ele tinha ido embora quando Becca começou a estapeá-lo.
Ele tentou engatinhar para longe, mas não conseguiu se esquivar dos tapas da menina.
- Eu. Não. Acredito. Em. Você! – cada palavra era pontuada com um tapa, que aos poucos evoluíam para soquinhos.
Sirius conseguiu se levantar, e, mesmo tentando desviar da ira dela, ele ria da situação.
- Foi um acidente!
- Você é ridículo, por Merlin! Eu menti por você! E você... ARGH! Eu te odeio!
- Ah, qual é, Becky! Nem foi nada demais! A propósito, Lilás te cai bem.
O rosto dela se contorceu em uma expressão de terror, a imagem da calcinha que ela vestira naquela manhã bem nítida em sua memória, e Sirius sorriu, satisfeito pelo efeito de sua provocação.
- Melhor eu correr antes que o velho caquético volte atrás de mim – ele piscou e a afastou do caminho – Você vem, Moony? – Ele encarou o amigo, as sobrancelhas erguidas. Remus parecia mais confuso que nunca.
Em um piscar de olhos, os dois marotos desapareceram pela porta da biblioteca, deixando para trás uma Rebecca muito corada – tanto de raiva quanto de vergonha.
Em pensar que, até meses atrás, ela lutava contra uma paixonite por ele. Pft. Babaca.
***
- Sirius... Por que você estava falando sobre Lilás com a Rebecca? Não tem nada lilás no uniforme. – Remus concertou a mochila no ombro, encarando o amigo, enquanto caminhavam em direção à torre da Grifinória.
- Tem muito mais coisa pra ver em uma garota que o uniforme, Moony, meu caro – um risinho enigmático pontuou a frase, antes que Black pudesse dizer a senha ao retrato da mulher gorda.
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- Mensagem nº7
Re: Flashbacks
[5º ano. Maio 1976]
Foi no fim do quinto ano. Rebecca acordara no meio da noite e não conseguira mais dormir. Enfiando um livro sob o braço, ela desceu na ponta dos pés até a Sala comunal.
- Você não devia fumar aqui.
Nem mesmo o timbre conhecido foi o suficiente para que Sirius levantasse o olhar. A brasa na ponta do seu cigarro brilhou com mais uma tragada, e ele soltou a fumaça lentamente antes de falar, sua voz soando estranhamente pastosa.
- Agora não, Monty.
Rebecca suspirou e cruzou os braços, encostando a cabeça na moldura da porta por que acabara de passar. Apesar de imersos na penumbra, ela conseguia vê-lo perfeitamente: o corpo inclinado para a frente, os cotovelos apoiados sobre os joelhos e o cabelo longo escondendo o rosto. Mesmo distante, era possível sentir a tensão emanando dele.
- Você está bem? – não era comum para ela demonstrar que se importava com ele, mas era quatro horas da manhã, o lugar estava vazio e ela ouvira todas as fofocas na hora do jantar, de modo que sim, ela estava preocupada com ele e que não, não esconderia aquilo.
Sirius girou levemente a cabeça, fitando-a enquanto ela se aproximava a passos curtos. Suas sobrancelhas se uniam em dúvida, e ele parecia desconfiar da repentina proximidade dela.
- Pode começar a escrever o formulário de detenção, Monty. – com a mão livre, ele alcançou uma garrafa de hidromel na mesinha ao lado do sofá, e a exibiu – Lembre de incluir isso no seu relatório. – gotas da bebida escorreram pelo seu queixo enquanto ele bebia avidamente, direto do gargalo.
- Melhor não abusar da sorte, Black – ela cruzou novamente os braços, encarando com uma expressão severa que desconcertantemente o fazia se lembrar da professora McGonagall.
Sirius espremeu os olhos e limpou a boca na manga da camisa.
- O que você quer?
Um suspiro escapou pelos lábios de Rebecca, e o incômodo presente no rosto dele lhe lembrou o motivo de ter se aproximado. Ela se jogou no sofá, sentando ao seu lado.
- Remus me contou o que aconteceu. Sobre seu tio. – ela ergueu os pés até abraçar os próprios joelhos, e o encarou. Seus olhos já haviam se acostumado com a pouca luz, e a proximidade fez com que ela o enxergasse melhor. Aquilo fez com que seu estômago afundasse. Sirius trazia os olhos fundos e o nariz vermelho de quem havia chorado muito e, sob a luz fraca da lua, ele parecia pálido. A mão que levava o cigarro à boca tremia um pouco. – Eu quero saber como você está.
Sirius não respondeu, dando apenas mais uma longa tragada, seu olhar perdido em algum ponto do carpete. Becca suspirou e alcançou a mão mais próxima, acariciando-a levemente com o polegar.
- Eu lembro de você comentar sobre ele. Imagino que seja difícil.
Ele puxou a mão bruscamente, e virou a garrafa em sua boca mais uma vez.
- Sirius, você não... – ela estendeu a mão em direção ao hidromel, mas ele se fez ouvir antes que ela o alcançasse.
- Vai embora, Rebecca.
A garota piscou algumas vezes, incerta. Pelo que parecia ser a primeira vez em muito tempo, ela estava sem palavras.
Sirius deu mais um gole de sua garrafa. Alphard Black era o seu tio favorito, e em meio a toda a confusão familiar, Tio Alph era o seu porto seguro, quase um modelo a ser seguido. De todos os Blacks, ele era o único adulto com quem ele podia conversar e se aconselhar – uma verdadeira esperança de que ele não precisaria seguir o caminho dos pais ou dos demais tios. Desde que recebera a notícia de sua morte, no fim daquela tarde, ele tinha se esquivado dos amigos, só voltando para a torre da Grifinória tarde naquela noite. E se ele não queria conversar com James, Remus ou Peter, definitivamente não era com Rebecca Montgomery que ele falaria.
- Você não precisa passar por isso sozinho.
Ele a encarou, incrédulo. Quantas vezes precisaria mandá-la embora?
- Eu só quero terminar meu hidromel. Não preciso de ajuda para isso, obrigado.
Ela sacudiu a cabeça, exasperando-se com a teimosia dele.
- Sirius... – as palavras eram escolhidas com cuidado. O que se diz a alguém de luto? – Eu só posso imaginar o que você está sentindo agora. E... não é bebendo ou fumando que você vai se sentir melhor...
- Você ficaria surpresa – ele a interrompeu, secamente, ao que Becca apenas suspirou.
- Eu só queria que você soubesse que pode contar comigo – ela se levantou, abraçando novamente o livro, antes esquecido ao seu lado – se precisar conversar, se distrair... Qualquer coisa. Pode contar comigo.
Eles não eram exatamente amigos, e ele poderia recorrer a qualquer um dos marotos, ou mesmo a Lily ou Dorcas, que lhe eram muito mais próximas, mas Becca sabia que ele havia afastado todos os amigos naquela noite. De uma forma ou de outra, ela se acostumara à presença dele em sua vida, e vê-lo ali, tão destoante do Sirius piadista e irritante de sempre, era alarmante. Se fosse preciso pausar as eternas discussões dos dois para ajudá-lo naquele momento de perda, ela estava disposta a dar o primeiro passo.
Com um aceno de cabeça, ela girou nos calcanhares e sentou na poltrona mais afastada dele. Silenciosamente, abriu o livro sobre o colo e acendeu a ponta da varinha, apenas o suficiente para iluminar as páginas. Sequer tinha terminado o primeiro parágrafo, quando a voz dele – mais rouca e mais pastosa que jamais antes – cortou o ar.
- Ele era meu tio favorito.
As pálpebras se ergueram lentamente, abrindo espaço para que as íris castanhas o mirassem atentamente.
- A única pessoa decente naquela família – Sirius esfregou o dorso da mão na bochecha, e Rebecca imaginou que ele recomeçara a chorar – Eu ia passar o verão com ele – Sirius desviou o rosto, para esconder as lágrimas, e seus olhos esbarraram na garrafa de hidromel, a raiva borbulhando dentro dele. Não era justo.
Quando ele a agarrou e a atirou raivosamente em direção ao nada, Becca se assustou com o barulho de vidro quebrando, mas sua atenção logo se virou para ele. Sirius escondera o rosto nas mãos, e seus ombros se sacudiam violentamente com o choro. Ela atravessou a sala em um pulo, e se sentou seu lado. Ela esticou e encolheu a mão algumas vezes, incerta do que fazer, até finalmente passar o braço por seus ombros e puxá-lo para perto, aninhando-o em seu ombro. O tecido fino de sua camiseta logo se ensopando.
Alguns minutos se passaram, sem que eles quebrassem o contato. A curtos intervalos, Sirius diria algo com a voz rouca e embaçada pelo choro – “Eu nem sabia que ele estava doente” “Não é justo!” “Eu...Eu nem consegui me despedir” – e Rebecca tentaria oferecer algum conforto – às vezes com palavras, outras apenas apertando o abraço, e seria impossível determinar quanto tempo eles passaram assim, até que o silêncio se estabelecesse entre eles, até que as lágrimas de Sirius secassem.
Ele ergueu a cabeça, afastando-a do ombro de Rebecca, e a fitou, as íris cinzentas parecendo mais azuis por causa do choro.
- Obrigada, Monty.
Rebecca sorriu amavelmente e o sacudiu de leve.
- Não tem por que.
Por um segundo, os olhares se cruzaram, e a proximidade entre eles se fez perceber. O sorriso dela se desfez um pouquinho, e o pomo de Adão dele subiu e desceu quando ele engoliu em seco. Ambos fitaram rapidamente os lábios um do outro, e antes que percebessem, as cabeças se inclinavam para a frente, exterminando a distância entre os lábios.
O beijo era quente e úmido, além de intenso. Sirius escorregara a mão até a cintura de Rebecca, mantendo seus corpos próximos; ela deslizara a mão até a nuca dele, puxando levemente a pontinha dos cabelos negros. Tão envolvida que estava prestes a girar o corpo para um encaixe mais confortável, ela só se deu conta do que estava acontecendo quando sentiu o gosto adocicado do hidromel nos lábios dele.
Ela se afastou aos poucos, quebrando o contato entre os lábios, mas foi incapaz de encará-lo. Seu coração batia tão violentamente que ela tinha certeza que ele poderia ouvi-lo, e ela arfava enquanto tentava controlar a respiração descompassada. Ela se sentia culpada não por tê-lo beijado – Merlin, aquilo definitivamente parecia certo -, mas o timing não podia ser pior. Ele acabara de perder uma pessoa querida e passara a última hora desabafando com ela. Rebecca sentia como se tivesse se aproveitado da fragilidade dele, e a quantidade absurda de hidromel que ele bebera era apenas a cereja no topo daquele bolo.
- Merda! – ela estava ensaiando um pedido de desculpas, mas foi o sussurro dele que cortou o ar.
A almofada ao lado de Rebecca se moveu quando ele levantou, e ela arriscou fitá-lo. Ele coçou a nuca, antes de se virar para ela.
- Rebecca...
- Foi um dia longo – ela se levantou, quase que em um pulo, atropelando as palavras. Antes que ele pudesse interrompê-la, ela continuou, abraçada ao próprio corpo – você bebeu bastante, e... Talvez seja melhor descansar um pouco – ela forçou um sorriso fraco, mas logo desviou o olhar novamente – Eu vou fazer o mesmo. Fica bem, Sirius.
Sem dar brecha para que ele falasse algo, ela deu um passo pra trás antes de girar nos próprios calcanhares e subir quase que correndo as escadas que a levariam até o dormitório feminino.
- Por que você está tão avoada?
Rebecca encarou a amiga ao seu lado, demorando para entender a pergunta.
- Eu só... não dormi direito.
- Ok – Acantha deu de ombros, se servindo de uma porção extra de ovos fritos – pelo menos você vai chegar logo em casa, vai poder descansar bastante.
Becca apenas sorriu, e deu uma garfada em seu bolo. Ela até cogitou contar sobre aquela madrugada para Acantha, mas logo desistiu. Se nem ela sabia bem o que tinha acontecido, como ia contar para alguém? (Além disso, James, Peter e Remus estavam sentados perigosamente próximos, e ela só podia imaginar o desastre que seria se eles ouvissem aquilo)
Tudo o que ela sabia era que Sirius e ela tinham se beijado, e nada parecia ser tão certo e tão errado ao mesmo tempo quanto aquele beijo.
As íris castanhas varreram instintivamente o Salão Principal, procurando-o. Demorou pouco até localizá-lo. Um sorriso se abriu no rosto dela, logo se tornando um riso.
- Isso foi a aposta de vocês, né? – Acantha se inclinou, para vê-lo melhor, e Rebecca acenou que sim, entre os risos.
Sirius desfilava pelo corredor entre as mesas piscando e soltando beijinhos para os garotos mais novo da Grifinória, completamente vestido com o uniforme feminino. Um verdadeiro alvoroço de alunos tentando vê-lo melhor se formou, e por todos os cantos cochichos e risadas se faziam ouvir.
- Eu não achei que ele fosse fazer isso... com o lance do tio dele, e tudo...
Becca olhou para a miga e deu de ombros, sem uma resposta boa o suficiente para dar. Ela sabia que Sirius estava arrasado com a morte do tio, e por isso mesmo, também achou que ele não fosse pagar a aposta. Ainda assim, ali estava ele, fazendo gracinhas.
E ela achava aquilo incrível.
Rebecca o seguiu com o olhar, até que ele se sentou junto com os amigos. Antes que ele pudesse cumprimentá-los, Dorcas se aproximou.
- Merlin, por onde você andou?
Sirius virou o corpo para encará-la, e apenas deu de ombro.
- você quase mata todo mundo de preocupação, e aparece vestido Assim?
- É só uma piada, Dor. Eu tô bem.
O rosto da garota se iluminou com um sorriso, e ela sacudiu os cachinhos perfeitamente loiros em negação.
- Você é louco.
E, sem aviso prévio, ela se inclinou para a frente e o beijou, com tanta vontade que algumas meninas mais novas coraram violentamente.
Rebecca, em seu lugar, se apressou para desviar o olhar, sentindo seu estômago afundar. Ela sabia que a noite anterior provavelmente não significaria nada – eles eram Rebecca Montgomery e Sirius Black, afinal de contas – mas não esperava acordar para vê-lo beijar outra menina.
- Eu não sabia que eles estavam juntos – a voz de Acantha chegou aos seus ouvidos.
- Nem eu.
Foi no fim do quinto ano. Rebecca acordara no meio da noite e não conseguira mais dormir. Enfiando um livro sob o braço, ela desceu na ponta dos pés até a Sala comunal.
- Você não devia fumar aqui.
Nem mesmo o timbre conhecido foi o suficiente para que Sirius levantasse o olhar. A brasa na ponta do seu cigarro brilhou com mais uma tragada, e ele soltou a fumaça lentamente antes de falar, sua voz soando estranhamente pastosa.
- Agora não, Monty.
Rebecca suspirou e cruzou os braços, encostando a cabeça na moldura da porta por que acabara de passar. Apesar de imersos na penumbra, ela conseguia vê-lo perfeitamente: o corpo inclinado para a frente, os cotovelos apoiados sobre os joelhos e o cabelo longo escondendo o rosto. Mesmo distante, era possível sentir a tensão emanando dele.
- Você está bem? – não era comum para ela demonstrar que se importava com ele, mas era quatro horas da manhã, o lugar estava vazio e ela ouvira todas as fofocas na hora do jantar, de modo que sim, ela estava preocupada com ele e que não, não esconderia aquilo.
Sirius girou levemente a cabeça, fitando-a enquanto ela se aproximava a passos curtos. Suas sobrancelhas se uniam em dúvida, e ele parecia desconfiar da repentina proximidade dela.
- Pode começar a escrever o formulário de detenção, Monty. – com a mão livre, ele alcançou uma garrafa de hidromel na mesinha ao lado do sofá, e a exibiu – Lembre de incluir isso no seu relatório. – gotas da bebida escorreram pelo seu queixo enquanto ele bebia avidamente, direto do gargalo.
- Melhor não abusar da sorte, Black – ela cruzou novamente os braços, encarando com uma expressão severa que desconcertantemente o fazia se lembrar da professora McGonagall.
Sirius espremeu os olhos e limpou a boca na manga da camisa.
- O que você quer?
Um suspiro escapou pelos lábios de Rebecca, e o incômodo presente no rosto dele lhe lembrou o motivo de ter se aproximado. Ela se jogou no sofá, sentando ao seu lado.
- Remus me contou o que aconteceu. Sobre seu tio. – ela ergueu os pés até abraçar os próprios joelhos, e o encarou. Seus olhos já haviam se acostumado com a pouca luz, e a proximidade fez com que ela o enxergasse melhor. Aquilo fez com que seu estômago afundasse. Sirius trazia os olhos fundos e o nariz vermelho de quem havia chorado muito e, sob a luz fraca da lua, ele parecia pálido. A mão que levava o cigarro à boca tremia um pouco. – Eu quero saber como você está.
Sirius não respondeu, dando apenas mais uma longa tragada, seu olhar perdido em algum ponto do carpete. Becca suspirou e alcançou a mão mais próxima, acariciando-a levemente com o polegar.
- Eu lembro de você comentar sobre ele. Imagino que seja difícil.
Ele puxou a mão bruscamente, e virou a garrafa em sua boca mais uma vez.
- Sirius, você não... – ela estendeu a mão em direção ao hidromel, mas ele se fez ouvir antes que ela o alcançasse.
- Vai embora, Rebecca.
A garota piscou algumas vezes, incerta. Pelo que parecia ser a primeira vez em muito tempo, ela estava sem palavras.
Sirius deu mais um gole de sua garrafa. Alphard Black era o seu tio favorito, e em meio a toda a confusão familiar, Tio Alph era o seu porto seguro, quase um modelo a ser seguido. De todos os Blacks, ele era o único adulto com quem ele podia conversar e se aconselhar – uma verdadeira esperança de que ele não precisaria seguir o caminho dos pais ou dos demais tios. Desde que recebera a notícia de sua morte, no fim daquela tarde, ele tinha se esquivado dos amigos, só voltando para a torre da Grifinória tarde naquela noite. E se ele não queria conversar com James, Remus ou Peter, definitivamente não era com Rebecca Montgomery que ele falaria.
- Você não precisa passar por isso sozinho.
Ele a encarou, incrédulo. Quantas vezes precisaria mandá-la embora?
- Eu só quero terminar meu hidromel. Não preciso de ajuda para isso, obrigado.
Ela sacudiu a cabeça, exasperando-se com a teimosia dele.
- Sirius... – as palavras eram escolhidas com cuidado. O que se diz a alguém de luto? – Eu só posso imaginar o que você está sentindo agora. E... não é bebendo ou fumando que você vai se sentir melhor...
- Você ficaria surpresa – ele a interrompeu, secamente, ao que Becca apenas suspirou.
- Eu só queria que você soubesse que pode contar comigo – ela se levantou, abraçando novamente o livro, antes esquecido ao seu lado – se precisar conversar, se distrair... Qualquer coisa. Pode contar comigo.
Eles não eram exatamente amigos, e ele poderia recorrer a qualquer um dos marotos, ou mesmo a Lily ou Dorcas, que lhe eram muito mais próximas, mas Becca sabia que ele havia afastado todos os amigos naquela noite. De uma forma ou de outra, ela se acostumara à presença dele em sua vida, e vê-lo ali, tão destoante do Sirius piadista e irritante de sempre, era alarmante. Se fosse preciso pausar as eternas discussões dos dois para ajudá-lo naquele momento de perda, ela estava disposta a dar o primeiro passo.
Com um aceno de cabeça, ela girou nos calcanhares e sentou na poltrona mais afastada dele. Silenciosamente, abriu o livro sobre o colo e acendeu a ponta da varinha, apenas o suficiente para iluminar as páginas. Sequer tinha terminado o primeiro parágrafo, quando a voz dele – mais rouca e mais pastosa que jamais antes – cortou o ar.
- Ele era meu tio favorito.
As pálpebras se ergueram lentamente, abrindo espaço para que as íris castanhas o mirassem atentamente.
- A única pessoa decente naquela família – Sirius esfregou o dorso da mão na bochecha, e Rebecca imaginou que ele recomeçara a chorar – Eu ia passar o verão com ele – Sirius desviou o rosto, para esconder as lágrimas, e seus olhos esbarraram na garrafa de hidromel, a raiva borbulhando dentro dele. Não era justo.
Quando ele a agarrou e a atirou raivosamente em direção ao nada, Becca se assustou com o barulho de vidro quebrando, mas sua atenção logo se virou para ele. Sirius escondera o rosto nas mãos, e seus ombros se sacudiam violentamente com o choro. Ela atravessou a sala em um pulo, e se sentou seu lado. Ela esticou e encolheu a mão algumas vezes, incerta do que fazer, até finalmente passar o braço por seus ombros e puxá-lo para perto, aninhando-o em seu ombro. O tecido fino de sua camiseta logo se ensopando.
Alguns minutos se passaram, sem que eles quebrassem o contato. A curtos intervalos, Sirius diria algo com a voz rouca e embaçada pelo choro – “Eu nem sabia que ele estava doente” “Não é justo!” “Eu...Eu nem consegui me despedir” – e Rebecca tentaria oferecer algum conforto – às vezes com palavras, outras apenas apertando o abraço, e seria impossível determinar quanto tempo eles passaram assim, até que o silêncio se estabelecesse entre eles, até que as lágrimas de Sirius secassem.
Ele ergueu a cabeça, afastando-a do ombro de Rebecca, e a fitou, as íris cinzentas parecendo mais azuis por causa do choro.
- Obrigada, Monty.
Rebecca sorriu amavelmente e o sacudiu de leve.
- Não tem por que.
Por um segundo, os olhares se cruzaram, e a proximidade entre eles se fez perceber. O sorriso dela se desfez um pouquinho, e o pomo de Adão dele subiu e desceu quando ele engoliu em seco. Ambos fitaram rapidamente os lábios um do outro, e antes que percebessem, as cabeças se inclinavam para a frente, exterminando a distância entre os lábios.
O beijo era quente e úmido, além de intenso. Sirius escorregara a mão até a cintura de Rebecca, mantendo seus corpos próximos; ela deslizara a mão até a nuca dele, puxando levemente a pontinha dos cabelos negros. Tão envolvida que estava prestes a girar o corpo para um encaixe mais confortável, ela só se deu conta do que estava acontecendo quando sentiu o gosto adocicado do hidromel nos lábios dele.
Ela se afastou aos poucos, quebrando o contato entre os lábios, mas foi incapaz de encará-lo. Seu coração batia tão violentamente que ela tinha certeza que ele poderia ouvi-lo, e ela arfava enquanto tentava controlar a respiração descompassada. Ela se sentia culpada não por tê-lo beijado – Merlin, aquilo definitivamente parecia certo -, mas o timing não podia ser pior. Ele acabara de perder uma pessoa querida e passara a última hora desabafando com ela. Rebecca sentia como se tivesse se aproveitado da fragilidade dele, e a quantidade absurda de hidromel que ele bebera era apenas a cereja no topo daquele bolo.
- Merda! – ela estava ensaiando um pedido de desculpas, mas foi o sussurro dele que cortou o ar.
A almofada ao lado de Rebecca se moveu quando ele levantou, e ela arriscou fitá-lo. Ele coçou a nuca, antes de se virar para ela.
- Rebecca...
- Foi um dia longo – ela se levantou, quase que em um pulo, atropelando as palavras. Antes que ele pudesse interrompê-la, ela continuou, abraçada ao próprio corpo – você bebeu bastante, e... Talvez seja melhor descansar um pouco – ela forçou um sorriso fraco, mas logo desviou o olhar novamente – Eu vou fazer o mesmo. Fica bem, Sirius.
Sem dar brecha para que ele falasse algo, ela deu um passo pra trás antes de girar nos próprios calcanhares e subir quase que correndo as escadas que a levariam até o dormitório feminino.
- Por que você está tão avoada?
Rebecca encarou a amiga ao seu lado, demorando para entender a pergunta.
- Eu só... não dormi direito.
- Ok – Acantha deu de ombros, se servindo de uma porção extra de ovos fritos – pelo menos você vai chegar logo em casa, vai poder descansar bastante.
Becca apenas sorriu, e deu uma garfada em seu bolo. Ela até cogitou contar sobre aquela madrugada para Acantha, mas logo desistiu. Se nem ela sabia bem o que tinha acontecido, como ia contar para alguém? (Além disso, James, Peter e Remus estavam sentados perigosamente próximos, e ela só podia imaginar o desastre que seria se eles ouvissem aquilo)
Tudo o que ela sabia era que Sirius e ela tinham se beijado, e nada parecia ser tão certo e tão errado ao mesmo tempo quanto aquele beijo.
As íris castanhas varreram instintivamente o Salão Principal, procurando-o. Demorou pouco até localizá-lo. Um sorriso se abriu no rosto dela, logo se tornando um riso.
- Isso foi a aposta de vocês, né? – Acantha se inclinou, para vê-lo melhor, e Rebecca acenou que sim, entre os risos.
Sirius desfilava pelo corredor entre as mesas piscando e soltando beijinhos para os garotos mais novo da Grifinória, completamente vestido com o uniforme feminino. Um verdadeiro alvoroço de alunos tentando vê-lo melhor se formou, e por todos os cantos cochichos e risadas se faziam ouvir.
- Eu não achei que ele fosse fazer isso... com o lance do tio dele, e tudo...
Becca olhou para a miga e deu de ombros, sem uma resposta boa o suficiente para dar. Ela sabia que Sirius estava arrasado com a morte do tio, e por isso mesmo, também achou que ele não fosse pagar a aposta. Ainda assim, ali estava ele, fazendo gracinhas.
E ela achava aquilo incrível.
Rebecca o seguiu com o olhar, até que ele se sentou junto com os amigos. Antes que ele pudesse cumprimentá-los, Dorcas se aproximou.
- Merlin, por onde você andou?
Sirius virou o corpo para encará-la, e apenas deu de ombro.
- você quase mata todo mundo de preocupação, e aparece vestido Assim?
- É só uma piada, Dor. Eu tô bem.
O rosto da garota se iluminou com um sorriso, e ela sacudiu os cachinhos perfeitamente loiros em negação.
- Você é louco.
E, sem aviso prévio, ela se inclinou para a frente e o beijou, com tanta vontade que algumas meninas mais novas coraram violentamente.
Rebecca, em seu lugar, se apressou para desviar o olhar, sentindo seu estômago afundar. Ela sabia que a noite anterior provavelmente não significaria nada – eles eram Rebecca Montgomery e Sirius Black, afinal de contas – mas não esperava acordar para vê-lo beijar outra menina.
- Eu não sabia que eles estavam juntos – a voz de Acantha chegou aos seus ouvidos.
- Nem eu.